Capítulo 21 - No meio da noite

2 1 0
                                    

Já passava das três da manhã quando ele chegou à residência dos Barbosa. O pitbull da família, Bob, não deu um pio, pelo contrário, se escondeu em sua casinha, pois seus instintos animais o alertaram que a criatura que havia entrado na casa era inimaginavelmente mais perigoso do que um ser humano comum.

Assim sendo, ele entrou por uma das janelas deixadas abertas, seus passos pareciam não fazer ruído algum conforme andava pelo assoalho lustroso. Seu olfato lhe entregou que havia três indivíduos naquela casa, dois em um dos quartos e outro sozinho, também num quarto, possivelmente. O layout da morada era bem simples: antessala, sala, sala de jantar, cozinha e lavanderia em baixo e três quartos na parte de cima, além de dois banheiros.

Logo ele conseguiu discernir em qual cômodo deveria entrar, abrindo a porta devagar para não alarmar o homem que ali dormir em um sono turbulento.

Ren Amorim se precipitou sobre a figura vulnerável de Jesse Barbosa e o viu franzir o cenho durante seu sono, murmurando coisas ininteligíveis. O albino ficou ali por um, dois, três, quatro, cinco minutos apenas contemplando os belos traços do ruivo: seus cabelos avermelhados que caiam sobre os ombros, a pele sardenta, os cílios plumosos, o queixo quadrado, os lábios machucados devido ao seu tique nervoso...

"Parece delicioso", foi tudo o que Ren conseguiu pensar enquanto lambia os lábios.

Mas ele não estava ali para comer — ao menos não no sentido literal da palavra. Sim, os desejos que despertaram com a ajuda de Marcus agora estavam descontrolados e o albino decidira que não iria mais se conter.

— Jesse — chamou e viu as pálpebras claras se abrirem preguiçosamente.

O ruivo ainda estava muito sonolento para entender o que acontecia ao seu redor, tudo o que ele via era uma figura branca e pura que aos poucos era revelada ao tirar pedaços de roupas negras. Corpo esguio, braços e pernas finos e longos, pele cor de leite, cabelos como flocos de neve, olhos ambares de pupilas dilatadas...

Parecia um anjo, um ser completamente puro, porém até mesmo Lúcifer já foi um anjo.

— Quem é...? — Sua voz saiu grogue, ainda parcialmente entregue ao mundo dos sonhos, a luz parca da Lua não lhe permitia vislumbrar completamente aquela criatura.

Entretanto não havia motivo para se apresentar, afinal Ren mostraria um lado dele que o Barbosa nunca vira antes.

— Você está sonhando, Jesse — sussurrou no meio da escuridão, um sorriso malicioso nos lábios naturalmente avermelhados. — Não precisa saber quem eu sou, não precisa fazer nada, apenas ficar parado.

E, com essas simples palavras, Ren se abaixou contra o ruivo confuso e tomou seus lábios num beijo firme, suas mãos vagando pelos cobertores até arrancá-los e revelar o pijama xadrez que Jesse usava. Logo a língua do albino se empurrou contra os lábios machucados dele e o gosto da saliva foi compartilhado.

Em algum momento, Jesse apenas se contentou em pensar que estava tendo um sonho molhado e deixou as coisas acontecerem como seu visitante queria.

Suas roupas foram tiradas sem muito esforço — a camisa de botões facilitou bastante — e logo aqueles dois corpos começaram a se esfregar como se quisessem submergir no calor um do outro, embora um deles não tivesse calor algum para se apreciar.

O Amorim deixava arfos e gemidos escaparem enquanto beijava Jesse, seu corpo deitado sobre o do ruivo que, envolvido pelo momento, deixou as mãos subirem e agarrarem os glúteos do albino. Com isso, seus sexos despertaram devido à fricção dos corpos, apenas aumentando a quentura do quarto, independentemente se estivesse nevando lá fora.

Então, cansado de amassar seus lábios contra os do mais velho, Ren ergueu-se, acomodando-se sentado contra a pelve do ruivo. Jesse permaneceu olhando aquele ser angelical apanhar seu membro e espalhar o pré-gozo com os dedos, como um lubrificante natural; seus olhos mal conseguiram registrar o momento em que aquele corpo começou a recebê-lo dentro de si, seu interior era tão quente que Jesse pensou que seu pênis fosse derreter.

O Barbosa nunca havia tido relações sexuais antes, principalmente com outro homem, porém, ah, como aquilo o fez se sentir bem! Ter algo quente e macio envolvendo seu pau o estava deixando louco e quando o Amorim começou a mexer os quadris para cima e para baixo, esse prazer só aumentou.

Eles começaram a gemer, Jesse apertou bem os olhos enquanto Ren jogava a cabeça para trás, completamente entregue àquele impulso carnal, porém não o bastante para sucumbir aos seus instintos novamente e fazer o mesmo que fez com Marcus.

Não, Jesse também precisaria sofrer, então, naquele momento, o albino apenas o usaria para se satisfazer.

Todavia... uma mordidinha não faria nenhum mal, certo?

Lambendo os lábios, Ren aumentou o ritmo de seus quadris enquanto cavalgava no pau de Jesse, e sorrateiramente se debruçou sobre o corpo do ruivo, a boca perigosamente próxima do pescoço dele, os cabelos vermelhos fizeram cocegas em seu nariz.

Sua boca se abriu e seus dentes se cravaram na pele sensível, as presas cavando a carne até que o sangue viesse à tona. Foi tudo tão rápido que culminou com o orgasmo dos dois rapazes.

O sêmen de Jesse preencheu Ren, enquanto seu sangue escorria pelo queixo do albino. Era uma cena tão estranha e, ao mesmo tempo, aos olhos do ruivo, tão bela.

Os espasmos de prazer deixaram Jesse absorto o suficiente para não perceber que estava tendo seu sangue sugado por aquela criatura angelical, e logo Ren se deu por satisfeito. Ele queria mais, na verdade, porém ainda não.

Tudo tem seu tempo.

Por fim, agora que estava fraco e sonolento pela perda de sangue e pelo orgasmo, os olhos do ruivo começavam a lentamente se fechar enquanto tentava observar os movimentos do incubus que visitara seu quarto naquela noite fria.

O albino vestiu suas roupas rapidamente, todavia, antes que pudesse ir embora, o Barbosa agarrou seu pulso magro com o resquício de forças que tinha.

— Você vai voltar outra noite...? — Sua voz soou insegura para Ren que, com o mais garboso dos sorrisos, respondeu:

— Quando eu voltar, será para te devorar de outra maneira.

E, desta forma, ele se livrou da mão do ruivo e saiu pela sacada do quarto, saltando para a noite que não lhe importava se era fria ou quente. Sentia-se bem, sentia-se quente e vivo, apesar de seu estômago ainda resmungar pela refeição insatisfatória, "Calma, logo terei um banquete".

Ele deixou Jesse contemplando sua existência mundana antes dos resquícios de consciência o deixarem, tudo o que pôde reter na memória era uma dúvida cruel: o que Ren Amorim era?

Todas as sementes já estavam plantadas, tudo o que faltava era colher seus frutos.

Número de palavras: 1.096.

Kill BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora