Continuação 30

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Júlio tratou de se levantar e caminhou pela plataforma até chegar onde estavam suas sandálias. Era até bom que ele pensasse que Júlio tentara se afogar;
assim, não saberia sobre o veleiro. Se um havia passado por ali, era bem provável que outros passassem. A partir desse
dia ele viria todos os dias, sob o pretexto de nadar. A roupa molhada sobre a pele dava-lhe uma sensação desagradável; ansiava por trocá-la, caso as outras já estivessem secas. Alex esperava por ele. Caminharam juntos pelas ruas da vila.

— Júlio, você deve entender que eu me preocupei quando você fugiu daquele jeito, quando não voltou...
— Claro que você deve ter ficado preocupado. Provavelmente já tinha alguma outra tarefa para mim.
— Não, não era isso – tentava explicar Alex. – O que eu lhe disse naquela hora...
— Não foi pior do que qualquer coisa que você tem falado ou feito durante o nosso pretenso casamento cortou Júlio, agressivo. - Fiquei bastante tempo no porto, pois tinha necessidade de refletir um pouco; foi exatamente o que fiz. Tudo sobre o nosso relacionamento tem sido um grande equívoco. Você não me quer como seu companheiro e eu não quero continuar com essa farsa por mais tempo. Até que você se decida a me deixar partir, vou trabalhar para você, não como seu marido, mas como seu empregado. O salário que eu exijo são minhas roupas de volta e uma passagem de ida para a Águas Belas; esses são meus termos e não são negociáveis.

— E como, exatamente, você pretende exigir que eu aceite suas reivindicações?
— Farei greve - informou-o, altivo. Se não for atendido, farei até greve de fome. Acho que você terá sérios problemas para explicar como permitiu que seu próprio esposo morresse por inanição em sua companhia, kyrios Alexandros!

Durante algum tempo, houve um silêncio pesado.

— Está bem - concordou ele. Será meu empregado e nos termos que você estabeleceu.

Em vez do alívio que esperava, Júlio sentiu-se invadido por um grande desânimo.
Voltaram a casa em silêncio. Alex tirou uma calça de algodão e uma toalha da gaveta e, sem voltar-se, tirou as roupas molhadas.

Júlio ficou observando o corpo moreno e bem feito enquanto ele se enxugava.

—  O empregado não deve estar no quarto quando o patrão está nu – observou ele, sem olhá-lo. Vá cuidar de suas obrigações.

Cobrindo o rosto afogueado com as mãos, Júlio correu para o pátio ensolarado.
Quando chegou, ainda abalado pela grosseria dele, deu um grito de horror. Penélope voltou-se, sem largar a blusa limpa, que roía placidamente.

— Meu Deus! - gritou Júlio, tentando em vão recuperar a roupa, ou o que restava dela.
— O que houve? perguntou Alex, atrás dele.
— Isso! exclamou, mostrando-lhe os trapos.
— Cabras comem qualquer coisa, você não sabia disso?
— Não! - disse, desesperado. - Só que ela não comeu nenhuma de suas roupas. Você deve tê-la treinado especialmente para roer a única troca de roupa que tenho!
— As minhas estão em local alto para que ela não possa alcançá-las. - explicou Alex, não podendo mais conter o riso.
— Não ria de mim, seu bastardo! - descontrolou-se. Não ouse rir de mim... 

Atirou-se sobre ele com os punhos fechados. Mesmo desprevenido, Alex era demasiado rápido para ele. Agarrou-lhe os pulsos com uma das mãos e com a outra o envolveu, trazendo-o para si.

— Já chega - tentou acalmá-lo - Controle-se.
— Solte-me, maldito!
— Não tente me dar ordens, Júlio mou - ameaçou-o, deixando de rir. - Nem agora nem nunca!

Alex inclinou a cabeça e sua boca cobriu a de Júlio, abrindo-lhe os lábios, invadindo-lhe a boca com selvageria controlada.
Júlio gemeu e tentou se desvencilhar, mas ele o imobilizou, agarrando-lhe os cabelos ruivos molhados e mantendo a cabeça dele junto à sua, enquanto a boca e a lingua moviam- se sobre a dele, até que parou de lutar e permaneceu trêmulo em seus braços.   Júlio sentia o cheiro da pele dele misturado com o cheiro do mar e, de repente, começou a corresponder a seus beijos.

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