Adèle
Na tarde de uma quarta-feira, encontro-me esgueirando pela cozinha na procura do ralador em uma das gavetas do armário. Praguejo baixo por jurar tê-lo deixado na segunda gaveta noite passada, mas simplesmente não estava ali.Após revirar outra vez os talheres e utensílios, me levanto e corro para atender a porta, cuja a campainha não para de chiar nos últimos 15 segundos. Cogito que possa ser Jean, já que possui uma certa mania de aparecer sem ser convidado.
Caminho pela sala e ao chegar na porta, decido verificar a visita pelo olho mágico, enxergando de imediato uma figura feminina. Visualizo o cabelo volumoso solto e a fumaça do charuto espalhar-se pelo corredor.
Seria cobrança? Mas já?
Ajeito os fios loiros que escapam do coque desarrumado, e em seguida aliso o macacão jeans. Abro a porta e espero por qualquer pessoa menos...
-Romane?
A morena tatuada se encontra perfeitamente empoleirada no batente da porta. Uma fumaça espessa propaga-se pelo corredor enquanto seus olhos famintos me analisam sem pudor algum.
-O que está...Como sabe onde eu moro?
Ela inclina o corpo, apoiando um dos antebraços contra a porta ao mesmo tempo que traga o charuto mais uma vez.
-Avisei que te encontraria de novo. – Sem permissão, como se isso fosse problema para ela, a mulher faz menção de se aproximar. -Não pretende me convidar para entrar?
Penso por um instante se talvez fosse de fato racional e seguro deixa-lá entrar. Por mais que seja uma mulher, de semblante inofensivo aparentemente, aprendi na marra em manter uma certa distância de algumas.
-Sim. - Por fim respondo, dando-lhe espaço para que entre. O aroma do seu perfume, Dolce Vita da Dior, resvala pelo nariz e de imediato me sinto em um frenesi inquietante. Romane se acomoda ao lado da poltrona do meu avô como um gato preto.
-Seu apartamento é uma graça, Adèle.
O que essa mulher faz aqui? Na minha casa? Como sabe onde eu moro?
E ela continua:
-Que cheiro bom! Você cozinha também, Cariño? -Suas falas são acompanhadas por um sorriso enorme ao passo que se direciona até a cozinha e acabo me pegando em surpresa pelo apelido carinhoso de repente. No entanto, a sigo pelo cômodo, de olho em suas costas e braços largos.
Porra, ela é grande. Grande em vários sentidos.
-São conchas de macarrão e ricota. -Informo e estudo seus movimentos por trás da cortina de contas que faz a divisão da sala de estar com a cozinha.
De forma astuta, Romane me escrutina próximo ao fogão. Um blazer preto de alfaiataria modela o corpo enquanto os cabelos negros deslizam em cachos grossos e despojados pelas costas. Sempre que forço a olhá-la por mais do que três segundos, sinto as pernas bambearem de forma instantânea.
VOCÃ ESTÃ LENDO
ð ððððððð ðð ðððððððððð
Lãng mạnEm meio às ruas sinuosas de Paris, uma série de assassinatos brutais de ex-presidiários deixa a cidade em pânico. A jovem jornalista AdÚle, determinada à investigar e documentar os crimes chocantes, se vê envolvida em uma teia de mistério e perigo. ...