continuação 37

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"Por favor", Júlio pedia silenciosamente. "Não é minha culpa se sua mãe gostou de mim; também não é minha culpa que ela esteja fazendo o possível para que eu me sinta em casa... "

O jantar parecia não ter mais fim; culminou com café forte adocicado e um licor que parecia ser de tangerina. Quando finalmente terminaram, Júlio desculpou-se e pediu para ir ao quarto. Maria Xanthe insistiu em acompanhá-lo

O aposento era amplo, mobiliado de modo simples, mas confortável, a colcha e as cortinas de tecido feito por artesãos da própria ilha.

— Tudo que há nesta casa foi escolhido por mim - explicou Maria, feliz. - Creio que você encontrará tudo o que necessita, exceto seu marido, que vou mandar logo de volta para você.

Maria beijou Júlio na testa, traçando com os dedos o sinal da cruz.

— Deus o abençoe, querido, seja feliz e faça com que meu Alex seja feliz também; e dêem-me bonitos netos. Logo em seguida, retirou-se do quarto, deixando-o a sós.

Júlio sentia-se completamente exausto, mas não tinha sono. Andou de um lado para o outro, examinando cada detalhe. Deu uma espiada no pequeno banheiro, descobrindo, fascinado, a banheira, a pilha de toalhas felpudas e as prateleiras repletas de loções e essêcias para banho. Júlio quase se esqueceu de como um banho podia ser algo tão luxuriante. Encheu a banheira e derramou um pouco de óleo perfumado; ensaboou os cabelos com shampoo e mergulhou na água morna.

Embora sentisse o corpo relaxar de imediato, a mente não parava de dar voltas.

Se Ticiany não tivesse ido a seu quarto, como a vida teria sido diferente! Estaria feliz agora, nos braços de Alex.

Saiu da banheira e enrolou-se em uma grande toalha felpuda, antes de secar os cabelos. Passou uma loção perfumada por todo o corpo, até que sua pele se tornasse suave e brilhante. Vestiu o pijama e entrou no quarto.

Alex estava parado, olhando pela janela para a escuridão.

— Minha mãe disse que você me chamou - disse ele, sem se voltar.
— Não... quer dizer... sua mãe tem uma visão bastante romântica do nosso relacionamento - Júlio respondeu, hesitante.  — Alex, você tem de lhe contar a verdade. Não é justo deixá-la acreditar que este é um casamento verdadeiro. Ela me fez sentir tão bem-vindo. Sinto-me como se a estivesse enganando.
— A atitude dela tem criado certas dificuldades - disse Alex. Como também a presença de tia Sophia e seus filhos. Principalmente depois que você fez o papel tão perfeito de recém-casado amoroso diante de meu primo, nesta tarde. Ele acharia, no mínimo, estranho que nosso casamento terminasse logo algumas horas depois.
E poderia começar a fazer certas perguntas que não gostaríamos de responder.
— É verdade, mas naquele momento não me ocorreu nada melhor para dizer — concordou Júlio, infeliz  — O que você sugere?
— Que qualquer separação aconteça depois que tivermos saído daqui. Será muito mais fácil. Minhas viagens constantes poderão servir como excelente desculpa.
— Você já tem tudo planejado, não é mesmo? disse ele, desanimado. Faça como quiser. Mas agora estou real- mente casando e gostaria de ficar a sós.

Ele voltou-se lentamente, percorrendo-lhe o corpo com os olhos, uma expressão zombeteira no rosto.

— E para onde você sugere que eu vá, agapi mou?
— Não tenho a menor idéia. Mas imagino que deve haver muitos outros quartos na casa; como, por exemplo, o quarto de sua prima Zoe.
— Ah, certamente - murmurou ele. Mas há que considerar a virgindade de minha prima. A primeira vez que um homem entrar em seu quarto ou em sua cama, será a noite de núpcias.
—  Se é assim, você terá de esperar um pouco mais, não é mesmo? - disse Júlio, mordaz.
— É o que parece, mas, enquanto espero, deverei seguir as convenções -disse ele, com sorriso tenso. Sinto muito, meu esposo, porém, enquanto estivermos em Lymnos, deveremos compartilhar do mesmo quarto.
— Não! - revoltou-se.
— Como você é volúvel! Há poucas horas estava agarrado a mim, implorando-me com seu corpo inteiro para que eu o possuísse outra vez.
— Isso é passado. Agora é muito diferente.

Alex começou a se mover em direção a ele e Júlio recuou.

— Não chegue perto de mim!
— É uma ordem? - caçoou Alex.
— É um apelo ao seu senso de decência. Nosso casamento terminou, Por que você insiste em me torturar?
— Torturar? repetiu ele. Não ouvi nenhum pedido de clemência antes.
Alex estendeu a mão e tocou a pele de Júlio por debaixo do pijama acariciando sua pele macia.

— Não, por favor - pediu Júlio, a voz embargada.

Os dedos dele acariciaram seus cabelos, segurando-lhe a nuca. Júlio tremia incontrolavelmente. Alex fixou o olhar em Júlio, a expressão abrandando-se.
Abriu o pijama , fazendo com que des- lizasse até o chão.

— Não? murmurou ele.

O silêncio abateu-se sobre Júlio. Tentou falar, mas sua garganta estava fechada com um nó. Fez um gesto de negação com a cabeça, os cabelos balançando-se, e cobriu-se com as mãos.

Alex disse algo em sua própria língua. Carregou-o delicadamente e colocou-o na cama, retirando a colcha e cobrindo sua nudez com o lençol.

Júlio permaneceu deitado de lado, todo o corpo tenso. Alex foi para o outro lado da cama, despiu-se e manteve-se imóvel, as mãos sob a cabeça, mas não o tocou. Quando Júlio percebeu que ele ficou o mais longe possível dele, sentiu um aperto na garganta e as lágrimas rolavam-lhe pela face. Tentou escondê-las, mas não pôde reprimir um profundo soluço. Sentiu que Alex se mexia, apoiando-se no cotovelo.

— Júlio? sussurrou.

A mão dele tocou-lhe o ombro, fazendo com que se voltasse para ele. Por muito tempo, permaneceu observando- lhe o rosto. Então, enxugou-lhe as faces com os dedos.

— Durante todo nosso tempo juntos, nunca o vi chorar — disse, quase dolorosamente.

O braço de Alex envolveu-o, sentindo a rejeição de seu соrро.

— Ah, Júlio - disse, quase emocionado. Deixe-me ao menos reconfortá-lo.

Trouxe-o mais para perto de si, fazendo com que sua cabeça se apoiasse em seu ombro, a mão acariciando os cabelos, enquanto ele chorava desconsolado, até que não havia mais lágrimas. Exausto, terminou por adormecer, ninhado nos braços de Alex.

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