CAPÍTULO IV

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Casaram-se três semanas mais tarde, numa cerimónia rápida no cartório, o que mostrava claramente o desagrado dos pais de Júlio a qual jamais enfrentara tanta reprovação por seus atos como nas semanas que precederam ao casamento.

— Você não pode fazer isso! - implorava Lidia, sem parar. Você não pode se casar com um homem só porque deseja continuar vivendo nesta casa!... É... é obsceno!

Júlio continuava tentando explicar, cada vez que falavam sobre o assunto.

— Não é só a casa...
—  Então, o que mais pode ser? - desesperava-se a mãe. — Não tente me convencer de que está apaixonada por esse novo-rico!

Não, não era isso. Ele mesma não sabia explicar seus próprios sentimentos em relação a Alex Constantis. E o impacto sensual devastador que ele lhe provocava não poderia ser discutido com sua mãe.
Por mútuo acordo, o noivado não foi anunciado publicamente, embora Alex o  tivesse presenteado com um magnífico anel de safira. Mas ele não o colocara em seu dedo e nunca mais perguntara por ele. Era como se estivesse só cumprindo com as formalidades.
Se ele próprio não sabia como se sentia em relação ao casamento, não tinha a mais vaga idéia do que Alex pensava. Superficialmente, ele representava o papel do noivo perfeito, tão bem que até sr Philip e Lidia não conseguiram criicá-lo. Era amável e enfrentava muito bem a hostilidade de Lidia. Não levantaram nenhum argumento sobre o casamento por ter sido uma cerimônia quase escondida.
  Júlio sentia-se um pouco desapontado; sempre sonhava com um casamento em um lugar bem decorado, com bastante comida, bebidas, vestido adequadamente para um casamento digno branco, rodeado de amigos e familiares desejando-lhe felicidades.
Pensava que Alex também quisesse uma cerimônia completa para que todos ficassem sabendo que, embora seus antecedentes fossem duvidosos, estava se casando com alguém pertencente a uma família tradicional e respeitada.
No entanto, ele não demonstrava nenhum interesse nos preparativos. E mais surpreendente ainda, ele não convidar ninguém da família para a cerimônia.

— Ninguém? — surpreendeu-se Júlio. — Mas certamente...
— Quem eu deveria convidar? - Deu de ombros. - Meu primo Paul, que no momento se considera meu herdeiro? A irmã dele, Zoe? Minha tia Sophia?
— E sua mãe? - sorriu Júlio. — Eu ainda não a conheço e...
— Teremos muito tempo para isso. Ela não está tão bem de saúde e creio que uma viagem para Águas Belas não iria lhe fazer bem. Além de outras considerações... – acrescentou ele, irônico.

Júlio enrubesceu. Alex obviamente estaria preocupado com o tipo de recepção que sua mãe teria; ele não podia culpá-lo por isso. Uma camponesa grega, humilde, poderia ser destruída pela polidez gelada de Lidia.
Mas essa não era a única surpresa. Júlio imaginava que assim, que aceitasse a proposta de Alex, ele não perderia tempo em seduzi-lo. Mas, na verdade, nada aconteceu.
    Ele o visitava quase todos os dias, é claro, e quando teve de viajar, em duas ocasiões, mandou flores.
Era um noivado bastante formal. Não buscou nenhuma oportunidade para estar a sós com ele. Seus beijos eram só um roçar de lábios na chegada ou na saída.
Júlio estava começando a ficar intrigado com a falta de demonstração da parte dele; depois, ficou zangado e por fim voltou a ficar intrigado. Ele não queria que ele fizesse amor com ele, é claro, repetia a si mesmo. Mas, por outro lado, a habilidade dele em permanecer distante era irritante, fazendo o recorda quão pouco ele conhecia o homem com quem ia se casar.
Ainda mais estranho, era a própria reação dele, cada vez que o via ou ouvia sua voz ao telefone. Ele não podia negar ou impedir a forte atração que sentia por ele, mas tentava escondê-la para se íngualar à frieza dele. Mas era impossível saber se conseguiria enganá-lo. Sem dúvida, ele deveria estar muito confiante, a tal ponto que pudesse superar todas as barreiras entre os dois na noite de núpcias, quando o levou à paixão experimentada naquele dia à beira do lago.

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