Capítulo 33 - Me dê tudo o que tem

2 1 0
                                    

— Siga por aquela estrada — instruiu Ren, um segundo antes deles tomarem um caminho cheio de neve.

A pick up chacoalhava levemente conforme passava pelas pedras escorregadias, Jesse não fazia a menor ideia do que estava prestes a acontecer, porém sentia que não podia mais voltar atrás; seu destino foi selado quando ele entrou naquela cafeteria com o Amorim.

Logo ele se deu conta de para onde estavam indo: era perto do despenhadeiro onde Ren Amorim havia "morrido".

O ruivo engoliu em seco, sua garganta estava seca como um deserto, as mãos trêmulas agarravam-se firmemente ao couro do volante. Ele estava a caminho de sua morte? Possivelmente, mas já havia aceitado morbidamente aquele desfecho, pois sabia que era isso o que merecia.

Qual foi a última coisa que disse para sua mãe naquela manhã? Jesse se lembrara de se despedir de seu padrasto? Não que os dois tivessem uma relação muito próxima, mas Antônio sempre tentou ser gentil com ele...

Esse seria seu fim? Ele morreria assim como Lina, Matheus e Jeneth? Era esse o destino que Deus preparara para aqueles jovens? Morrer pelas mãos do rapaz que tanto maltrataram? Parecia até uma piada de um livro de suspense qualquer, mas tratava-se da mais pura e cruel realidade.

— Sobre o que é esse livro que você está lendo? — perguntou o Amorim displicentemente enquanto olhava o livro no banco de trás do carro.

— Ah, é sobre... — Ele deteve suas palavras por um segundo, incerto se deveria ou não falar sobre o monstro da floresta com o próprio monstro da floresta. — É só um livro de contos...

— E que contos seriam esses?

— É sobre uma bruxa que se apaixonou por um homem comum.

— Parece uma história da Disney — o albino riu brevemente até que seus olhos assumiram um padrão de seriedade mortal — É a lenda sobre o monstro da floresta, não é?

Jesse deu uma freada brusca, desviando de um buraco no meio da estrada, seu coração também teve uma freada, mas ele não teve tempo de dizer mais nada para o outro rapaz.

— Chegamos.

Quando se deu conta, Jesse parou o carro sob instruções de Ren; uma cabana de madeira se mostrou em sua frente, parecia tão rústica e antiquada que talvez saíra de um filme norte-americano, mas tinha um certo charme, parecia o lugar ideal para se aproveitar um fim de semana sossegado.

Ou para se ocultar um cadáver.

— Essa é sua casa? — questionou o Barbosa ao tentar normalizar sua respiração, porém parecia ser uma tarefa indiscutivelmente difícil naquele momento.

— Não, é do meu amigo, ele me deixou morar aqui por um tempo já que a polícia está rondando a minha casa. — Ren se desfez do cinto de segurança e abriu a porta do carro, descendo sem cerimônia.

Ainda tremendo dos pés à cabeça, Jesse o copiou, tendo dificuldade para se desfazer de seu cinto, uma batalha que o albino assistiu com grande diversão. Quando finalmente saiu da pick up e puxou para dentro dos pulmões o ar fresco com cheiro de madeira, uma estranha onda de calmaria o inundou e ele encarou Ren como quem diz "e agora?".

— Você sabe o motivo de eu ter te trazido para cá, Jesse?

— Para me matar? — As palavras saíram estranhamente leves dos lábios machucados do Barbosa.

— Não. Apesar de tudo, eu não tenho raiva de você, não a ponto de te matar. — Começando a caminhar, o albino foi em direção à cabana. — Estou aqui para te usar. Afinal, você parecia disposto a conseguir o meu perdão, não é?

Kill BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora