CAPÍTULO XI

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—  Vocês estão de partida? - perguntou Maria, surpresa. – Mas Alex não  me disse nada!

Pela mente de Júlio passaram inúmeras desculpas e explicações, mas decidiu-se a contar toda a verdade.

—  Alex não sabe – explicou com toda a calma — Vou  embora sozinho, sra. Maria.

Houve um silêncio constrangedor.

—  Entendo - disse Maria, com um profundo suspiro. — Bem, era evidente que vocês estavam enfrentando algum tipo de problema, pedhi mou, mas será realmente necessário que você parta, que vai desistir? Seja o que for que Alex tenha feito, você não poderia lhe dar uma segunda chance?
—  A senhora não está entendendo. É Alex que quer se livrar de mim – explicou Júlio. Desde que nos vimos pela primeira vez, eu me comportei muito mal, disse coisas horríveis. Alex só se casou comigo para me punir.
—  Mas o que você está dizendo? Ninguém faria algo assim. Você deve estar enganado, meu filho.
—  Eu gostaria de estar. Alex não me levou para Argoli por razões sentimentais, mas para me dar uma lição. Eu o havia chamado de camponês e ele decidiu que me mostraria como era a vida de um camponês, da meneira mais dura, fazendo-me trabalhar de sol a sol. Também deixou bem claro que nosso casamento não seria... um verdadeiro casamento.
—  Sobre isso, ele mudou de idéia? - perguntou Maria.
—  Sim, tempos depois.
—  Ah, minhas crianças! É por isso que vocês parecem tão feridos! É por isso que há tanto silêncio entre vocês. Júlio,
você ama meu Alex?
—  Amo - admitiu Júlio, tristemente. —  Mas ele não sabe. Mesmo que soubesse, não acreditaria. Alex pensa que me casei com ele só para continuar sendo proprietário da casa que pertencia a minha família.
—  Aquela maravilhosa mansão com arquitetura inglesa que ele acaba de comprar? Sempre me perguntei por que ele teria comprado a casa. Não lhe parece, pedhi mou, que ele deve gostar muito de você para comprar-lhe a casa?
—  Não, ele já havia comprado antes de me conhecer. Mais tarde, quando descobriu o quanto eu amava a casa e como ele necessitava de um companheiro, Alex decidiu que o casamento seria um arranjo bastante conveniente.
—  Necessitava de um companheiro! - surpreendeu-se Maria. Mas que bobagem é essa? Alex tem lutado para permanecer solteiro nos últimos dez anos. E, de repente, ele me telefona dizendo que vai se casar com um lindo Brasileiro de cabelos de fogo. Não falou nada de qualquer arranjo. Qual é o verdadeiro motivo desse casamento?
— Eu realmente não sei mais o que pensar — respondeu Júlio, cansado. —  É tudo tão confuso e sem esperanças. Não culpo Alex por querer se libertar. Na verdade, não o culpo por nada. Eu era um horrível esnobe. Precisava de uma lição.
—  Pode ser. Mas os métodos de meu filho parecem ser um pouco drásticos demais.

Júlio então contou a Maria o episódio com Ticiany e a reação de Alex, sem nada esconder.

—  A senhora pode ver que Alex teve todos os motivos do mundo para se sentir traído.
—  Ah, sim – Maria deu um profundo suspiro. — E eu tenho minha carga de culpa em tudo isso.
—  A senhora? Não entendo...
—  Eu vou lhe contar, meu filho. Quando eu descobri que ia ter um filho de George, não me senti envergonhada porque o amava muito, mas fiquei terrivelmente assustada. Eu era jovem demais e, também, eram outros tempos.
  As pessoas não eram tão liberais como hoje em dia. Ter um filho ilegítimo não só era condenado socialmente, como também profissionalmente. Alex não tinha mais do que algumas sermanas, quando fui convidada para trabalhar em Hollywood. Queriam alguém sem nenhum compromisso, livre de amarras. Baraskevi não tinha filhos e se afeiçoara ao bebê. Pensei muito e cheguei à conclusão de que ele seria muito mais feliz em Argoli do que sendo arrastado atrás da mãe atriz e vivendo em uma cidade como Hollywood.
  Na época, acreditava que estava fazendo isso para o próprio bem dele.

—  Mas não era verdade?
—  Em parte, havia um certo egoísmo na minha decisão.
  Então, ele foi criado por Baraskevi, pensando que ela era sua verdadeira mãe.
—  E a senhora nunca mais o viu?
—  Claro que sim. Eu vinha sempre para Argoli e, muitas vezes, George me acompanhava. Mas éramos visita, convidados de honra. Quando George decidiu que Alex seria seu único herdeiro, foi necessário contar-lhe toda a verdade.
—  Como ele reagiu?
—  Foi muito doloroso para ele. Primeiro, não quis acreditar e depois ficou furioso. Acusou-me de ter vergonha dele, de rejeitá-lo por meus motivos egoístas. Por muito tempo não quis me ver ou mesmo falar comigo. E eu não podia culpá-lo por sua amargura. Em minha juventude, fui uma pessoa muito ambiciosa. Não queria escândalos. Mas também recebi minha punição.
   Não houve um único dia em que eu não pensasse em meu filho, em que não ansiasse por tê-lo em meus braços.
—  Mas ele a perdoou.
—  Só muito tempo depois. Não foi nada fácil. Eu tive de afastar o ressentimento, provar seguidamente que o amava e que jamais o rejeitaria outra vez. Pouco a pouco, Alex começou a confiar em mim, a gostar de mim. Nós desenvolvemos um bom relacionamento. É por isso que eu creio que Alex jamais quis um envolvimento sério com nenhuma pessoa, sempre com medo de ser traído.
  Júlio, quando ele falou de você para mim, a voz dele estava cheia de amor e senti-me tão feliz que chorei de alegria. Nestes últimos dias, a frieza entre vocês quase me partiu o coração.

—  E o meu – murmurou Júlio.

Maria abraçou-o com força.

—  Então, o que vocês pretendem fazer? – perguntou Maria.
—  Alex quer o divórcio. Ele pretende se casar com Zoe.
—  Isso é uma piada. Só que não tem graça alguma. Ele não a suportaria nem uma semana.
—  Mas isso não altera o fato de que ele esteja lhe dedicando muita atenção.
—  E por isso você pretende fugir, sem lutar pelo seu amor. Que tipo de reação é essa?
—  A única que me ocorre no momento. Necessito de tempo para pensar. Aqui, não posso fazer isso, estamos todos muito próximos. Gostaria de tomar a balsa hoje mesmo para Pireus.
—  Não, não, meu bem. Se você está realmente decidido a partir, então ao menos eu insisto que Yannis a leve em nosso barco, confortavelmente.
—  Eu lhe agradeço muito – hesitou Júlio. — Na verdade, eu ia lhe pedir que me emprestasse Yannis por algum tempo, hoje. Há algo que desejo fazer, algo que desejo rever antes de partir.
—  Creio que posso adivinhar. Yannis está a sua disposição, meu bem. Você não vai se despedir de Alex?
—  Ele vai passar o dia todo velejando com Zoe – disse Júlio, mordendo os lábios. — Eu lhe deixei uma carta em seu quarto.
—  Está bem. Eu queria muito que as coisas tivessem saído melhor para você, meu bem. Queria tanto você como meu genro, mas não podemos ter tudo o que queremos.

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