— Por que Polly permitiu que ele se envolvesse em tal aventura? perguntou Júlio.
— Ele não contou nada a ninguém até que fosse tarde demais. Seu pai estava seguindo os conselhos de um certo americano que conhecera em Monte Carlo; um gênio das finanças. Parece que esse indvíduo acaba de ser acusado de fraude em Nova York.
— Papai não está envolvido nisso, está? desesperou-se Júlio.
— Oh, não, não. Querido, sei como você deve estar se sentindo, mas seu pai fez isso com a melhor das intenções. Os custos de manutenção de uma casa como essa, uma propriedade como Águas Belas, são altos. Ele queria que você tivesse uma herança decente sem ter de contar os centavos durante toda a vida.
— Por que você não me falou antes? quis saber Júlio, sentindo-se esgotado. — Por que não me mandou chamar na casa de tia Miriam?
— Queríamos que você se divertisse. E não havia mais nada que pudesse ser feito.
— Deve haver algo. Não vou permitir que Águas Belas se perca tão facilmente. Talvez ninguém queira comprar a nossa casa. — Júlio tentou sorrir. As pessoas que conhecemos não têm tanto dinheiro assim.
— Nos dias de hoje, querido, propriedades como esta são vendidas mais para estrangeiros. E o sr. Paulo encontrou um possível comprador.
— Um estrangeiro? - horrorizou-se Júlio. — Que não seja algum principe árabe. Não posso acreditar...
— Não é exatamente um príncipe árabe. Na verdade, eu quase preferiria que fosse... — confessou Lídia, enrubescendo. — Esse homem é grego. É o que chamam de magnata. O nome dele é Alexandro Constantis.
— Constantis? — surpreendeu-se Júlio. — Já ouvi esse nome. Ele é parente de Paul Constantis?— Não saberia dizer — disse Lídia, desgostosa. — O que eu soube de seus antecedentes já é suficientemente ruim. Não tenho a menor vontade de pesquisar sobre sua família. Se bem que eles não têm muito a ver com ele.
— Então deve ser ele mesmo — disse Júlia, recordando-se. — Jantei algumas vezes com Paul Constantis. Ele é bastante simpático. Tem algum cargo na Embaixada da Grécia e costumava gracejar dizendo que a natureza queria que ele fosse milionáro, mas o destino, na figura de seu primo Alex, impediu que isso acontecesse.
— Pobre rapaz! Imagino que seja tudo verdade. Você era ainda uma criança para se lembrar do escândalo, é claro. George Constantis era um homem extremamente rico, cuja enorme fortuna em bancos e propriedades estava espalhada por todo o Mediterrâneo. Era viúvo e sem filhos e suas propriedades deveriam ir para sua única irmã e os sobrinhos. E então, de repente, em seu leito de morte, resolveu que tinha um filho ilegítimo e que havia deixado todo seu império para ele. É claro que a família não objetaria se ele deixasse algo para o rapaz, mas ter-se esse estranho, de quem ninguém jamais ouvira falar, subitamente colocado à frente de toda a família era mais do que poderiam suportar. Ele não era um garoto; na época, já era um adulto. Dizia-se que havia crescido em um tipo de favela, na mais completa pobreza, e que mal sabia ler e escrever. Parece que havia certo mistério em relaçao à mãe dele: alguma pobre camponesa que o velho George havia seduzido.— É óbvio que tentaram lutar — seguiu Lídia. Tentaram provar que o rapaz não era filho de George; insistiram em exames de sangue, mas os resultados foram inconclusivos; tentaram então provar que o rapaz havia ludibriado o velho enquanto este estava em seu leito de morte. Foi uma repercussão e tanto. Mas perderam e ele ficou com tudo.
E agora ele estava tentando roubar Águas Belas de Júlio. Mas ele não iria conseguir; não alguém como ele.— Vou descer e falar com papai. Deve haver algo que possamos fazer. Será que não existem outros interessados, além desse Constantis?
— Parece que ele fez uma excelente oferta — retrucou Lídia. Ele tem muitos negócios aqui e está querendo comprar uma casa para que possa receber e retribuir os convites.
— Noites de bouzouki e quebras de pratos, sem dúvida. — disse Júlio, com desprezo. — Isso é o que veremos!Júlio atravessou rapidamente o corredor, descendo pelas escadarias, a mão no corrimão, como sempre fizera e como sempre faria. Águas Belas deveria ser salva a qualquer preço, custasse o que custar.
Quando chegou no último degrau da escada, a porta do escritório se abriu e ele se confrontou-se com seu pai e Polly. Sr Philip tinha um ar cansado e desalinhado e, apesar da amargura, Júlio sentiu-se invadido por uma onda de ternura. Ele o viu e tentou sorrir.
— Ju, meu bem, ninguém me disse que você já havia chegado. Que maravilha!
— Papai, por favor! Diga-me que não é verdade. Jure. que não vendeu a nossa casa para esse horrível camponês grego!
Ele escutou Paulo engasgar-se e viu o rosto de seu pai transformar-se, revelando profunda irritação. Atrás deles, da parte escura do escritório, surgiu uma terceira figura que se aproximou lentamente do grupo. Júlio sentiu como se um punho estivesse apertando sua garganta. Reconheceu-o de imediato, é claro. Era o intruso que havia visto no pátio e que pensava ser um cigano. Não é para menos que ele rira dele! Só que desta vez ele não estava rindo, longe disso. Quando o olhar dele percorreu seu corpo dos pés à cabeça, Júlio sentiu como se fosse incendiado até os ossos por uma horrível e apavorante labareda. Quase levantou os braços para se proteger. A Torre, atingida por um raio, lembrou-se de algum recôndido de sua mente, e o Rei de Espadas, aproximando-se para destruir seu orgulho e separa-lo de tudo o que amava.
"Um bárbaro grosseiro", era assim que Paul Constantis o definira. Pois muito bem, ele não iria pôr suas mãos de vândalo na casa dele, se Júlio pudesse impedir! Pôs-se de pé tentando manter a calma.
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UMA VIAGEM SEM VOLTA
Romance" vou comprar a mansão, e você será meu" disse Alexandro, inclinou-se e beijando-o nos lábios. Júlio queria dizer não, tentou resistir, manter os lábios cerrados, mas era luta que não podia ganhar. Alexandro com sua sensualidade, estava o subjugando...