Capítulo 22 - Planos mirabolantes

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Sidney encarou os rostos de seus amigos enquanto tragava mais um pouco de nicotina. Matheus e Jeneth haviam rompido, Jesse se tornara determinado a descobrir mais sobre o homem que eles mataram alguns dias atrás, e Lina estava aterrorizada demais para formular qualquer frase decente, contentando-se em se calar após passar sua experiência traumatizante para os companheiros.

Sobretudo, o fato de que Ren dissera a Lina que Sid seria o último a morrer estava incomodando o Serra profundamente.

— O Ren é capaz de matar agora... — disse ele por fim, jogando o cigarro fora, seu olhar era cortante — Então nós precisamos estar prontos pra revidar.

— Você não me ouviu? — Matheus questionou retoricamente, a cara amarrada em uma expressão de raiva contida — Aquele babaca está mais forte, muito mais forte.

— E rápido! — Lina miou baixinho, voltando a nervosamente esfregar as mãos contra a pele do pescoço, como se ainda pudesse sentir a mão do albino ali, apertando sua traqueia.

— Ele não é mais humano — Jesse pontuou, o ruivo parecia reflexivo — Para começo de conversa, temos que descobrir o que ele é... O que é o monstro da floresta? Como ele surgiu? Por quê? Como detê-lo? São essas as coisas em que devemos pensar.

— Sem essa! Não é hora de brincar de Sherlock Homes — Jeneth chiou de forma aguda — Nós temos é que fugir!

— Por que não pede ajuda pra um dos caras que te fuderam? — A voz de Matheus saiu inflamada e cheia de veneno. Ele encarou a ex-namorada como se pudesse estrangulá-la. — É só fazer um boquete neles que eles vão te ouvir.

— Matty, desculpa, eu...

— Cala a boca, porra! Não quero ouvir sua voz irritante!

— Ei, não é hora de uma briga de casal — Jesse tentou interrompê-los, pois Matheus claramente estava pronto para partir para cima da latina — Temos que nos focar no problema real.

— Eu já falei com a minha mãe, pedi para ela me deixar visitar meu pai em São Paulo — Lina murmurou, alheia aos amigos, ela mais parecia estar falando sozinha do que para o grupo — Luiz chiou, mas ela deixou. Se eu sumir por uma semana ou duas, quem sabe o Ren desista de mim, afinal, eu nunca fiz nada de mais pra ele...

— Vocês querem calar a boca?! — Sidney repentinamente alçou a voz que saiu como um trovão em meio às nuvens tempestuosas que compunham o céu daquele dia.

Todos se calaram automaticamente, respeitando a autoridade do líder do grupo. O loiro suspirou, passando as mãos pelos cabelos, ele sabia qual era o tamanho do medo e raiva de seus amigos, e desejaria poder resolver toda aquela situação catastrófica sozinho, porém não podia, tudo saíra do seu controle e, agora, o caos havia sido instaurado.

— Eu vou tentar encarar o Ren — sussurrou para o vento, olhando o céu cinzento — Se eu pedir perdão como o Jesse sugeriu antes, talvez ele nos deixe em paz.

— Não acho que seja tão simples assim, Sid — disse Lina — Ele quer nos ver sofrer, provavelmente um pedido de desculpas não resolverá nada.

— Tenho que tentar, não vejo alternativa.

— E se nós tentarmos matar ele? — A voz de Matheus permeou o ambiente, sendo seguida por longos minutos de silêncio.

O Serra encarou seu melhor amigo e parou por um tempo, pensativo. De fato, se Ren Amorim estava indo para matá-los, o mínimo que deveriam fazer era se preparar para matar ele também, certo?

— Mas como matar um morto-vivo? — Jeneth questionou — E ainda, se ele tá mais forte, não seria inútil tentar matá-lo?

— Eu vou descobrir um jeito de detê-lo — falou Jesse, ele parecia indiscutivelmente determinado.

— O que você vai fazer? Exorcizá-lo? — Matheus riu de forma ardida.

— Quem sabe? Se ele é um monstro, deve ter um jeito de combatê-lo.

— Tá, enquanto você brinca de Scooby Doo, eu vou me preparar pra acertar a cara daquele fodido.

— E quanto a nós? — Jeneth se manifestou, Lina ao seu lado — Eu e a Lina não temos armas e nem força física pra lidar com um monstro!

— Eu vou dar o fora da cidade — disse a negra — Vocês que se virem com aquela coisa.

— Bela amiga você é, hein, Lina?

— Desculpa, Jeneth, mas é tudo o que posso fazer. Não foi você que quase foi afogada num córrego congelante.

— E-então o que eu faço? — A latina estava tremendo de medo, seus olhos se encheram de lágrimas contidas.

— Fica trancada em casa — Sid sugeriu com um suspiro — Janelas, portas, tranque tudo e não deixe ninguém entrar se estiver sozinha. — Em seguida, ele se virou para o Barbosa. — Jesse, tenta descobrir mais sobre o monstro da floresta, quem sabe assim a gente encontre uma forma de fazê-lo voltar ao normal.

— Está bem, mas e você? O que vai fazer? — Jesse perguntou.

— Vou procurar ele na faculdade, é o único lugar seguro com gente o bastante para que ele não tente me matar.

— E vai fazer o que depois disso?

— Pedir perdão por tudo o que fizemos.

— E se seu plano falhar?

— Então partimos pra ideia do Matheus e matamos ele.

Eles fizeram um minuto de silêncio, como se repassassem mentalmente o plano meia-boca que seu líder improvisou. Não era uma situação fácil de lidar e suas opções eram limitadas, afinal, o grupo estava lidando com um não-humano, tudo o que poderiam fazer era rezar para que o pior cenário possível não acontecesse.

E, enquanto eles falavam sobre seus planos, Ren Amorim aguardava com um sorriso labial convencido no rosto, estava encostado do outro lado do galpão que os amigos usavam para suas reuniões.

"Me matar, é?", seu sorriso se abriu mais ainda, mostrando as presas afiadas como as de um lobo, "Que seja".

Assim sendo, ele saiu andando tranquilamente pela neve. Sidney o procuraria para se desculpar, que piada horrível era essa, não? O que o Serra pensava em fazer? Implorar por seu perdão? Seria divertido, mas inútil. O albino não estava disposto a perdoar nenhum daqueles escrotos, e já era hora de colocar sua vingança em andamento.

"Jesse, Matheus, Jeneth ou Lina? Qual será o primeiro?".

Número de palavras: 1.031.

Kill BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora