Capítulo 18 - Quando o predador se torna a presa

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— Mas que caralhos...?! — Matheus chutou a lateral do corrimão enferrujado que rodeava a escada de emergência onde Sidney estava sentado com as mãos apoiadas nos joelhos, as palavras de Jeneth ainda caindo frias entre os jovens.

Então o ser que eles infernizaram por três anos estava indo atrás deles para se vingar?

E agora? O que o grupo faria?

— Você tem certeza de que ele entrou no seu quarto pela janela, Jeneth? — questionou Lina, nervosamente mexendo em seus óculos.

— Sim! Não tinha outra forma pra ele entrar, a porta estava trancada e não é como se ele pudesse entrar na minha casa e passar pela minha abuela sem ser visto!

— Mas você mora no oitavo andar, e outra, o seu prédio tem seguranças.

— Por isso estou dizendo que ele não é mais o Ren que a gente implicava, ele é um monstro!

— Um monstro que nós criamos... — A voz de Jesse surgiu recheada de melancolia. — Isso é carma, nós temos que aceitar.

— Se foder! Nem vem que eu vou ficar parado e esperar esse desgraçado vir me matar! — Matheus se exaustou. — Se ele tá vindo pra brigar, então eu vou brigar também!

— Não ouviu o que a Jeneth falou? — Lina o censurou — Se o Ren consegue subir oito andares sem ser visto, o que acha que você pode fazer para se equiparar a ele?

— Eu sei lá, cacete! Mas não vou ficar de braços cruzados e esperar a morte.

— Matty, vo-você vai me proteger, né? — Jeneth agarrou-se ao braço do namorado, os olhos cheios de lágrimas. Por incrível que parecesse, ela não estava usando maquiagem naquele dia, afinal, as bolsas de insônia embaixo de seus olhos eram visíveis.

— É claro que vou, amor. — Ele a puxou pela cintura, unindo seus corpos num beijo rápido, porém protetor.

Era muito diferente do beijo frio e sem sentimento que Ren lhe havia dado, mas claro que ela escondeu essa parte, afinal, a última coisa que queria era enfurecer Matheus Takakura.

— E aí, Sid, o que vamos fazer? — Finalmente, Lina virou-se para o líder do grupo e o encontrou com o rosto enterrado nas mãos.

Por longos e torturantes segundos, tudo o que o Serra fez foi esfregar o rosto com força, como se tentasse despertar daquele pesadelo. Em seu íntimo, ele sabia que Jesse estava certo: aquilo era o mais puro e genuíno carma que eles mesmos atraíram.

Não havia escapatória além de lutar.

— Pra começo de conversa, vamos evitar ficar sozinhos — começou, lentamente, a voz estava densa — O Cara de Fuinha não vai ser estúpido de nos atacar em grupo, não importa o quão surrealmente forte ele seja agora.

— Mas e quanto nossas vidas? Não podemos estar juntos o tempo todo — Lina rebateu.

— Basta estarmos sempre em ambientes com muita gente. Vamos passar a voltar cedo pra casa e não ficar moscando nas ruas.

— Por quanto tempo vamos ter que fazer essa porra? — Matheus perguntou, estava fumegante de raiva.

— Até que ele desista de nós.

— Acha mesmo que um monstro desistiria de atacar os caras que o perturbaram?

— Então temos que rezar para que ele não seja do tipo persistente...

Suas palavras caíram mortas no meio do grupo, todos engoliram em seco, frustração e raiva se misturando em seus corações, porém também havia medo, um medo tão visceral que parecia querer tomar conta deles.

Então era isso? Eles viveriam o resto de suas vidas com medo de enfrentarem o rapaz que um dia perturbaram? Era esse o castigo escolhido por Deus para aquele bando de jovens com futuros promissores? Não, Deus não tinha nada a ver com aquilo, talvez o Diabo estivesse mais envolvido no processo...

— Qual é, Sid, tu não pode tá falando sério! — Matheus se exaltou. — Vamos lutar! Ele é só um, nós estamos em cinco, podemos vencer aquele Rato de Laboratório!

A verdade era que Sidney Luiz Serra não queria enfrentar o homem que um dia amou. Não, naquele momento, tudo o que ele queria fazer era esperar para encarar o Amorim novamente no dia de sua morte.

— Façam o que quiserem. Apenas estou aconselhando a evitarem lugares isolados.

— Talvez se você pedisse desculpas para ele...

— Não começa, Jesse. — Sid o interrompeu bruscamente com uma careta de poucos amigos. — Não lembra o que ele te falou? Já é tarde demais para pedir perdão.

— É, mas talvez se fosse você as coisas mudariam — continuou insistindo o Barbosa. Com um toque rápido, ele roçou os dedos sobre o lábio inferior, no qual ainda estava o pequeno corpo feito pelo albino — O Ren te odeia mais do que qualquer um de nós, então, quem sabe se...

— Cala a boca, Jesse!

Farto daquilo, Sidney se levantou bruscamente.

— Aonde você vai? Não terminamos de falar. — Lina tentou detê-lo, mas foi em vão, o loiro deu as costas a ela.

— Se uma das meninas for sair de casa, chame um de nós. Evitem lugares isolados, não saiam à noite e essas coisas. — Ele jogou as palavras por cima do ombro enquanto caminhava, mas, então parou e, num tom mais sincero, acrescentou: — Eu vou pensar num plano, prometo.

Com isso, o grupo ficou para trás enquanto Sid vagava para a quadra de futebol. Aquele cenário era ridiculamente caótico para ele, e pensar que poderia simplesmente seguir com sua vida ignorando o albino. HA! Nada era tão fácil, pelo visto, e o seu grupo finalmente pagaria por tudo o que haviam feito para Ren Amorim.

Se ao menos ele tivesse coragem de enfrentar o albino e dizer-lhe tudo o que estava entalado em seu peito, todavia sabia que seria em vão. Nada poderia apaziguar o ódio de Ren, nada além de vingança.

— Fala tu, chefia! — Sheldon o saudou quando ele chegou ao campo de futebol — Nossa, que cara de enterro. Morreu alguém?

— Ainda não — murmurou para si mesmo, mas em seguida abriu um sorriso forçado — Cadê o resto do time? Vamo treinar um pouco, logo teremos um grande jogo contra o time da faculdade rival.

— Pode crer, vou chamar os caras!

Era isso, mesmo com o perigo iminente, Sidney não poderia se dar ao luxo de parar sua vida, pois ela envolvia outras pessoas. Tudo o que lhe restava era que o tempo passasse e, com ele, as cicatrizes no coração de Ren se curassem sozinhas.

Mas é claro que a vida não seria tão fácil.

Número de palavras: 1.069.

Kill BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora