Capítulo 23 - Sinceridade

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— Vou deixar o Sheldon encarregado do treino de hoje — disse Sidney para os outros jogadores que o olharam surpresos — Tenho coisas a fazer.

— Mas, chefia, o grande jogo tá quase aí — rebateu Sheldon — Acha mesmo que eu vou conseguir preparar o time?

— Vai sim, você é um bom instrutor. Pelo menos quando não está falando de putaria. — Todos riram enquanto o rapaz fazia uma careta de constrangimento.

Assim como Matheus, Sheldon era um bom amigo de Sid, alguém em quem ele confiava, por isso, quando o time se afastou para começar o aquecimento, o loiro se aproximou do Pires com voz de sussurro.

— Se eu não aparecer essa tarde, avise meu pai, tá bem?

— Quê? Como assim, chefia?

— Apenas faça o que pedi. — O olhar verdejante do loiro estava firme o suficiente para seu amigo entender que a situação poderia ficar perigosa de alguma forma.

— Tá bem, pode deixar comigo.

Os dois trocaram cumprimentos de socos e Sidney partiu para longe do ginásio. Seu objetivo? Encontrar o homem que ele mais fez sofrer nos últimos três anos. Por quê? Para se humilhar e pedir perdão por toda a merda que causou em sua vida.

Sinceramente, Sid sabia que não conseguiria nada com aquilo, porém ao menos pretendia livrar seus amigos de um destino cruel, afinal, foi ele que começou com o bullying, seu grupo só o seguiu, eles eram apenas cúmplices, não mereciam morrer. O Serra estava disposto a se humilhar para que Ren matasse apenas ele e deixasse seus companheiros fora disso.

"Eu vou morrer...?", o pensamento paralisante passou por sua mente e o fez parar de andar. Ele engoliu em seco, não estava pronto para morrer — quem estaria? — e seria muito amargo morrer pelas mãos do homem que um dia amou. Mas quais eram as chances de Ren aceitar perdoá-lo? Elas sequer existiam?

Parando para pensar, Sidney fora um grandessíssimo filho da puta com Ren durante aqueles três anos, seja na vez em que o fez engolir um grilo vivo ou nas inúmeras ocasiões em que o usou de saco de pancadas. Esse era seu jeito de demonstrar que o albino lhe pertencia, só ele poderia marcá-lo, só ele poderia fazê-lo chorar, só ele poderia desfrutar de seu sofrimento.

— Eu sou um escroto... — murmurou enquanto voltava a andar para dentro do complexo de prédios que formavam a faculdade.

E era a mais pura verdade, ele era um escroto, por isso Ren queria matá-lo, então, se sua morte ao menos pudesse salvar seus amigos, Sidney estava disposto a morrer.

Mas ele não morreria silenciosamente.

Ao longe, avistou o vulto monocromático se movendo para fora de um dos prédios. Apertando os punhos, seguiu-o corajosamente, abrindo caminho entre o mar de estudantes. Ele queria evitar ficar sozinho com o albino, porém seu orgulho imensurável o mataria se tivesse que pedir perdão na frente de uma plateia. Então, quando Ren Amorim foi para o pátio nos fundos da faculdade, o loiro o seguiu, sabendo que, naquele horário, haveria poucas pessoas lá.

Porém, quando finalmente saiu da multidão, seus passos se detiveram no gramado cheio de neve que recobria o pátio. Ren não estava ali.

— Procurando alguém, Sidney?

O Serra se virou num pulo, seus sentidos disparando, porém encontrou apenas o rosto indiferente do homem que fez sofrer por tanto tempo, um cigarro em seus lábios e um isqueiro em suas mãos. Não havia nada ali que lembrasse o antigo Ren, sua postura, seus hábitos, nem mesmo suas cores, nada.

Sidney balançou a cabeça para espantar aqueles pensamentos, "Foco!", disse a si mesmo, e voltou-se para o Amorim que displicentemente terminava de acender o cigarro entre os lábios naturalmente avermelhados.

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