Capítulo 13 - E agora?

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— Aquele era mesmo o Ren ou eu que estou delirando, caralho? — Matheus jogou-se na escadaria de emergência do prédio abandonado, estava suando mesmo naquele dia gélido.

— Será que não era um sósia? — Jeneth questionou, o corpo pequeno tremendo, porém não era de frio — Tipo como acontece nos filmes de aparecer um doppelganger.

— Não seja ridícula, doppelgangers não existem — Lina a censurou com um olhar frio.

— Então como você explica o que acabamos de ver? Só pode ser um sósia do Ren!

— Improvável.

— Que explicação você tem então, senhorita Dona da Razão?

— Eu. Não. Sei! Isso tudo é simplesmente ridículo! Desde o dia em que vimos aquele monstro, tudo parece mais confuso e agora o Ren aparece novamente na nossa frente completamente normal! — Ela tira os óculos para esfregar os olhos como se tivesse caído um cisco neles, porém só estava tentando se certificar de que tudo aquilo era a realidade. — Eu realmente não sei o que fazer...

— Acho que o primeiro passo é nos desculparmos. — A voz de Jesse soou rouca, seus olhos estavam levemente marejados e a ferida em seus lábios parecia pior agora, vermelha como seus cabelos. — Vamos encontrá-lo e pedir perdão por tudo o que lhe fizemos.

— Tá de sacanagem, né? — Sidney basicamente cuspiu as palavras com uma risada amarga, o loiro havia se contentado em ficar em silêncio até aquele momento, porém essa foi demais até para ele — Você perdoaria os desgraçados que te mataram, Jesse?

— O Ren é uma boa pessoa, se formos sinceros, talvez...

— O Sid tá certo — Matheus o cortou com um resmungo irritado — O Ren sempre nos odiou, desde o primeiro dia em que começamos a fazer bullying com ele. Que motivo ele teria para nos perdoar?

O Barbosa se calou com um suspiro pesaroso; já sabia que seus amigos não engoliriam o orgulho para redimir seus pecados, todavia ele era diferente.

— Então façam o que quiserem, pois eu também farei o que quero.

Dizendo isso, ele se afastou do grupo com passos lentos, determinado a pelo menos conseguir o perdão do Amorim, mesmo que isso significasse se separar dos amigos.

Matheus bufou quando ele saiu, irritadíssimo, falando em tom prepotente:

— Eu já sei o que devemos fazer agora. — Todos o encararam como se estivessem surpresos, entretanto ele prosseguiu. — Vamos apenas ignorar o Ren. Quer dizer, sim, nós o matamos, mas de algum jeito ele sobreviveu, então não tem como nos denunciar por assassiná-lo.

Lina parou para pensar naquilo e cruzou os braços, sua expressão sutilmente mais leve do que antes.

— Matheus está certo, mesmo que tenham encontrado um cadáver na floresta, como vimos o Ren vivo hoje, não tem como ter sido o cadáver dele que foi encontrado. Não matamos mais ninguém além do Ren e, se ele está vivo o bastante para vir à faculdade, então deve estar bem.

— Ignorá-lo, é? — Sid tragou um pouco da nicotina de seu cigarro e abriu um sorriso torto. — Soa bem.

Particularmente, ele estava curiosíssimo para saber que merda acontecera para o albino ter sobrevivo e parecer tão bem, porém Matheus tinha um ponto importante: se eles ignorarem o problema, certamente alguma hora suas vidas acabariam voltando ao normal.

"Sem corpo, sem crime", lembrou-se de uma frase que leu em um livro uma vez, "Se o Fuinha está vivo, não temos mais que nos preocupar em sermos presos".

— Ma-mas tudo bem fazer isso? — Jeneth questionou, a voz num sussurro agudo — O Ren não vai querer, tipo, se vingar?

— O Cara de Fuinha? Se vingar? — Sidney deu uma longa gargalhada, seguido por Matheus. — Ele não tem culhões para fazer algo assim, Jeneth.

— Se em todos esses anos em que vinha sofrendo bullying, ele não disse absolutamente nada, não é agora que vai abrir o bico — completou o Garcia, ainda rindo.

Mesmo que a garota parecesse estar prestes a protestar, ele se levantou e passou um braço protetor ao redor de sua cintura magra, puxando-a para um beijo sob os olhares de Sid e Lina — os quais já estavam mais do que acostumados com essas demonstrações de afeto do casal.

— Já sei, amor, vamos pegar um cinema pra esquecer esse Rato de Laboratório — disse o namorado, completamente confiante, e, em seguida, falou só para ela ouvir — E depois podemos dar uma trepada no meu carro, que tal?

Jeneth enrubesceu, mas abriu um sorriso sapeca de menina e aceitou o convite de Matheus.

— Falou pra vocês — despediu-se o Garcia enquanto ele e a namorada andavam grudados um no outro para longe do prédio abandonado.

Sobraram apenas Sidney e Lina no meio dos ventos gélidos. A Oliveira suspirou pesadamente ao ajeitar seus óculos sobre o nariz fino, virando-se para o loiro.

— Você acha mesmo que tudo acabou?

— É claro, porra. — Apagou seu cigarro na escadaria de cimento e levantou-se para sair. — O Fuinha não tem coragem de fazer nada contra nós, isso já ficou mais do que claro, então por que não fingir que ele não existe a partir de agora e viver a vida numa boa?

— Acha que isso vai dar certo?

— Tem que dar — murmurou — Porque não existe mais nenhuma alternativa.

— E quanto ao Jesse?

— Deixa ele pra lá. Ele sempre foi dramático. Provavelmente vai trocar algumas palavras com o Fuinha e se desculpar por todos nós.

— E você? Está realmente bem com isso?

Para esta pergunta, Sidney levou alguns segundos para pensar na resposta, pois estaria mentindo se dissesse que a ideia de ignorar o homem pelo qual ele era apaixonado lhe caíra bem. Não, na verdade, quando o loiro viu Ren novamente algumas horas atrás, tudo o que ele mais queria era correr para abraçá-lo, porém, obviamente, seu orgulho não lhe permitiria fazer tal coisa.

— Eu tô bem, cacete, para de me incomodar e volta pra tua vida.

Por fim, dando as costas à amiga, ele partiu em silêncio para o campo de futebol, pois precisava urgentemente se distrair e não pensar em Ren Amorim.

Lina apoiou a mão contra as têmporas, sua dor de cabeça piorara depois de ver o albino. "Isso é culpa?", questionou-se, porém não quis saber a resposta. Ela faria como Sidney sugeriu e voltaria para sua vida pacífica agora que nada a ameaçaria.

Ela não era mais uma assassina, mas talvez se tornaria uma vítima de assassinato em breve.

Número de palavras: 1.062.

Kill BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora