Capítulo 16 - Ele está aqui

3 1 0
                                    

Cariño, já terminou seu banho? — perguntou a senhora Gomez, vendo a neta sair do banheiro com uma toalha amarrada a cabeça e outra envolvendo o corpo magro e esbelto.

Jeneth lhe retribuiu com um sorriso de dentes frontais separados.

— Já acabei, abuela. Precisa de ajuda pra preparar o jantar?

— Não, pode ir para o seu quarto. Sua mãe chegará tarde hoje, então comeremos sem ela.

De acuerdo.

Deixando a senhora na sala de estar, Jeneth se encaminhou para seu quarto enquanto cantarolava uma música qualquer. Chegando lá, fechou a porta e jogou a toalha que a cobria longe, estremecendo com a brisa fria, preparando-se para vestir seu pijama de flanela rosa.

Finalmente havia parado de sentir aquela angústia avassaladora que a estrangulava desde o dia do acidente de Ren Amorim, pois o vira na faculdade. Ele estava vivo, quem diria? Talvez Matheus estivesse certo e o albino fosse um rato mutante criado em laboratório.

Sim, ela riu com essa possibilidade, lembrando-se das muitas vezes em que se divertiu com os amigos enquanto perturbava o pobre coitado.

Certa vez, Jeneth encontrou as chaves da casa do Amorim enquanto xeretava sua mochila e teve a brilhante ideia de encher uma caixa com tachinhas e jogá-la lá dentro. Ren teve que enfiar a mão na caixa para procurar as chaves. Ah, como ela riu quando ele começou a choramingar de dor pelas tachinhas estarem se fincando em sua pele demasiadamente sensível.

Mas a latina não ficou satisfeita apenas com isso, não, ela precisou ir além.

Quando o albino não conseguiu pegar as chaves, Jeneth repentinamente teve a brilhante ideia de empurrar seu rosto contra a caixa. Ren gritou de surpresa e dor e ela riu pra caralho, principalmente quando ele levantou a face e havia tachinhas em sua boca.

— Foi hilário — riu-se — Até a Lina deu risada!

E pensar que a partir daquele dia ela não poderia mais se divertir às custas do Amorim, que desperdício.

BZZZ! BZZZ!

Seu celular começou a tocar na cabeceira da cama e ela deu uma olhada, afastando-se dos pensamentos cômicos.

Número desconhecido.

— Alô?

— Você fica bem de rosa, Jeneth.

A voz baixa e monótona soou tão fria quanto a noite, fazendo a latina ter um escalafrio.

— Quem é? — Ela parou no meio do quarto, a respiração começando a se desregular. — Se isso é alguma puta piada, não é engraçado!

— Olhe pela janela.

A Gomez engoliu um nó de saliva, totalmente pálida, mas mesmo assim se virou.

Não havia nada na janela.

"Que cojones!", suspirou aliviada, porém outro pensamento a pegou desprevenida, "Espera, eu não havia trancado a janela?".

— Não grite.

Jeneth automaticamente se virou em direção a voz e encarou aquelas íris amarelas e petrificantes, tão mortas quanto no dia em que aquele corpo caiu do despenhadeiro.

Ren Amorim estava em sua frente, vestido totalmente de preto, neve ainda caindo de seus cabelos brancos. Ele afastou o celular do ouvido e displicentemente o guardou no bolso enquanto a latina o encarava com temor crescente.

— Belo quarto.

Aquele era o oitavo andar do prédio de Jeneth.

— Co-como entrou aqui?! — Ela não foi capaz de controlar o tremor em sua voz esganiçada. — Eu vou chamar a polícia!

O albino apenas deixou um pouco de ar escapar pelas narinas e simplesmente sentou-se na cadeira perto da penteadeira, os olhos bem focados no corpo da moça como se pudesse despi-la daquele pijama de flanela com apenas um piscar.

— O que você acha que vai ser mais rápido? A polícia chegar aqui ou eu te matar? — Sua voz soou em um tom de provocação, mas também como se fosse uma piada.

Jeneth nunca havia ouvido Ren fazer uma piada, principalmente uma tão mórbida.

— O-o que você quer?

— Apenas conversar. — Ele apoiou o queixo em uma das mãos, o cotovelo sobre o joelho. — Por quê? Não está feliz em me ver de novo?

Estas loco?! Você invadiu minha casa! Se tentar fazer qualquer coisa, eu vou gritar!

— Pode gritar à vontade, se fosse para te matar, eu já o teria feito.

Novamente, Jeneth engoliu em seco e viu um sorriso perturbador surgir no rosto do albino.

Ele não estava brincando, realmente podia ter matado a garota a qualquer momento, porém decidira poupar-se do esforço, pelo menos por hora, pois precisava dela viva.

— Quero que diga uma coisa para os seus amigos.

Ren fez uma longa pausa enquanto o silêncio se assentava, a latina o encarava cheia de tremores e não era por causa da brisa fria que entrava pela janela escancarada. Não, ela estava tremendo de medo, pois sabia que a qualquer momento poderia ser morta pelas mãos do albino.

Onde estava o Ren Amorim medroso e desastrado que ela adorava importunar? Bem, talvez ele tenha morrido e aquele sósia fosse mais corajoso.

— O que foi, Jeneth, está com medo? — Então, ele se levantou, sua figura magra se precipitando pelo quarto, indo para cima dela em segundos tão rápidos que nem pôde piscar. — Está com medo de mim, Jeneth?

Ela sentiu sua cintura bater contra o beiral da janela, um grito ficou entalado na garganta, os olhos castanhos bem arregalados de temor quando Ren repentinamente segurou seu queixo com uma das mãos, no rosto um sorriso zombeteiro, o mesmo que ela usou com ele em diversos momentos.

— Eu pensei que nós fossemos próximos. Estou triste.

Repentinamente, Ren tocou seus lábios rechonchudos com os dele em um beijo frívolo e sem sentimento algum, apenas um toque fantasma que só serviu para deixar a latina mais aterrorizada.

E, lentamente, o albino desceu a mão contra a pele de seu pescoço, envolvendo-o com os dedos esguios. O aperto começou sútil, mas aos poucos foi ficando cada vez mais difícil de respirar até que Jeneth precisou embrenhar as mãos nas roupas de Ren, sinalizando que estava quase sem ar.

Tudo o que ela conseguia fazer naquele momento era rezar para todas as divindades que conhecia enquanto via o brilho furioso nos olhos amarelos do Amorim.

Aquele seria o dia de sua morte? Ela morreria de pijama com uma toalha na cabeça? Morreria pateticamente pelas mãos do cara que lhe serviu de brinquedo por três anos?

Que patético.

Era assim que Ren se sentia o tempo todo?

Cariño? O jantar está pronto.

A voz de sua avó surgiu para quebrar a imersão. O Amorim repentinamente a libertou e ela caiu no chão, a toalha se desenrolando de seus cabelos e pousando aos seus pés. Jeneth tragou grandes goladas de ar enquanto tentava fazer seu coração se normalizar.

— Diga para seus amigos que irei atrás de cada um deles.

O tom sussurrado de Ren ficou preso em seus ouvidos, até que, um segundo depois, ela estava só no quarto novamente, o vento uivando pela janela.

Lágrimas brotaram dos olhos da latina e ela se encolheu no chão mesmo quando sua avó entrou no quarto. Estava tremendo e aterrorizada, exatamente como um coelhinho na cova do leão.

Era assim que Ren Amorim se sentia todos os dias?

Ela logo saberia a resposta para essa pergunta.

Número de palavras: 1.146.

Kill BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora