Na luminosa tarde de junho, Águas Belas jamais parecera tão bonita. Para Júlio era a propriedade mais formosa de toda a capital.
Parou o carro à beira da estrada e desceu. A brisa suave acariciava seus longos cabelos cor de cobre. Apoiou-se no muro e ficou observando a vegetação exuberante defronte à casa.
Tudo parecia estranhamente calmo, até deserto, mas ele sabia que a tranqüilidade aparente era só uma fachada. No interior da casa, deveria haver um tumulto de atividades en- quanto sua mãe e os empregados terminavam a decoração para a Festa de Verão que aconteceria naquela noite.
"E eu deveria estar aí, ajudando", pensou Julio, sentindo-se meio culpado. A festa de Águas Belas era um dos eventos mais esperados do ano; uma tradição deliciosa estabelecida há várias gerações.
Sentiu uma grande satisfação invadi-lo. Casas como Águas Belas representavam exatamente isso: continuidade e tradição.
E era o que Júlio pretendia seguir, embora fosse único filho, em vez do tão esperada filha mulher.
Um mês inteiro longe de casa era tempo demais, pensou ele, embora tivesse se divertido muito. Tia Miriam era uma perfeita esposa de diplomata e em sua casa havia festas e jantares quase todas as noites. Além disso, participara de partidas de tênis, natação e campeonatos de pólo, assim como visitas a concertos e teatros em companhia de jovens educados e atraentes.
—Mas ninguém que fosse digno de Água Belas —contaria a seu pai dentro em pouco, caçoando.
Era uma brincadeira que vinha de longa data, desde quando Júlio não era mais que uma criança; ao saber que perderia o nome quando se casasse, ficaria mortificado.—Neste caso, não me casarei jamais— declara a seus pais, que riram muito na ocasião. — A não ser que encontre alguém com o mesmo sobrenome.
—Mas você poderia se apaixonar por alguém que se chamasse Smith— sugeria Lídia, acariciando o rosto do filho. —Neste caso, ele teria de mudar o nome para Araújo retrucara Júlio. — Se não o fizesse, não seria digno de Águas Belas.Durante muito tempo, os três divertiram- se com o episódio, mas Julio percebera que não estava muito longe da verdade. Ele pretendia viver para sempre em Águas Belas, talvez ter filhos vendo crescerem ali, carregando orgulhosamente seu próprio nome de família. Mas a pessoa que o amasse deveria se submeter docilmente a seus planos continuava a ser a figura abstrata. Os rapazes que o convidavam para sair com tanta freqüência, e que tentavam, em vão, levá-lo para cama, estavam longe de ser candidatos que ele considerasse dignos.
"Talvez eu jamais me case", pensava Júlio. "Talvez eu só administre a propriedade e fique sendo conhecido como um solteirão excêntrico."
Quando se preparava para entrar no carro, foi que o viu, um homem, um perfeito desconhecido, cruzando o pátio, onde não tinha o direito de estar.
Júlio franziu o cenho. Ele era alto, com cabelos negros reluzentes e a pele morena e ele não precisava se esforçar muito para saber de onde ele vinha. Seu pai, muito desprendido, sempre permitira que ciganos acampassem do outro lado do bosque com a condição de que mantivessem o lugar limpo e que não circulassem pela propriedade.
E, nesse momento, ali estava um deles, passeando como se fosse o proprietário. Bem, ele logo aprenderia sua lição! Subiu no muro, colocou dois dedos na boca e assobiou.O estranho voltou-se, mas não fez menção de se aproximar. Geralmente, o mesmo grupo de ciganos ia e vinha a cada ano, mas Júlio jamais havia visto este. Era ainda mais moreno do que Luis Pasqual, o chefe do clã que havia entrado em negociações com seu pai. Tinha olhos negros, nariz reto e uma boca bem desenhada. Não era exatamente atraente, mas tinha certo ar senhorial, irritantemente arrogante. Talvez fosse algum parente afastado de Luis que estivesse só de passagem, mas isto não lhe dava o direito de desobedecer ao que havia sido estipulado.
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UMA VIAGEM SEM VOLTA
Romance" vou comprar a mansão, e você será meu" disse Alexandro, inclinou-se e beijando-o nos lábios. Júlio queria dizer não, tentou resistir, manter os lábios cerrados, mas era luta que não podia ganhar. Alexandro com sua sensualidade, estava o subjugando...