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No início da manhã de uma sexta-feira, sou acordada aos berros por meu chefe Henri às 4:30 da madrugada. Esfrego os olhos sonolentos com o intuito de despertá-los o mais rápido possível e atendo o celular em seguida, no qual ele berra ordenando que eu esteja na Delegacia na Quai de l'Hôtel de Ville em no máximo 15 minutos. O que se torna praticamente impossível, já que moro há 30 minutos do local.
No entanto, concordo sem hesitar e corro de imediato para o banheiro, sem me importar com a bagunça da noite passada sobre a cama. Com Dalí envolto entre as pernas, tropeço várias e várias vezes na tentativa de me apressar e manter o emprego.
40 minutos mais tarde, chego em frente ao departamento. Observo dezenas de pessoas, dentre elas curiosos, e o sol ainda nem havia dado as caras. Bocejo e tento a todo custo me concentrar nas orientações de Henri, apoiado na parte traseira da van.
Pego o gravador, ligo e respiro fundo, me aproximando furtivamente do delegado constipado. Sua testa brilha pelo suor e seu olhar é mortífero ao notar a multidão posta à frente da delegacia. Me preparo mentalmente para ser agredida em inúmeras maneiras verbais pelo homem.
-A polícia ainda não tem pistas o suficiente para condenar nenhum suspeito. Estamos trabalhando no caso e pretendemos solucioná-lo o mais rápido possível para a segurança de todos.
Avisto Lisa da CNN se debater entre as pessoas, inclusive eu, empurrando o microfone abaixo do queixo do delegado Filipe.
-O senhor desconfia que possa ser algo planejado?
-Sim, é óbvio. John foi caçado até pelo FBI, o que acha?
Depois de uma expressão embaraçosa no rosto de Lisa e cochichos entre os repórteres, o rádio alerta do policial chia e ele responde baixo, perguntando se há alguém no local. O murmúrio entre os jornalistas cresce e o delegado procura acalmar a todos.
-Está tudo bem! Preciso resolver isso e qualquer novidade no caso, será informado à imprensa.
Ouço Henri gritar, me apressando com os dedos para dentro da van. Nico, o câmera, pisa fundo no acelerador e começa a seguir a viatura, que prossegue em direção ao Centro de Paris.
-Isso vai ser uma notícia e tanto! Pisa fundo, Nico! -Brada Henri, a testa suada e o óculos aviador da Diesel apoiado sobre o nariz.
Entre curvas e quebra-molas não contornados, Anitta retoca o corretivo abaixo dos meus olhos e me pego sentindo o aroma de Fame Parfum da Paco Rabanne nas narinas. Ela é linda, o tipo de mulher que devia estar na passarela da Paris Fashion Week e não cobrindo olheiras às 5:30 da manhã. Olho para baixo e por um breve momento, encontro as íris douradas da minha maquiadora.
Desde o meu último relacionamento, o que não acabou muito bem, me mantenho travada em tentar conhecer outras pessoas. Não procuro ter que passar por toda a dor e estresse novamente, incluindo as crises de ansiedade que fazem questão de me assombrar todas às noites.
