continuação 36

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— A primeira vez que Alex disse isso - riu Maria, - pensei que fosse só um sonho. Mas sei agora que o que o meu Alexandros diz ele cumpre, por mais que lhe custe. Por isso, Júlio mou, cuide-se.
— Acho que já descobri isso por mim próprio - murmurou Júlio.
— Tão cedo?  Mas afinal, vocês estavam sós, tendo dia e noite só para conhecerem um ao outro.

Júlio esboçou um sorriso em resposta. Quão pouco Maria sabia! Ela obviamente pensava que os dois haviam passado momentos idílicos na praia, fazendo amor e tomando banho de sol.

Ele pensava qual seria a reação de sua sogra se lhe relatasse: "Passava os dias trabalhando tão duro como jamais hou- vera sonhado, sem tempo para nada, e as noites rolando no colchão duro, esperando pelo amante que jamais chegava". Seria a vez de a atriz ficar chocada.

A casa era linda e aconchegante, toda branca, rodeada de primaveras, com as janelas e portas em madeira escura. Dentro, estava supreendentemente fresco, com grandes e antigos ventiladores girando no teto.

Maria tirou as sandálias, caminhando descalça pelo saguão de mármore até que chegou à porta da sala de estar.

— Venha, querido, quero apresentá-lo aos outros.

Júlio sentiu um impulso covarde de virar-se e correr: no entanto, controlou-se e seguiu Maria.
Deparou-se com um estranho quadro. A primeira pessoa que viu foi Paul, obviamente nervoso, de pé, atrás de um sofá onde estavam sentadas duas mulheres.
Uma delas já tinha certa idade, o rosto marcado e altivo. Vestia-se de negro, a cor tradicional das viúvas, mas portava colares e pulseiras onde luziam diamantes.

— Júlio, quero apresentar-lhe a sra. Sophia Constantis, que é minha hóspeda aqui. Paul, que você já conhece. E sua irmã, Zoe.

Zoe Constantis era uma jovem muito bonita, olhos amendoados e pele cor de azeitona, corpo muito bem-feito. Trajava um vestido caro, um pouco vistoso demais. A beleza dele era ofuscada por uma expressão hostil que não tratava de esconder. Assim como a mãe, estendeu a mão para Júlio, mas da maneira mais fria possível.

Júlio logo percebeu que ele havia estragado os planos de Sophia em relação a Zoe e Alex. Era óbvio que a sra. Sophia não estava muito feliz em ter perdido a fortuna da família para um estranho. Se pudesse reavê-la através de um casamento entre os primos, tudo estaria resolvido.

Júlio afastou-se um pouco, sob o pretexto de olhar um bonito retrato de Maria Xanthe. Logo a atriz reuniu-se a ele com um copo de bebida.

— Aqui está, pedhi mou, um legado da América, um martíni seco. Se soubesse que vocês viriam, não teria enchido a casa de convidados. Depois do jantar, poderá ficar a sós no quarto com Alex. Eu só quis fazer o melhor. George, com certeza, gostaria que eu fosse gentil com a família dele, e não podemos ser inimigos para sempre.
— Tenho certeza de que Alex concorda com a senhora - disse Júlio, engasgando-se com a bebida.
— Está um pouco forte, não? Achei que você precisava de alguma coisa para relaxar, meu bem. Em um momento, você está a sós com Alex fazendo amor; no momento seguinte, está rodeada dessas pessoas hostis que ficam observando-o como se fosse um inimigo. Mas não pense que você é a única vítima da frustação deles. Como crê que me olharam a primeira vez que nos encontramos? A verdade deixou-os estarrecidos!
— Mas com certeza deviam já ter ouvido falar na senhora - protestou Júlio.
— Em Maria Xhante, claro que sim, mas esse é meu nome de atriz. Meu verdadeiro nome é Maria Cristoforou e é o nome que aparece na certidão de nascimento de Alex. Foi por isso que consegui preservar minha privacidade até que eu decidi torná-la pública. Você poderia imaginar qual seria a reação deles se soubessem quem eu era durante aquele absurdo processo? Eu não poderia haver suportado. Mas agora que eles dependem de Alex para manter o alto padrão de vida a que estavam acostumados, não ousariam fazer qual quer tipo de comentário.
Maria parou por alguns instantes, os olhos enchendo-se de lágrimas.

— Quem se importa agora? O meu George está morto há tantos anos! -desabafou, enxugando os olhos e voltando a sorrir. O jantar está servido, Júlio mou; você se sentará ao meu lado.

Júlio mal conseguiu lembrar-se da refeição. Tentava provar um pouco de cada prato. Maria Xanthe esforçava-se para controlar o ambiente tenso, conversando sobre amenidades, envolvendo todos os participantes. Mas a atenção de Júlio estava voltada só para Alex, que, do outro lado da mesa, lançava-lhe olhares de raiva.

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