Capítulo 12 - Aquela coisa

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Quatro dias se passaram desde a morte de Ren Amorim e, até aquele momento, ninguém havia sugerido um pedido de busca.

Sidney não tinha coragem de interrogar seu pai para saber qual era a identidade do rapaz encontrado na floresta, porém a culpa e o remorso não deixavam seus ombros mais leves. Cada dia era uma eternidade, ele tinha que fingir estar bem quando na verdade só queria que tudo voltasse a como era antes, quando o albino ainda estava vivo e era seu brinquedinho particular.

Sid passou os quatro dias se devotando à faculdade e à equipe de futebol; recusou quaisquer convites de amigos distantes para sair e festejar, pois não estava no clima. Todavia continuou se encontrando com aqueles quatro que insistiam em segui-lo, mas não os culpava, pois sabia qual era o tipo de dor que eles estavam sentindo.

— Antes de encerrar a aula, tenho um anúncio a fazer — disse o professor em cima de seu pódio, os cabelos grisalhos bem aparados e um olhar afiado por trás de seus óculos. Sidney estava arrumando seus materiais dentro da bolsa, porém as palavras do velho o capturaram — Aparentemente, os restos mortais de um jovem foram encontrados na floresta. As investigações continuam, porém ainda não identificaram o corpo, por isso foi emitido um alerta para evitarem áreas pouco movimentadas e tentarem regressar cedo para suas casas.

O Serra gelou dos pés a cabeça, sentindo o estômago embrulhar. De repente, era como se ele estivesse de volta no penhasco, olhando o cadáver de Ren no meio da neve. Sua respiração se desregularizou e ele começou a arfar.

Assim que o professor dispensou todos, o loiro saiu às pressas da sala, empurrando quaisquer transeuntes que estivessem em seu caminho, seus passos vacilavam, parecia até que seus joelhos eram feitos de gelatina. A respiração ficou presa na garganta quando ele saiu do prédio do seu departamento e deu de encontro com seus amigos que pareciam igualmente aterrorizados.

— Você ouviu sobre o cadáver encontrado na floresta? — Matheus foi o primeiro a disparar, estava suando frio, os cabelos aderindo à pele amarela e aquele seu tique nervoso parecia mais descontrolado do que o normal.

— Todos os professores avisaram sobre isso — Lina o respondeu, visivelmente nervosa — Será que é...?

Ela não ousou terminar, não conseguiu. Todos engoliram em seco, engolindo também suas perguntas.

Um corpo havia sido encontrado na floresta. Quem mais poderia ser senão o pobre infeliz que eles mataram? Agora era questão de tempo até que a polícia fosse atrás deles, pois certamente encontrariam provas que os incriminassem, certo?

Jeneth chorava baixinho agarrada ao braço do namorado, Matheus esfregava as mãos no rosto na tentativa falha de parar seu tique, Lina mexia nervosamente em seus óculos, Jesse mordia fortemente o lábio inferior e, por fim, Sidney passava as mãos pelos cabelos, o olhar completamente perdido.

Porém não tão perdido ao ponto de não ver aquela coisa se aproximar.

Ele foi o primeiro do grupo a notá-lo no meio da multidão; suéter, calças, sobretudo e botas, tudo em cor preta, destacando ainda mais a brancura de sua pele e de seus cabelos. Nos lábios, um cigarro, no olhar, uma promessa de calamidade.

— Nem fodendo... — Sidney balbuciou, os olhos verdes enquadrando aquilo.

— O que foi, Sid? — Matheus perguntou e só então o grupo se virou para ver qual era o ponto focal do amigo.

Todos prenderam a respiração: era ele, era Ren Amorim.

Com passos calmos, o albino simplesmente cruzou o portão principal da faculdade e foi andando tranquilamente sem olhar para nada ou ninguém enquanto fumava. Isso até chegar à entrada do prédio onde Sidney e seu grupo estavam.

Ele parou de andar, agora que o viam de perto, Ren parecia mais pálido — se é que isso era possível —, porém aqueles olhos amarelos não perderam o jeito mortiço. O grupo estava a cinco metros dele, todavia conseguiam sentir o cheiro forte de sua colônia e do cigarro mentolado. Por longos minutos, os seis apenas se mantiveram calados, Sid em especial estava esperando o barulho de seu despertador tocar e acordá-lo daquele pesadelo, mas isso não aconteceu.

Aquilo não era um pesadelo comum do qual se pode acordar de repente e suspirar de alívio.

— Re-Ren...? — Jesse foi o primeiro corajoso a abrir a boca e foi secado por um olhar que parecia querer devorá-lo inteiro.

O ruivo engoliu um nó de saliva e voltou a se calar.

Aquele era mesmo o Ren Amorim que ele conhecia?

Para essa pergunta, não houve resposta, pois tudo o que o albino fez foi continuar seus passos, desviando do grupo que o havia atormentado nos últimos três anos — que o havia matado há quatro dias! Ele prosseguiu para dentro do edifício da faculdade, jogando fora sua bituca de cigarro com uma baforada de fumaça logo em seguida.

Desde quando Ren fumava? Desde quando ele conseguia andar por aí sem seu maldito guarda-chuva? Desde quanto parecia tão confiante?

— Isso não pode ser real... — Lina sussurrou, as mãos tampando a boca para reprimir um soluço.

Mas aquilo era muito real e só iria pior dali em diante.

Número de palavras: 844.

Kill BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora