continuação 13

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Não havia nada a temer, tentou se convencer. Nada. Dirigiu-se à porta da entrada, observando-o enquanto Alex saía do carro. Era um Aston Martin, último modelo, pôde notar:
Alex Constantis caminhou até a porta, sorrindo enquanto ele o observava.

— Kalimera- cumprimentou, gentil. Dormiu bem?

"Não vou ficar vermelho", decidiu-se Júlio. "Definitavamente, não vou!"

— Otimamente bem – mentiu ele, com frieza.
— Você tem muita sorte, Júlio, mou. Cada vez que eu fechava os olhos, sonhava que você estava a meu lado e tentava trocá-lo sorriu Alex. Foi muito frustrante, pode acreditar!
— O senhor pode considerar esses comentários muito divertidos, sr. Constantis - repreendeu-o friamente. Para mim, são embaraçosos e degradentes.
— Você sempre considera a verdade algo insultuoso? Ou seria eu o primeiro homem suficientemente corajoso para admitir que gostaria de ir para a cama com você?
— Bem, mas acontece que eu não quero o senhor - ele o interrompeu. Acho melhor que se vá.
— Só depois de visitar o resto da propriedade. Seu pai assegurou-me de que você ficaria encantado em servir-me de guia.
— Esse foi o primeiro erro dele, hoje –bufou. Espero que seja o último, desde que ele vai discutir a venda com seus advogados. Podemos dar uma volta rápida pela propriedade. Sinto não poder convidá-lo para almoçar...
— Não espero que o faça – comentou com toda a suavidade –Trouxe um piquenique para os dois. E a volta vai demorar todo o tempo que for necessário. Afinal, você é um especialista. E também não estou interessado em estatísticas de produção por hectares, thespinis. O que desejo é ver essas terras, essa casa, através de seus olhos, está me entendendo?
Abriu a porta para Júlio.

  No princípio, ele ficou tenso, sentindo a proximidade dele no carro; mas pouco a pouco começou a relaxar, vendo que alex estava mais preocupado em dirigir.
Ele imaginara que poderia explicar o funcionamento da propriedade em poucas palavras, mas logo descobriu seu erro. As perguntas de Alex eram inteligentes e objetivas, demonstrando grande perspicácia. Júlio teve de reconhecer que fazia grande esforço para acompanhar o raciocínio rápido dele.
  Com as perguntas de Alex, Júlio, sem querer, começou a falar sobre Águas Belas, como havia sido no passado, os planos que ele teria para o futuro, a voz suavizando-se quando identificava um ponto de referência, os lugares que ele amava desde a infância. Cada cerca viva, cada bosque parecia ter  um significado profundo, percebeu, cada vez mais, angustiado.

— Creio que deveríamos comer algo, disse ele. Onde pensa que seria um bom lugar?

Júlio engoliu em seco, recompondo-se.

— Se o senhor seguir a trilha da esquerda, chegará ao lago. Mas pode me deixar aqui. Na verdade, já devo voltar a casa...
— Depois de almoçarmos — disse suavemente, mas sem admitir contestação.

Banhadas de sol, as águas do lago brilhavam como ouro

— Tem algo a ver com a sedimentação — explicou Júlio
— São cristalinas e o lago tem grande quantidade de peixe. É dessa coloração que vem o nome do lugar. Águas Belas.
— É claro — concordou ele, estendendo-lhe uma manta. Coloque sobre a grama, por favor, enquanto eu trago a cesta do piquenique.

Júlio obedeceu, inseguro. Nesse momento, ele gostaria de ter organizado um almoço em casa. Um piquenique à beira do lago tinha todas as conotações que queria evitar. A sala de jantar seria um ambiente muito menos íntimo do que esse tipo de lugar.
O conteúdo da cesta foi uma revelação. Havia salmão de fumado, fatias de torta de frango, saladas, pãezinhos frescos. Como sobremesa, havia nectarinas, uvas e morangos com cereja.
Júlio ficou surpreso ao ver Alex abrir uma garrafa de champanhe com toda a naturalidade.

— Não é muito luxo para um dia simples no campo? ironizou Júlio.
— Você quer dizer... um tanto vulgar? Mas o que poderia esperar de um camponês? E, de qualquer modo, você se esqueceu de que tenho algo a celebrar.
— O senhor está equivocado, sr. Constantis - disse ele, com a  garganta apertada. – Não me esqueci absolutamente de nada.
— Você é muito formal. Será que não conseguiria me chamar de Alex?
— Penso que é preferível a formalidade nas atuais circunstâncias.
— Como queira. Vamos brindar... por Águas Belas e seu futuro. Asseguro-lhe, thespinis, que tem um futuro.

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