CAPÍTULO VII

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Júlio sentou-se à beira da água, as costas apoiadas no que restava de um antigo pontão de concreto, olhando em direção ao horizonte, onde o azul intenso do mar mesclava-se com o azul pálido do céu. Parecia impossível sentir tanta dor e não morrer dela.
  Ele poderia ter suportado qualquer coisa, menos saber que Alex não o considerava digno de ter filhos juntos. "Eu deveria ter percebido", Júlio repetia para si mesmo, a garganta apertada.

Perguntara-se como poderiam eles ter algum dia uma relação verdadeira, da maneira como o casamento havia precipitado. Pois bem; agora sabia. Alex não tinha a intenção de tê-lo como esposo.
   Cerrou as pálpebras, lutando contra as lágrimas que teimavam em escorrer-lhe pelas faces. Chorar não iria resolver nada. Ele tinha de reagir, tentar  planejar algo para quando ele se cansasse do jogo cruel  que o estava submetendo, e o deixasse partir. Mas, no momento, não conseguia pensar em nada além das palavras cruéis de Alex e de seu ódio tão profundo.

Levantou-se e começou a caminhar pelo antigo porto, Quando finalmente levantou a cabeça, viu um pequeno veleiro bem em frente à praia, carregando um único velejador que se divertia deslizando sobre as águas mansas, aproveitando ao máximo a brisa da manhã.

Por um momento, Júlia olhou-o sem reação. Não havia ninguém vivendo em Argoli, mas deveria haver outras ilhas próximas onde talvez existisse algum aeroporto de onde pudesse partir para Pireus. O pequeno veleiro deslizava rapidamente para além das pedras ao final da praia.
  
   Júlio então começou a correr o mais rápido que podia na beira do mar, movendo os braços e gritando:

— Aqui, aqui!.. Pare, por favor, volte!...

Por um segundo, ele teve a impressão de que o rosto se voltou e que o velejador solitário o teria visto. Foi tudo o que precisou. Tirou as sandálias e atirou-se na água, nadando em direção ao barco que se afastava cada vez mais, até desaparecer atrás das pedras. Júlio continuou nadando, desesperadamente.

Quando notou que se afastou demais da praia, aproximando-se perigosamente das pedras, percebeu que era inútil e deixou-se levar pela correnteza em direção às rochas, quase não movendo braços e pernas.

De repente, escutou barulho de alguém atirando-se na água e imediatamente Alex estava ao lado dele, as mãos sustentando-o vigorosamente.

   — Me solta! — gritou Júlio, debatendo-se, a boca cheia de água salgada.
— Acalme-se. Pare de se debater, seu pequeno tolo.

Ele virou-o de costas e com o braço livre começou a puxá-lo em direção a uma laje lisa entre as rochas. Chegando, deitou sobre as pedras.

Júlio permaneceu deitado por algum tempo, tossindo a água que havia engolido. Alex sentou-se próximo a ele, tratando de recuperar o fôlego.

— Christos, Júlio conseguiu dizer, a voz trêmula. Nunca mais faça isso; nunca mais pense nisso!

Ele deveria ter visto o barco e imaginado que ele pediria socorro, horrorizou-se Júlio.

— Eu só queria nadar um pouco; não sabia que era proibido.
— Nadar?.. Com roupas?
— Por que não? Não tenho roupa de banho aqui.
— Não minta. Quando eu o vi na praia, você não estava fazendo nenhum esforço para nadar e quando cheguei você já estava começando a afundar... — afirmou ele, estremecendo.

Só então Júlio percebeu o que ele queria dizer.

  — Você pensou que eu estava me afogando? Pensou que eu o faria deliberadamente? Não se iluda, kyrios, nada do que você diga ou faça poderá me levar a tal desespero. Todo o seu esforço em me salvar foi em vão. Como eu disse, só queria nadar um pouco e foi isso que eu fiz.


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