Júlio levantou-se e começou a caminhar, trôpego, como se uma nuvem de dor estivesse embaçando-lhe os olhos. Podia lembrar-se de cada palavra, de cada insinuação que Ticiany havia lhe feito em seu quarto, no dia do casamento.
Mas deixou o incidente para trás. Não havia mencionado para ninguém o que aquela horrível mulher lhe disse. Como era possível, então, que Alex soubesse? Será que ela teria tido a baixeza de procurá-lo para contar-lhe tudo? Não, não era possível, nem mesmo Ticiany seria capaz de fazer algo semelhante. Quando Júlio vestiu-se e colocou as sandálias para correr atrás de Alex a fim de explicar-lhe tudo, ele já havia desaparecido. Embora tivesse corrido pela praia gritando o nome dele, não obtive qualquer resposta.
Ainda que o tivesse alcançado, teria Alex acreditado que ele se revoltara com os comentários grosseiros de Ticiany, mas decidio não contestá-la para não lhe dar o gostinho da vitória? Era bem pouco provável.
Talvez ele tivesse alguma chance de convencê-lo se não o tivesse chamado de camponês e de tantas outras grosserias.
Estava tão atordoado, que se equivocou-se e perdeu o caminho que levava à vila, dando a volta no porto e saindo pelas pedras, esfolando pernas e braços.
O pequeno veleiro estava sobre a areia, próximo ao porto. Júlio permaneceu estático, olhando-o fixamente, o coração aos pulos.Não havia nenhuma pessoa nas proximidades. Tudo o que tinha a fazer era subir no barco e partir. Ele já havia pilotado esse tipo de veleiro muitas vezes. Não seria roubo, apenas um empréstimo; quando chegasse à ilha mais próxima, explicaria tudo às autoridades, que, com certeza, enviariam outro barco para recolher o legitimo dono.
Ele tinha de fugir de Argoli, de Alex, que o odiava, que só desejava puni-lo, que só havia feito amor com ele para alcançar alguma vingança perversa, para humilhá-lo mais ainda.Pois bem, ele já não aguentava mais. Não suportaria mais tanta crueldade.
Olhando ao seu redor Júlio aproximou-se cautelosamente do veleiro, que estava muito bem equipado e era fácil de manejar. O que ele estava esperando? Tudo o que tinha a fazer era subir e partir. Havia uma leve brisa sobre a água que o conduziria à liberdade.
Sentiu um arrepio súbito. Que liberdade seria essa sem Alex? Separar-se dele significava uma prisão, condenação à solidão para todo o sempre.
Assustado, percebeu que os meios para fugir haviam chegado demasiado tarde. Parado ali, sentia-se mais só do que nunca e percebera súbita e totalmente que amava Alex, que provavelmente havia se apaixonado por ele no momento em que o viu. Era por isso que concordara com esse casamento tão louco. Não por causa da mansão, mas porque queria estar com ele para sempre. Ele tentara se enganar com argumentos tolos, mas essa era toda a verdade. Alex o trouxe para Argoli a fim de ensinar-lhe uma lição e ele havia aprendido a conhecer a si próprio, mas agora era tarde demais. Não, não podia ser tarde demais! Ele o desejava e Júlio faria tudo para que Alex se apaixonasse por ele.
Virou-se lentamente, tomando o caminho que o levaria a casa.
Viu ao longe um homem caminhando na direção dele, vestido com short imaculadamente branco e camiseta azul- marinho. Era o velejador solitário, que deveria estar explorando a ilha.
Júlio estancou de súbito quando percebeu quem era ele. Pensou em correr, mas era tarde demais.
— Júlio? - perguntou o rapaz, com incredulidade. - Júlio Araujo? Mas não é possível!
— Olá, Paul, como vai? — saudou-o com um sorriso o mais natural possível.
— Acho que estou tendo alguma visão! -exclamou ele, ainda incrédulo. - Argoli está deserta há muitos anos. Ninguém vem até aqui.
— No entanto, aqui estou eu — contestou ele, tentando ganhar tempo.
— Então foi você que eu vi outro dia — disse Paul, lentamente. Pensei que fosse uma alucinação. Um garoto de cabelos ruivos acenando dessa terra desolada. Mas o que você está fazendo aqui? O que aconteceu? Você foi vítima de algum naufrágio, de algum desastre?
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UMA VIAGEM SEM VOLTA
Lãng mạn" vou comprar a mansão, e você será meu" disse Alexandro, inclinou-se e beijando-o nos lábios. Júlio queria dizer não, tentou resistir, manter os lábios cerrados, mas era luta que não podia ganhar. Alexandro com sua sensualidade, estava o subjugando...