Continuação 43

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—  Eu estava em meu barco quando vi Yannis se afastando de Argoli - explicou ele, a voz grave. - Fiquei pensando... O que ela estará fazendo aqui?
—  Eu vim para dar uma última olhada. Yannis virá me buscar para levar-me até Pireus.
—  Você está indo embora? - perguntou Alex, a voz embargada. — Sem me dizer nada?
—  Pensei que tudo já havia sido dito. E, além do mais, deixei uma carta para você em seu quarto.
—  Obrigado por isso, ao menos - sorriu ele, com profunda tristeza.

Alex examinou-o lentamente, dos pés à cabeça, e disse, mais para si próprio:

—  Então, é assim que termina.
—  Achei que um rompimento total seria melhor para todos. Especialmente...
—  O que você ia dizer?
—  Oh, que todos estão percebendo a farsa que é o nosso casamento e a situação está ficando bastante constrangedora. Seu primo Paul pensa que estou precisando ser consolado.
—  E você está?
—  Mas não por ele.
—  Mas vocês saíram juntos, antes de nos conhecermos. Eu só fui jantar com ele, uma ou outra vez.
—  E foi desses encontros que você formou sua primeira opinião sobre mim. Deve ter sido importante.
—   Estou tentando esquecer tudo isso, Alex. Não quero prendê-lo por mais tempo. Zoe deve estar esperando-o para velejarem.
—   Ela não está comigo. Reclamou, como sempre, que o vento estava estragando seu penteado. Então, deixei-a a salva aos cuidados de sua mãezinha - caçoou ele. - Não creio que ela goste de mar, mas foi muito engraçado observar a que ponto ela se sacrificaria para me agradar, nos últimos dias.
—  Você não está sendo muito gentil.
—  Eu não sou sempre gentil. Quem pode saber melhor do que você, matia mou?
—  Eu... vou recolher os cacos de vidro. Se você trouxe animais para cá...
—  Não. Não voltarei jamais para Argoli.
—  Vai desperdiçar todo o árduo trabalho na casa?
—  Já está perdido. - Deu de ombros. -Mas por que você se importaria, Júlio mou, com uma cabana de camponês em uma ilha remota, agora que está voltando para sua amada casa? Em breve, você mal se recordará desse lugar e de tudo o que aqui aconteceu.
—  Gostaria de poder acreditar nisso. E a carta que lhe escrevi é sobre a casa.
—  Já lhe disse que a casa será sua quando nos divorciarmos - disse ele, franzindo os cenhos. - Não vou voltar atrás na minha palavra.
—  Não tenho dúvidas sobre isso - respondeu Júlio levantando o rosto. - Na verdade, o que desejo é a sua permissão para vender a casa.
—  Você quer vender a propriedade... sua casa? - perguntou, incrédulo. — Mas do que é que você está falando? Ficou louco?
—  Não - repondeu com toda a calma.-Acho que finalmente estou em meu juízo perfeito. Você chama a quela propriedade de minha casa, mas se eu for viver lá sozinho, não é nada, só uma concha vazia. Não tem nenhum significado. É isso que lhe disse na carta.
—  Por que você me diria algo assim?

Por um momento, Júlio hesitou, a coragem quase abandonando-o. Então, lembrou-se das palavras de Maria Xanthe quanto a afastar ressentimentos. Agora ele tinha essa oportunidade.

Deu um passo em direção a Alex, a voz trêmula.

—  Porque eu pensei que se a casa e as propriedades não mais estivesse presente, como uma mancha entre nós, você poderia acreditar em mim se eu lhe dissesse que o amo.

Alex empalideceu.

—  Júlio, tenha muito cuidado com o que está dizendo. Não brinque comigo.
—  Nunca falei tão sério - assegurou-lhe apaixonadamente. O que mais posso dizer ou fazer para convencê-lo? Eu o amo, Alex, eu o quero e preciso de você. Você estava determinado a destruir meu orgulho. Nada mais restou dele. O que acha que eu vim fazer aqui, senão recordar e pensar? Tentei odiá-lo pelo que me fez passar, mas só consegui amá-lo cada vez mais.

Alex puxou-o com força para seus braços. Sua boca cobriu a dele em um beijo apaixonado, cheio de ternura, as mãos agarrando-o como se nunca mais a fossem deixar partir. Quando se separaram, os dois estavam trêmulos.

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