continuação 19

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— Eu estava no deck – explicou, meio tímido. — Está uma tarde linda. Não lhe disseram que eu estava lá?
— Disseram, mas eu estive ocupado, trabalhando.
— E já terminou? quis saber, sentando-se à mesa.
— Quase. Por que pergunta? disse Alex, servindo-lhe vinho.
— Bem, você parece que tem estado tão ocupado. Eu quase não o tenho visto... – murmurou Júlio.
— Sinto-me lisonjeado, agapi mou – retorquiu ele, seco.
— Não tinha a menor idéia de que você quisesse tanto estar a sós comigo, ser o objeto de toda minha atenção.

Fez uma pausa, correndo os olhos pela face dele, como uma carícia.

— Mas acontecerá muio em breve, eu lhe prometo.

Júlio mordeu os lábios, sentindo-se enrubescer. O que estava acontecendo com ele? Era como se estivesse implorando para Alex fazer amor com ele! O que ele realmente estava querendo era alguma atenção, só isso.
   Durante o jantar, Alex conversou sobre diversos assuntos, nenhum deles pessoal, e Júlio seguiu a mesma linha.  
     Havia milhões de perguntas que queria fazer, mas era impossível, com o marinheiro circulando com os deliciosos pratos. O jantar estava excelente, mas Júlio pouco comeu. Depois de servir-lhe o café forte, finalmente o marinheira desapareceu.

— Seu iate é fantástico. Parece um palácio flutuante.
— Foi construído para o meu pai. Desde que tomei posse de minha herança, tenho-o usado muito. Tem sido minha verdadeira casa. Tenho ficado em apartamentos, hotéis, mas não significam nada.
— E agora você tem a mansão.
— Exatamente — assentiu, levantando-se da cadeira e puxando-o pelas mãos. E também, meu anjo, tenho você.

  Por algum tempo, ficou olhando-o fixamente, permitindo que ele notasse sem sombra de dúvida como o desejava.  
  Então tocou seus próprios lábios e os dele, suavemente, descendo os dedos pelo pescoço, por seu peito e sobre a  camisa de seda, até a junção das coxas.

Júlio engasgou jogando a cabeça para trás quando ele o tocou, percebendo quanto o desejava e quanto poder ele tinha sobre ele.
  Pronunciou o nome de Alex com a voz embargada. Júlio desejava os lábios dele sobre os dele, ansiava por isso.
Ouviu-o dar uma risada curta, vitoriosa.

— Logo - disse ele. - Logo, matia mou, estaremos juntos, só nós dois, como você deseja.

As mãos de Alex escorregavam pelo quadris de Júlio puxando-o para si. Por um breve momento torturante, seus corpos colaram-se um ao outro. Então, ele o soltou.

— Vá, agora — sussurro — Vá para a cabina e espere por mim. Vou para lá em seguida. E não se dispa, Júlio mia. Eu mesmo quero fazer isso.

A cabina havia sido cuidadosamente arrumada, Júlio percebeu. As cortinas estavam fechadas, e um abajur iluminava o quarto suavemente. A colcha estava dobrada e seu pijama branco  estava aberto sobre a cama. Sobre a mesinha-de-cabeceira havia uma cesta com pêssegos ao lado de uma garrafa de champanha dentro de um balde de gelo. Havia também uma jarra alta com suco de frutas.
   Júlio estava emocionado, olhando em volta. O ambiente era perfeito para uma noite de amor. Só faltava seu amante. Serviu-se de suco de frutas e tomou-o enquanto andava de um lado para outro, impaciente, esperando que a porta se abrisse.
O que será que o atrasará? Ele o queria; por que será que tardava tanto?
Ele pegou outro copo, mas não tinha certeza se realmente tinha gostado. Não podia reconhecer o sabor e ficava um gostinho estranho em sua boca. Sentou-se em uma pequena poltrona perto da janela, apoiando-se nas almofadas.
   Começou a repassar os acontecimentos do dia, lembrando-se magoado pela expressão rígida de sua mãe e das palavras maldosas de Tyciany. Mas ele não deveria deixar que esses pensamentos ocupassem sua mente nesse momento. Provaria a seus pais que poderia fazer desse estranho casamento um sucesso.

Percebeu que suas pálpebras estavam se fechando e sentou-se com um movimento brusco. Olhou o relógio de relance e deu-se conta de que já estava esperando há mais de meia hora. Levantou-se, sentindo-se um pouco tonto.
Aos tropeços conseguiu chegar até a cama; a viagem deveria tê-lo cansado mais do que imaginava. O colchão era tão macio, que deixou-se cair sobre ele.

Queria estar acordado para Alex, mas estava tão sonolento. Não conseguiu manter os olhos abertos; seria só por um minuto, e quando Alex chegasse o acordaria com seus beijos.
Estava sorrindo quando mergulhou em um sono profundo.

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