Capítulo 19 - Que se instaure o caos

3 1 0
                                    

Possessividade. A vida de Matheus Takakura se resumia simplesmente a esta palavra.

Ele possuía um carro, mesmo que este vivesse na oficina; ele possuía uma casa, ou melhor, um apartamento minúsculo e mal mobilhado; ele possuía um emprego, um empreguinho de meio período como repositor num supermercado de esquina; ele possuía uma namorada...

Ah, sim, sua namorada, a linda Jeneth Gomez, uma latina de corpo escultural, cabelos tingidos artificialmente de verde e laranja, e lábios rechonchudos que ele adorava beijar.

Essa mesma mulher já pertencera a muitos outros homens antes de cair em suas mãos, o asiático sabia disso, porém, enquanto a observava dormindo ao seu lado no seu colchão inflável no apartamento embolorado que chamava de casa durante as noites de carência do casal, ele não poderia ligar menos para os antecedentes dela.

Jeneth era sua, sua mulher.

Então por que ele estava tão inquieto hoje? Desde o momento em que vira Ren Amorim novamente na faculdade, essa inquietação vinha aumentando gradativamente e só se tornou pior quando soube que o albino havia invadido o quarto de Jeneth no meio da noite.

"Aquele puto...", passando a mão pelos cabelos negros, rangeu os dentes, "Ele fez de propósito... Foi até a Jeneth de propósito pra me irritar".

E era a mais pura verdade, afinal, Ren poderia ter ido atrás de Lina ou Jesse para transmitir seu "recado", mas escolheu a mais vulnerável do grupo.

"Aquele olhar nojento dele sempre esteve na Jeneth", pensou, seu tique labial se manifestando conforme se sentia cada vez mais incomodado.

Muitas vezes, o Takakura flagrou o Amorim olhando sua namorada perfeita, olhos cheios de um sentimento que o asiático repudiava, algo nojento — para ele —, algo asqueroso — para ele —, algo impuro — para ele... E, sempre que se dava conta disso, sua raiva se transformava em uma chuva de socos e chutes que deixavam hematomas dolorosos na pele cor de neve.

Certa vez, quando percebeu que Ren estava realmente olhando para Jeneth com um sorriso labial, Matheus não conseguiu se controlar e lhe deu um chute na boca do estômago que o fez vomitar.

— Para onde está olhando, Rato de Laboratório? — zombou com o rosto completamente distorcido de raiva. — Nunca te ensinaram a não cobiçar o que pertence a outras pessoas?

E, dizendo isso, ele lhe deu mais um chute, pois não houve resposta — porque Ren não conseguia falar, estava ocupado demais gemendo de dor — e depois mais outro e outro, até que Jeneth displicentemente disse estar com fome e o distraiu, pulando em seus braços para beijá-lo.

— Vamos comer alguma coisa, cariño, deixa essa coisa aí.

No dia, o Takakura aceitou, deixando Ren imerso em seu próprio vômito, grunhindo de dor enquanto apalpava o estômago dolorido, porém o que ele não entendeu foi que o olhar e o sorriso do Amorim não eram de cobiça.

Eram de pena.

Mas pena de quem?

VRRR! VRRR!

O celular de Matheus vibrou no chão ao lado do colchão e ele sonolentamente o pegou. Alguém estava lhe enviando fotos no WhatsApp, um número desconhecido. O asiático já estava pronto para bloqueá-lo e voltar a tentar dormir, porém as fotos lhe chamaram a atenção:

Eram todas de Jeneth.

E uma delas era da latina totalmente nua.

Matheus se levantou num pulo, "Não pode ser...!". Ele apressou-se para vestir uma calça qualquer e se enfiou numa jaqueta de couro encraquelada, colocando as botas sem tempo para amarrar os cadarços.

Kill BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora