Capítulo 6 - As engrenagens do destino

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Sidney Luiz Serra acordou naquela manhã de segunda-feira quando o céu já estava claro com suas nuvens tempestuosas. Ele só conseguiu dormir algumas pouquíssimas horas e despertou com seu alarme gritando em seu ouvido. Era dia de semana, ou seja, dia de aula na faculdade.

Era isso, o mundo não pararia porque ele matou alguém no dia anterior.

Ren Amorim estava morto, mas ninguém se importava, não ainda.

"Vai levar mais algumas horas para que relatem o desaparecimento dele", pensou, "Depois que isso acontecer, começarão as buscas...".

— Bom dia, Sid — exclamou sua mãe, Juliet, que estava no fogão fritando ovos e bacon.

— Bom dia, irmãozão! — Isabela exclamou de sua cadeira, os cabelos dourados uma completa bagunça com suas maria-chiquinhas.

— Dia... — Ele se sentou a mesa e sua mãe logo lhe serviu um prato com omelete e bacon, porém seu estômago ainda não estava pronto para uma refeição. — Não tô com fome.

— Você tem que comer, Sid. — Abaixando minimamente o jornal de perto do rosto, David, seu pai, lhe deu um olhar sério de íris verdes brilhantes. — Sua mãe não ficará tranquila se sair dessa casa de barriga vazia.

Juliet acenou em concordância com o marido, então Sidney se forçou a enfiar alguns pedaços de omelete na boca e mastigou sem querer sentir o gosto. Era pior que comer terra e seu estômago logo reclamou, enviando comandos para seu cérebro lhe bombardear com as imagens do dia anterior.

Engolindo em seco, suspirou pesadamente, o que não passou despercebido pelo olhar atento de seu pai.

— Alguma coisa te preocupa, filho? — questionou, passando a mão na barba por fazer.

— Só tô pensando em coisas da faculdade, não é nada demais.

— Parece mais pálido hoje, está se sentindo bem? — dessa vez foi Juliet que questionou, claramente preocupada.

— Não é nada. — Levantando-se da mesa abruptamente, ele tentou parecer tranquilo ao dar de ombros, pegando um copo com água e virando de uma vez. — Vou para a faculdade.

— Irmãozão... — Isabela choramingou quando o loiro não lhe deu atenção, inflando as bochechas de forma infantil.

David anotou mentalmente que o comportamento de seu filho geralmente tolerável parecia agridoce naquele dia, porém tirou por menos, afinal, Sid já tinha vinte e dois anos, estava passando por aquela fase difícil da maturidade.

Entretanto uma ligação em seu celular o tirou de seus pensamentos.

Enquanto ele atendia, Sid se preparava para sair de casa na antessala, todavia ainda ouviu seu pai exclamando:

— Um jovem encontrado na floresta? Já estou indo para aí. O quê? Ele está no hospital? Certo, irei para lá então.

"Um jovem encontrado na floresta", Sidney sentiu sua espinha gelar, porém, pelo tom de voz de seu pai, não se tratava de um cadáver.

— Vem, Sid, eu te levo para a faculdade — falou David ao passar por ele e abrir a porta.

O loiro ainda estava congelado no lugar, como se suas pernas se recusassem a fazer um maldito movimento.

"É o Ren? Impossível, parecia que estavam falando de um garoto normal, não daquela coisa nojenta que eu vi", sua respiração acelerava mais a cada novo pensamento.

— Sid? — seu pai o chamou mais uma vez — Você tem certeza de que está bem? Parece agitado hoje.

— Eu já disse que tô bem — forçou-se a responder, tentando desesperadamente controlar seus batimentos cardíacos.

Talvez seja apenas uma coincidência que encontraram um jovem na floresta naquela manhã, afinal, coincidências existiam, certo?

Mas o destino gostava de pregar peças nas pessoas e o destino de Sidney e seu grupo já havia sido traçado.

Mesmo assim, o Serra ainda foi deixado nos portões da faculdade e, com um longo e pesado suspiro, ele viu seu pai partir, tomando o rumo do hospital da cidade, só Deus sabia o quão agitado estava naquela manhã e não melhorou nada dar apenas alguns passos para dentro do grande complexo de edifícios que compunham sua faculdade e já encontrar Jesse Barbosa parado em frente ao seu armário.

As olheiras profundas no rosto do rapaz eram um claro sinal de que ele também não havia tido uma noite de flores e alegrias.

— Sid — começou o ruivo, porém as palavras morreram em sua boca, como se ele não soubesse exatamente o que dizer.

— Jesse — cumprimentou em resposta, resumindo-se a abrir seu armário e pegar alguns livros, fingindo despreocupação.

Ele não pretendia contar sobre a chamada que seu pai recebeu naquela manhã. Não, Jesse não estava pronto para isso, então Sidney guardaria o segredo por mais um tempo.

— Soube de alguma coisa? — finalmente, tomando coragem, perguntou o amigo.

— Sobre...?

— Sobre o que mais poderia ser? Sobre o Ren, é claro!

— Só se passaram algumas horas, para uma pessoa ser dada como desaparecida precisa passar vinte e quatro horas, no mínimo, pra polícia começar a investigar.

— Acha que a família dele está preocupada?

— O quê? Tu não sabia? — Ele fechou o armário e encarou as esferas marrons do ruivo. — O Ren não tem família, só o avô, mas ele tá numa casa de repouso desde o ano passado.

O semblante de Jesse passou de abatido para completamente entristecido. Ele mordeu o lábio inferior com força ao também fechar seu armário, os livros pendendo dos braços.

Então nem uma família Ren Amorim teria para se preocupar com ele? Isso era triste demais...

— É melhor tu tentar voltar pra tua vida normal, Jesse — disse Sid, já começando a andar para a sala do seu curso — A vida segue para os vivos, lembre-se disso.

— Você não sente nenhum pingo de remorso?

— Eu não perco meu tempo pensando no passado, é só disso que tu precisa saber.

— Mas, Sid...

— O que foi, porra? — esbravejou, os olhos verdejantes cheios de uma fúria reprimida, mas Jesse conseguiu discernir um sentimento diferente neles, bem no fundo:

Pesar. Mesmo que inconscientemente, Sidney estava pesaroso sobre o que havia feito naquele dia.

Assim sendo, o Barbosa se calou, deixando o Serra seguir para seu curso de Educação Física enquanto ele ia para o de Pedagogia.

Ambos tinham que seguir com suas vidas, independentemente da moralidade que possuíam.

Sidney tentou se entreter anotando as coisas que o professor falava, mas sua mente continuava levando-o de volta para as palavras ditas por seu pai ao celular.

Um jovem encontrado na floresta que agora estava no hospital central da cidade. Poderia ser o Ren? Se fosse, então ele estaria com aquela aparência grotesca que Sid viu? "Não, impossível", pensou relutante em aceitar a verdade, "Se alguém tivesse visto aquela coisa, teria fugido na hora".

Mas e se não fosse aquilo? Só poderia ser isso, certo? Outro jovem foi encontrado na floresta, alguém sem qualquer ligação com o Amorim, um desconhecido completo que não tem conexão alguma com Sidney e seu grupo!

Ah, se o futuro fosse tão doce...

Número de palavras: 1.118.

Kill BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora