Capítulo 27 - Você acredita em lendas?

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— Francamente, Erzel, como você consegue viver nesse barraco?

O sargento David Serra terminou de pegar seu cigarro, colocando-o entre os lábios enquanto a figura andrógena ao seu lado ria da careta azeda dele.

Estava nevando lá fora e as fendas entre as taboas de madeira que compunham a casa do Giordani deixavam o vento frio entrar. Os três cobertores que rodeavam os corpos daqueles dois homens não pareciam ser suficientes para espantar o clima gélido, ainda que eles tenham tido um momento bem quente há alguns minutos.

Por que David sempre voltava para entre as pernas daquele protótipo de artista audacioso? Talvez porque, quando se prova a fruta do paraíso, é difícil não se viciar.

A verdade era que o sargento estava com a cabeça cheia devido aos últimos casos de assassinato — ao menos quanto ao garoto encontrado morto perto da cabana de Erzel, pois o caso da família Oliveira foi dado simplesmente como um acidente infeliz. Porém o loiro sabia muito bem que não era acidente algum; alguém orquestrou aquilo e, pelas provas conseguidas pela equipe forense, as marcas de mordida encontradas no corpo de Lina Oliveira coincidiam com as do corpo encontrado alguns dias atrás.

— Você parece cansado, Davi. — A voz doce como mel serpenteou pelos ouvidos de David, uma promessa carnal e suculenta demais para se ignorar. Erzel pegou o cigarro de seus lábios e, cantarolando, brincou: — Fumar faz mal, apodrece os ossos.

— Poupe-me de sermões, não é você que está tendo que lidar com um serial killer metido a master chef.

— E para extravasar você prefere usar a nicotina? — Em seguida, ele adicionou num tom perigosamente sensual: — Ou prefere meu corpo?

Dizendo isso, ele enlaçou os braços ao redor do pescoço do Serra e o puxou para um beijo quente e maravilhoso. Suas línguas derreteram uma contra a outra enquanto David tateava a cabeceira de madeira da cama para procurar o pacote de camisinhas que havia levado — ele sempre levava mais de uma, afinal, o apetite sexual do Giordani era algo quase de conhecimento público.

Mesmo que sua cabeça estivesse tempestuosa, o loiro ainda se deixou entregar para o deleite daquele corpo esbelto e jovem, arremetendo para dentro dele como um desvairado. Cada gemido de Erzel era como um bálsamo para seus ouvidos, era diferente de transar com sua esposa Juliet, o mais jovem parecia sempre deliciosamente apertado e quente, pronto para ser fodido debaixo do corpo do Serra.

Mas aquele momento de prazer não poderia vir a público — imagina só, que escândalo seria se um policial estivesse traindo sua esposa para ficar com um maluco obcecado por arte? Ainda assim, eles continuavam se encontrando as escondidas para foder como dois animais.

Depois David se arrependeria e compraria flores para Juliet ou levaria a família toda para um jantar num restaurante chique, algo que demonstrasse como ele era um marido e pai excelente. Todavia, enquanto estivesse entre as pernas de Erzel, ele seria apenas um animal entregue aos seus desejos.

— Aqui, beba isso, vai te esquentar. — O mais novo lhe estendeu uma caneca com café com leite, voltando a se deitar ao seu lado com a cabeça contra seu peitoral. — Ou prefere me usar para se esquentar de novo?

— Você não cansa, não?

— Eu posso te fazer a mesma pergunta, afinal, quem foi que chegou desesperado por uma foda no meio da noite?

— O dia foi cansativo, eu precisava disso.

— Claro, amore mio. — Deu de ombros, ajeitando-se nos cobertores macios.

David deixou um longo e pesado suspiro escapar pela boca enquanto bebia o café de uma vez, ele estava postergando o assunto real que o levara até a cabana de Erzel naquela noite, repassando mentalmente as frases mergulhadas em desespero de Jeneth Gomez.

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