A hora seguinte apareceu e para Júlio foi uma eternidade.
A limpeza do fogão foi uma tarefa extremamente difícil e cansativa. As cinzas e a fuligem grudavam em seus cabelos, penetrando-lhe pela boca e nariz. O corpo estava coberto de transpiração e cinzas.Júlio sabia que os gravetos e galhos secos que encontrou, e que com tanta dificuldade trouxe até a casa, mal dariam para o dia. O fogão parecia consumir voraz e impiedosamente todo seu esforço.
Não podia imaginar como era pesado puxar o balde cheio de água de dentro do poço; além disso, derrubava grande parte do precioso líquido, trazendo-o da rua até a casa. Seus músculos, pouco treinados a carregar qualquer peso, doíam e latejavam. Mas conseguira colocar no fogão uma panela de água que já estava começando a ferver. Encontrou um vidro de café instantâneo e também duas canecas grandes. Alex sugeriu que comeriam só peixe, mas Júlio encontrou uma vasta quantidade de enlatados no armário do lado da pia. Era óbvio que ele pretendia passar muito tempo na ilha.
Do outro lado da casa, Júlio encontrou ferramentas de jardinagem e também um saco de batatas. Havia ainda uma boa quantidade de carvão que poderia ser usado para assar os peixes em um dos lados do fogão. Nesse momento, Júlio sentou-se, exausto, do lado do fogão, pensando como poderia sair daquela situação enlouquecedora. De maneira alguma suportaria mais um dia naquele lugar.
Era inútil imaginar que Alex mudaria de posição. Ele estava determinado a destruí-lo, assim como a Vó Pasqual havia previsto.
E apesar disso, não podia negar a forte atração que sentía por ele. Aconteceu desde o primeiro momento em que o viu. Ele, o inatingível, que jamais se deixou envolver fisicamente com ninguém. Alex destruí isso completamente na primeira vez que o tocou.
Quando ele afirmou que o teria no momento que desejasse, só podia concordar, por mais que isso o envergonhasse.— Por que você está aí sentado? Por que ainda não limpou a casa? Vociferou ele.
Júlio assustou-se ao ser surpreendido em seus pensamentos.
— Eu acendi o fogo e o café está pronto — explicou ele.
— Não fez nada além da sua obrigação. Vejo também que conseguiu cobrir todo o piso e você mesmo com toda essa sujeirada. Antes de pensar em se sentar para descansar, limpe toda essa porcaria.Alex saiu por um momento, trazendo uma vassoura usada e grosseira.
— Aqui está – disse, estendendo-a.
Júlio mordeu os lábios enquanto viu encher a caneca de café cheiroso e sentar-se no terraço para saboreá-lo.
Sentia vontade de chorar, mas controlou-se e começou a varrer desajeitadamente. A boca ficou seca, com o gosto horrível das cinzas, e já nem mais pensava no café; só queria tomar um pouco de água. Agarrou a outra caneca e mergulhou-a no balde; quando já estava encostando-a nos lábios, morto de sede, sentiu um golpe que o arrancou das mãos, atirando todo o precioso líquido no chão.— Seu idiota! Você não pode beber água do poço se não for fervida. Eu já não lhe havia dito? Água potável, só da nascente.
— Eu me esqueci — enfrentou o Júlio. E com certeza, uma única vez não teria importância.
— Já lhe disse que não. E agora venha comigo.Arrastou-o bruscamente pelo braço, caminhando até atrás da casa, onde no meio das pedras havia uma mina por onde escorria um filete de água fresca.
— Mas eu não trouxe a caneca! — reclamou ele.
— Use as mãos, assim — mostrou Alex, juntando as duas mãos.Júlio agarrou-lhe os pulsos, desesperado de sede, para beber um pouco de água. Por um breve momento ele não se moveu, mas repentinamente pronunciou algumas palavras duras em sua própria língua e soltou-o bruscamente. Pegou-o pelos cabelos, forçando-o a encará-lo. Havia raiva em seus olhos e o rosto estava afogueado.
— Aprenda a tomar água sozinho, menino.
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UMA VIAGEM SEM VOLTA
Romance" vou comprar a mansão, e você será meu" disse Alexandro, inclinou-se e beijando-o nos lábios. Júlio queria dizer não, tentou resistir, manter os lábios cerrados, mas era luta que não podia ganhar. Alexandro com sua sensualidade, estava o subjugando...