Capítulo 7 - O que eu sou?

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Sentado na maca, ele olhava para o completo nada, para a parede branca da sala hospitalar, contando quantas marcas de infiltração havia nela enquanto os adultos discutiam entre si.

Erzel estava dando seu depoimento para a polícia, explicando que o encontrou por acaso e que não sabia nada sobre ele.

Tudo parecia tão desconexo para Ren Amorim, era como se sua consciência estivesse flutuando, voltando para o despenhadeiro, para o lugar onde ele deveria ter morrido. Olhando para suas mãos tão brancas quanto os lençóis da maca, o rapaz perguntou-se se realmente estava vivo e não em um limbo eterno.

"Isso não faz sentido, o Sidney me matou, eu deveria estar morto", fechando os punhos com força, lembrou-se da surpresa que o atordoou quando o grande Sidney Luiz Serra o empurrou com brutalidade, seu pé escorregou e, quando deu por si, estava caindo em direção às pedras pontiagudas.

O primeiro impacto que recebeu no ombro doeu como uma ferroada mortal, mas, depois de um golpe na cabeça, ele não conseguia se lembrar de mais nenhuma dor.

Ele realmente morreu?

— Senhor Amorim — um dos médicos o chamou, ao lado dele estava um policial com sua farda pesada, os olhos verdes lhe lembravam alguém, mas quem? — Este é o sargento Serra, ele irá lhe fazer algumas perguntas.

"Sargento Serra?", sem perceber, Ren levou o olhar para o policial, fitando-o ceticamente, "Não pode ser...".

— Olá, como está se sentindo? — perguntou em um tom calmo que não combinava com sua aparência intimidadora — Erzel me informou que encontrou você no meio da floresta. Pode me dizer o que estava fazendo lá?

Então houve um longo momento de silêncio em que Ren apenas ficou encarando fixamente o policial, sem mexer um único músculo, somente piscando e respirando. Intimamente, mil e uma coisas passavam pela mente do albino, entre elas, a possível ligação entre o homem em sua frente com o homem que o matou.

Se o sargento Serra tinha algum parentesco com Sidney, Ren não abriria a boca, pois ainda não estava completamente inteirado de sua situação. Tudo o que ele sabia era que Sid o havia matado, que havia morrido ao cair do despenhadeiro, e o sangue em suas roupas atestava aquilo, porém então vinha a pergunta: por que ele estava ali, vivo?

— Senhor Amorim? — o sargento tentou mais uma vez chamá-lo, quebrando o silêncio — Talvez você ainda esteja em choque devido a algum acontecimento que o levou até a floresta?

Em seguida, ele se virou para o médico logo ao lado e perguntou:

— Não houve nada de anormal nos exames dele? Talvez alguma substância suspeita?

— Não, senhor, os exames não mostraram nada. Na verdade, ele está com a saúde excelente.

Voltando-se para o jovem, o sargento David Serra tentou uma abordagem diferente.

— Está com fome? Que tal comermos algo na cafeteria do hospital?

Ainda relutante em abrir a boca, Ren apenas decidiu acenar, pois não se lembrava da sua última refeição. Sendo assim, ele se levantou da maca e seguiu o sargento sala a fora, estava usando as roupas que o hospital lhe emprestara — uma camiseta e uma calça —, roupas tão brancas que o faziam parecer uma assombração ou apenas um borrão branco perambulando por aí.

Quando chegaram à cafeteria, o ambiente estava tranquilo com algumas mesas ocupadas por pacientes ou visitantes; eles escolheram uma mesa perto da janela e Ren pôde dar uma olhada na paisagem de sua cidade. O branco da neve se confundia com o cinza dos prédios, lençóis brancos se estendiam pelas superfícies que conseguiam e o céu estava empedrado, uma genuína promessa de tempestade.

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