Capítulo 20 - Ele é seu amigo?

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— Lina, pode levar essas toalhas para o quarto 203? — questionou Catarina, a enfermeira chefe.

— Claro, senhora Catarina. — a jovem negra pegou as toalhas e colocou-se em marcha para o quarto em questão.

Seu plantão estava quase terminando, logo ela deveria se preparar para ir embora. Foi um dia cansativo no hospital depois das aulas na faculdade e, principalmente, com a ameaça feita por Ren Amorim, a Oliveira sentia os ombros pesados.

Ela não conseguia acreditar em tudo o que vinha acontecendo dentro daqueles cinco dias. As coisas estavam passando tão rápido, a morte de Ren, o corpo encontrado na floresta, o albino voltando a vida milagrosamente, sua ameaça de vingança... Parecia até um filme de terror no qual Lina e seus amigos estavam metidos.

"Que irônico, nunca pensei que fosse sentir medo do Ren", pensou ao finalmente sair do quarto 203 após dar boa noite para a senhorinha que estava repousando lá, "Mas, afinal, o que ele pode fazer de pior? Nos matar?".

Um riso que era a mais pura mistura de nervosismo e sarcasmo estampou o rosto dela enquanto pegava o elevador para descer ao primeiro andar do hospital. Na sua cabeça, o albino não era capaz de machucar nem uma mosca; não, Ren Amorim era uma alma boa demais para sujar as mãos.

Lina se lembrava perfeitamente da vez em que Sidney e Matheus decidiram obrigá-lo a dissecar um rato no laboratório da faculdade. Ele se pôs a chorar em soluços convulsivos enquanto encarava o pobre animalzinho se debatendo na gaiola.

Como aquele Ren seria capaz de machucar outro ser vivo?

Todavia esses pensamentos positivos caíram por terra quando a porta do elevador se abriu e revelou a figura magra do albino no posto das enfermeiras, conversando com Catarina.

— Ora, aí está ela. — A mulher loira lhe deu um sorriso bonito, encarando Lina que mais parecia ter virado uma maldita estátua. — Estávamos falando de você.

A Oliveira encarou Ren por longos segundos torturantes e frios nos quais ela também foi olhada de volta por aquelas íris amarelas e sem vida, diferente do brilho melancólico que os olhos vermelhos dele possuíam antes.

— Ele disse que era seu amigo, Lina — continuou Catarina, totalmente alheia ao crescente horror que se esgueirava pelo rosto da jovem. — Ele disse que veio te acompanhar até sua casa. Acho que tudo bem você sair alguns minutinhos mais cedo, principalmente para ficar com um cavalheiro como este, ahaha.

A enfermeira chefe não entendia o motivo da negra estar ficando tão pálida quanto uma folha de papel, não entendia por que as mãos dela começaram a tremer, não entendia por que seus olhos pareciam buscar desesperadamente uma rota de fuga.

Ninguém entenderia o terror oculto através daquele "cavalheiro", apenas Lina.

E tudo só piorou quando Ren se aproximou dela displicentemente e sussurrou em tom gélido, mas que, para qualquer outro, pareceria amistoso:

— Vou te esperar lá fora, quero conversar com você. Não demore muito.

Quando ele saiu logo em seguida, a Oliveira pensou que fosse desabar no chão, porém uma força misteriosa a manteve consciente. Ela estava suando e tremendo como no dia em que viu aquele monstro no despenhadeiro, seu coração batia ruidosamente no peito. "Tenho que fugir!", era tudo no que conseguia pensar.

— Está tudo bem, Lina? — Catarina perguntou, notando só agora o transtorno da jovem.

Os olhos negros da garota se voltaram para a loira e ela tentou abrir um sorriso simples no rosto ao responder-lhe:

— Estou ótima. — Em seguida, mudou de assunto. — Precisa de alguém para verificar o armazém? Posso ir lá antes de ir embora.

— Não há necessidade, pode se trocar e ir para casa, querida.

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