Capítulo 34 - O banquete

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Jesse estava desaparecido, assim como Matheus e Jeneth. Encontraram a pick up da família Barbosa caída entre as árvores da encosta rochosa que conduzia ao despenhadeiro onde todo o pesadelo começou, porém não havia marcas ao redor por conta da nevasca da noite anterior, mas os poucos indícios de sangue deixados nos bancos de couro do automóvel mostraram se tratar do ruivo.

Os Oliveira se mudaram para São Paulo, pai e filho, sozinhos, mesmo que Luiz relutasse tanto em deixar os túmulos de sua amada mãe e irmã para trás naquela cidadezinha do interior. A família Barbosa estava desesperada, batiam à porta da delegacia todo santo dia pedindo para que procurassem seu amado filho mais uma vez. Das Gomez não restara nem ao menos um animal de estimação para lamentar o desaparecimento de Jeneth, pois a avó e a mãe foram enterradas alguns dias atrás. E quanto à família Takakura? Bem, eles nunca deram muita importância para o filho rebelde que fugiu de casa aos dezessete anos e nunca deu sinais de vida, então, mesmo que seu corpo fosse encontrado, Matheus seria tratado como um indigente.

O sargento David Serra continuava desaparecido, sua esposa não saía mais do quarto, imersa numa depressão profunda, recusando-se até mesmo a dar atenção à filha caçula, Isabela.

Toda a cidade estava um caos, boatos de que um serial killer residia à espreita pelos cantos escuros da noite faziam com que todos se apressassem em voltar para suas casas o mais cedo possível. E ninguém em hipótese alguma pensava em colocar um pé naquela maldita floresta amaldiçoada.

Sendo assim, por que Sidney Luiz Serra estava lá?

Porque não lhe restou mais nada além da culpa que apunhalava seu estômago como estacas. Ele já estava cansado daquilo, de toda aquela vingança e ódio dirigidos aos seus amigos, seus cúmplices, mas agora não havia mais volta atrás. Sid sabia: eles não estavam desaparecidos, estavam mortos.

E agora, finalmente, havia chegado sua vez.

— A vista é boa daí?

A voz permeada de deboche chegou aos ouvidos do loiro e ele não fez cerimônia em se virar lentamente, encarando Ren Amorim em seus trajes pretos e fúnebres que pareciam torná-lo ainda mais branco, com destaque para os olhos carmim brilhantes.

— Acabe logo com isso de uma vez. — Suspirou, a voz embargada, todavia sem tensão, apenas tristeza e amargura.

— Para que a pressa? Eu preparei um jantar maravilhoso para desfrutarmos juntos. — Em seguida, com um sorriso dissimulado, o albino acrescentou pungentemente: — Não é isso o que você sempre quis? Um encontro a sós, só você e eu?

Depois disso, Ren saiu andando tranquilamente, pois sabia que Sidney o seguiria como um cão obediente que acabou de ser amordaçado. Sim, agora Sid não passava de um cachorro manso, fora adestrado duramente pelas perdas e, naquele momento, não via como ir contra a vontade de seu dono, que o mantinha preso firmemente a uma corrente de aço inoxidável.

Eles não demoraram muito para chegar a uma clareira onde estava disposta uma mesa ovalada com seis cadeiras, tudo era feito de madeira, um entalhe caprichoso que provavelmente fora obra de um artista meticuloso que se empenhou em fazer até entalhes na moldura das cadeiras.

O dia estava claro, então a neve não se acumulara sobre a mesa, e o vento leve indicava o fim do inverno, aquele inverno tão desgraçado que fez Sidney perder tudo o que ele mais adorava, com exceção de uma única coisa que, agora, indicava-lhe a cadeira da ponta, com uma pitada de desafio no olhar.

O silêncio era digno de sepulcro, nem ao menos uma mosca ousava zumbir por ali, mas só quando o loiro se sentou à mesa é que se deu conta do estranho cheiro que pairava pelo ar. Parecia ferrugem, algo forte, mas difícil de discernir ao mesmo tempo.

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