Capítulo 17 - Foda-se

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Quando Ren matou Marcus, ele não sentiu nada, apenas o sabor incrível de sua carne derretendo na boca enquanto se banqueteava.

Remorso, culpa, nojo: nada, ele não sentiu absolutamente nada.

Bem, na verdade, Ren Amorim sentiu algo: fome, uma fome insaciável por mais, mesmo tendo devorado um bom bocado de seu melhor amigo. Essa fome incessante o deixou entorpecido, ele precisava de mais estímulo, sentir novamente o calor de outro ser vivo em seu corpo que agora não era mais capaz de produzir calor próprio.

"O que eu me tornei?", para essa pergunta, existia uma gama de respostas, porém ele se contentou com a mais simples delas: "Foda-se".

Depois que terminou sua "refeição", o albino juntou os restos mortais de Marcus Jose de Andrade e o carregou até a floresta, afinal, o monstro da floresta sempre deixava suas vítimas lá. Pareceu simplesmente natural retornar àquele lugar infestado de neve; ele passou pelo despenhadeiro que marcou sua morte e viu que o manto branco já havia coberto quaisquer índices de que um dia alguém morreu ali.

Resolveu deixar o cadáver de Marcus um pouco mais longe de onde ele despertara, mesmo sabendo que isso traria problemas para Erzel; no fundo, Ren não se importava com mais nada.

Agora ele era um assassino também.

"Foda-se", sorriu enquanto o vento gelado da noite acariciava sua pele, logo a neve encobriria o corpo de seu melhor amigo, mas provavelmente não demoraria muito para relatarem seu sumiço. De qualquer forma, ninguém sabia que Marcus havia ido visitá-lo naquela tarde e, ao julgar pelos uivos famintos que ressoavam ao longe, provavelmente seria difícil identificá-lo após os lobos fazerem seu trabalho.

E agora? O que ele faria?

A resposta era bem simples: ir à faculdade, estudar para as provas do semestre e...

— Sidney. — Seus lábios desenharam o nome do homem que ele odiava, suas pupilas se retraindo instintivamente. — Eu quero matá-lo.

Todos os três anos de sofrimento apenas alavancaram sua raiva. Vingança, sim, ele queria vingança contra aquele homem maldito que fizera de sua vida universitária um inferno, mas apenas uma vingançinha qualquer não seria suficiente.

— Eu vou devorá-lo. — Um sorriso dentado se fez presente em seu rosto. — Cada um deles, Jesse, Lina, Jeneth, Matheus e Sidney. Vou comê-los enquanto ainda estiverem vivos.

Aonde fora sua moralidade? Seus princípios? Sua ética?

"Foda-se".

Monstros não têm essas coisas, não precisam dessas coisas. Monstros só precisam de uma leve chama, algo insignificante, mas que logo se torna um incêndio sem precedentes, um incêndio que consumirá tudo o que eles odeiam. E Ren faria esse incêndio acontecer, ele queimaria aqueles desgraçados que o atazanaram um por um e se banquetearia com seus corpos depois de fazê-los sofrerem.

Pensar em como seria o gosto daqueles imbecis, seus gritos, suas súplicas, tudo isso estava começando a deixar Ren excitado, porém ele sabia que deveria se acalmar. Os melhores pratos só podem ser desfrutados após um bom tempo de preparo, certo?

Olhando uma última vez para o cadáver de seu melhor amigo, o albino se afastou lentamente. Não derramou uma única lágrima, pois não se via nesse direito.

Agora ele era um monstro e fim de papo.

Então, Ren saltou para o topo de uma árvore, o movimento era tão natural que beirava a irrealidade. Ele nunca foi atlético, mas agora se sentia bem apenas movimentando-se pela floresta, como uma besta.

"O monstro da floresta é real", pensou, sorrindo, um sorriso cheio de perversidade, "E eu sou esse monstro".

Os ventos gélidos passavam por ele como lâminas, porém nada podia ferir sua pele, que mais parecia ter se tornado uma couraça resistente, seus olhos vagavam pela escuridão da noite como se fosse de dia e seus sentidos apuradíssimos lhe entregavam todas as informações possíveis.

Ele se sentia extremamente bem, tanto que começou a rir como um maníaco. O que seu avô pensaria dele se o visse nessa situação? Seus pais estariam decepcionados com o que o filho se tornara? O olhar de espanto e desamparo de Marcus no momento em que compreendeu que aquele não era mais seu melhor amigo... Todas essas coisas, elas importavam para Ren Amorim agora?

— Foda-se.

Não, não importavam.

Tudo o que lhe importava naquele momento era sua vingança, que seria servida em pratos frios, mas loucamente saborosos.

Número de palavras: 695.

Kill BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora