Capítulo 5 - Despertar

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Como era de costume, assim que os primeiros raios de sol surgiram no horizonte, Erzel Giordani saiu de sua cabana de madeira, bocejando longamente. Prendeu os cabelos longos e castanhos em um costumeiro rabo de cavalo e prosseguiu com seu machado para dentro da floresta.

Ele havia esquecido de estocar lenha no dia anterior para seus artesanatos e agora estava ali se tremendo de frio enquanto buscava alguma árvore fácil de cortar. Viver longe da cidade era tranquilo, mas inconveniente de diversas formas, ainda assim, o moço não trocaria o convívio com a natureza por nada naquele mundo.

O ar gelado encheu seus pulmões e ele permitiu que uma baforada fosse expelida, resultando numa nuvem de calor que rodopiou por seu rosto corado de frio. Porém algo o fez parar sua caminhada sossegada, os olhos cinzentos focando-se no que apareceu em sua frente.

Parecia ser um jovem de uns vinte anos ou talvez dezenove, tinha pele extremamente branca, assim como seus cabelos, que se confundiam com a neve. Ele estava largado no chão frio, mas talvez o mais estranho fosse a cor vermelha pulsante de suas roupas.

Erzel se aproximou rapidamente, temendo ser o primeiro a presenciar um cadáver, porém, para sua surpresa, encontrou o rapaz respirando serenamente, como se só estivesse dormindo.

— Ei, garoto. — O Giordani sacudiu seu ombro delicadamente e viu seus olhos se abrirem lentamente.

Amarelos, íris amarelas e pupilas negras dilatadas.

Ele movimentou a boca algumas vezes, abrindo e fechando, os olhos se reviraram por um segundo e, piscando forte, o rapaz pareceu tentar movimentar seus membros em uma confusa luta contra seu peso.

— Você está bem, garoto? — perguntou Erzel, preocupação escorrendo de seu olhar — Levante-se devagar.

Com cuidado, ele ajudou o jovem a se sentar na neve e lhe entregou seu casaco para ele se aquecer, entretanto foi recusado.

— Não estou com frio. — A voz rouca tremeu no ar, parecia um som perdido no meio dos ventos uivantes.

— Qual é seu nome?

Então o rapaz parou um tempo, como se tentasse se recordar de algo e, por fim, falou, a voz carnal e profunda como se fosse um rugido da própria terra:

— Ren Amorim.

Erzel estranhou o tom misterioso, porém tinha prioridades a seguir.

— Você está ferido? Isso nas suas roupas é sangue?

— É o meu sangue... — respondeu, a voz parecendo perdida agora — Mas estou bem, não sinto dor.

— Como você foi acabar nessa montanha? Estava passeando?

— Não, eu... Urgh! — Ele se curvou, apalpando a cabeça, quando as memórias finalmente lhe chegaram com uma pontada pungente de dor.

Ele se lembrou de tudo.

Infelizmente, tudo.

— Sidney... — Sua garganta produziu o nome como se fosse uma maldição.

— Quem é esse? Seu amigo? — Erzel tentou espantar os pensamentos aleatórios e então finalmente puxou Ren pelo braço para que se colocasse de pé. — Vamos, vou te levar para a cidade, tem um hospital lá.

— Não, eu tenho que ir para a faculdade...

— Pare de falar bobagens, você claramente precisa ir até um hospital! Acionarei a polícia quando estivermos lá, eles devem cuidar de você.

— Qual é seu nome, senhor?

— Erzel Giordani, e não me chame de senhor, tenho só vinte e sete anos. — Riu para o jovem enquanto o amparava.

Ren sentia seu corpo leve como uma pluma, na verdade, ele nunca havia se sentido tão bem. Mesmo que se lembrasse de claramente ter caído do penhasco, não tinha dor, apesar de saber que todo aquele sangue em suas roupas era dele.

— Eu deveria estar morto... — murmurou mais para o vento do que para Erzel.

— O que disse? — questionou o mais velho enquanto o ajudava a entrar em sua caminhonete detonada.

— Eu morri, não é?

Erzel franziu o cenho, mas pensou que ele estava apenas balbuciando coisas incoerentes. Talvez fosse um desses jovens que usavam drogas ilícitas, talvez tivesse se perdido na floresta depois de ficar chapado, talvez o vermelho em suas roupas seja apenas tinta ou fruto de alguma brincadeira inofensiva.

Eram muitas possibilidades e todas estavam erradas.

— Vou te levar para a cidade — disse ao entrar no banco do motorista.

— O monstro da floresta — voltou a balbuciar, Erzel decidiu deixá-lo tagarelar — Ele é de verdade, não é?

— Está falando da lenda idiota sobre quem morre nessa floresta volta como uma espécie de zumbi? — Ele riu alto, uma gargalhada gostosa. — Não seja bobo, essas coisas não acontecem na vida real, só na ficção.

— Mas eu deveria ter morrido... Sidney me matou, eu cai do penhasco.

— Besteira, não tem como isso ser verdade — zombou, tirando por menos — Você só está confuso, provavelmente se acabou de se divertir com seus amigos e então adormeceu na floresta.

— Amigos... — sussurrou, o olhar desviando para a estrada.

Ele ergueu uma das mãos, a pele cor de lírio não estava ardendo como geralmente ardia ao entrar em contato com a luz do sol.

O que estava acontecendo com ele?

Número de palavras: 815.

Kill BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora