Capítulo 8 - Isso não pode ser real

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Quando saiu do hospital, a primeira coisa que Ren notou foi o forte cheiro de chuva e terra molhada que pairava sobre o ar, incomodando seu nariz. Porém, surpreendentemente, sua pele não estava ardendo com a pouca luz do sol que escapava por entre as nuvens pesadas.

Então, num segundo súbito, várias informações lhe chegaram ao mesmo tempo: as vozes das inúmeras pessoas andando de um lado para o outro, os cheiros mais adversos, sejam de comidas ou simplesmente de suor; as luzes e cores fortes que suas retinas registravam mergulharam em seu cérebro e o fizeram se sentir tonto.

O Amorim olhou para cima, para o céu nublado, e aguardou um, dois, três minutos no meio da calçada, completamente estático, até que sentiu uma gota de chuva cair sobre seu nariz e ele finalmente decidiu andar rumo à casa de repouso onde seu avô residia.

As pessoas passavam por ele, ocupadas demais com suas próprias vidas, entretanto Ren estava bem ciente delas, cada uma, independentemente de como aquelas ruas eram movimentadas ou da chuva que caía com cada vez mais força — por alguma razão, ela não o incomodava, na verdade, era revitalizante. Por algum motivo, o rapaz sabia dizer quantas pessoas estavam ao seu redor, quais eram crianças, mulheres, homens ou idosos, quais usavam perfume, quais estavam irritadas com o mau clima ou quantas cheiravam maravilhosamente bem.

Sim, maravilhosamente bem.

— Cuidado, Lucas!

A atenção de Ren foi para uma mãe e seu filho pequeno, o menino estava correndo pelas ruas e de repente caiu de joelhos no asfalto liso pela neve. Era apenas uma cena cotidiana, uma criança chorando por ter se machucado, todavia o Amorim prestou uma atenção anormal em tal cena, principalmente ao ver uma trilha vermelha escorrer de um corte no joelho do garotinho.

Ele sentiu aquele cheiro maravilhoso novamente enquanto a criança chorava no colo da mãe.

Com o tempo os dois saíram andando para retomar suas vidas, porém o albino se manteve parado, sua respiração estava animalesca, ruindo dentro do peito, o coração acelerado parecia a ponto de escapar de seu peito; mas o mais estranho sem sombra de dúvida foi o ronco alto que seu estômago emitiu.

Ele estava com fome? Mas não havia comido aquele misto quente sem gosto alguns minutos atrás?

"Não importa", pensou, chacoalhando a cabeça para tentar se acalmar, "Vou apenas visitar meu avô e ir para casa por hoje".

Quando voltou a andar, sua respiração continuava irregular, porém isso não parecia atrapalhá-lo. Aos poucos, foi se acalmando até voltar ao normal assim que chegou à casa de repouso completamente encharcado, sendo saudado pelo cheiro de álcool e desinfetante, um cheiro tão forte que fez seu estômago se embrulhar.

— Ah, Ren! — A moça da recepção o viu entrar, abrindo um sorriso amigável. — Você está ensopado! Não deveria estar na faculdade há essa hora?

Afastando qualquer pensamento sobre seus sentidos que estavam apuradíssimos naquele dia, o rapaz tentou mostrar uma face simples e calma para a atendente enquanto afastava uma mecha molhada de cabelo branco do rosto.

— Estava próximo daqui e decidi vir visitar meu avô.

— Ele vai adorar, tenho certeza. Quer que eu chame uma enfermeira para te acompanhar ou você prefere ir sozinho?

— Vou sozinho, obrigado.

Então ele seguiu, cruzando a sala de espera e caminhando calmamente pelos corredores. Para qualquer direção em que olhasse, apenas se via o branco dos azulejos e paredes impecavelmente limpos — até as luzes reluziam numa alvura sem fim. Ren passou pela sala de estar onde os idosos se reuniam e seus sentidos lhe entregaram o número exato de pessoas presentes ali, "Quatorze", contando os velhinhos e as enfermeiras.

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