𝐎 𝐭𝐢𝐜-𝐭𝐚𝐜 𝐝𝐞 𝐮𝐦 𝐚𝐦𝐨𝐫 𝐩𝐞𝐜𝐚𝐦𝐢𝐧𝐨𝐬𝐨

230 33 0
                                    

Romane

O relógio de pulso marca 5:45 enquanto assisto mais uma vez Adèle dormir profundamente em meio aos lençóis

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

O relógio de pulso marca 5:45 enquanto assisto mais uma vez Adèle dormir profundamente em meio aos lençóis. Me remexo sobre a poltrona e suspiro fundo à medida que me pego perscrutando cada parte do seu rosto.

Horas atrás, após ter passado mal na boate e resolvermos ir embora, convenci Jean a deixá-la levar para casa. Retirei sua calça jeans apertada, que insiste em fazer com que putarias ecoem pela mente. O coturno, deixando-a apenas de meias e aquele corset estupidamente lindo e justo.

E por mais que eu pudesse de fato dormir na sua casa sem me sentir culpada, com a desculpa de estar cuidando dela, meus olhos simplesmente não se fecham. A memória ainda fresca do seu corpo deslizando em mim, do sorriso bêbado e sexy da porra.

Como chupou os meus dedos com aquela boca quente e gostosa.

Agarro e puxo com força os cabelos com as mãos e sufoco um grunhido no fundo da garganta. Me vejo insana. Completamente maluca e fora de mim como se estivesse em um devaneio sem fim. Não consigo retirá-la da mente e se o problema fosse apenas seu corpo, eu conseguiria controlar porém não é.

Porra! Nunca foi!

O verdadeiro impasse é essa alma pura, esse rosto, por Deus, como de um anjo. Essa fragilidade que me puxa como um ímã para que eu possa protegê-la de tudo e de todos.

Até cogitei ficar com outra mulher qualquer essa noite, alguém para que eu pudesse me perder e esquecer a obsessão por Adèle.

Mas caralho, ela estava ali, bem na minha frente. Com os olhos de cereja enciumados, a boca em um biquinho perfeito de insatisfação e exalando desejo. Desejo por mim. Como eu simplesmente poderia ignorar isso? Ignorar ela. A porra da minha vida inteira procuro sentir essa sensação e essa garota arrumou um jeito de desgraçar a minha alma, os meus objetivos e a minha vida.

4 semanas.

Eu a conheco há quatro semanas e estou completamente apaixonada por ela.

Meu quarto, a minha casa, não é mais um local no qual passo a maior parte do tempo. Há dias me encontro bocejando e com olheiras do tamanho de ursos pandas. Hanna sempre questiona sobre e me esquivo, com medo de respondê-la. De contar a verdade.

Estou arruinada.

Mata-lós não faz mais sentido depois de conhecê-la. Prefiro passar o resto da vida observando seu rosto dessa cadeira do que atirar na cabeça de todos os criminosos listados no bloco de notas que possuo no bolso.

Volk não pode descobrir e isso não pode continuar.

Poderia muito bem culpar Adèle, dizer que essa garota continua a se meter em coisas que não lhe dão respeito. Fuçando como um cachorrinho fora da matilha, procurando pistas sobre mortes de assassinos, tentando desvendar mistérios como um personagem dos filmes do Hitchcock.

Entretanto, eu me ponho no meio. Sempre. Apareci no restaurante. Em sua casa e ontem instiguei Jean a chamá-la para uma boate no Centro, fazendo com que nos encontrássemos novamente e finalmente posso admitir. Por fim consigo dizer que me dou como vencida.

Não transo há semanas. Nem posso ao menos cogitar uma boate de Stripper que no mesmo instante um refluxo retoma a boca do estômago. Aguardando a chance utópica do dia que irei dormir com ela.

Esfrego as mãos sobre as coxas e me levanto, caminhando pelo quarto. A princípio, estive na sala por algumas horas. Convencendo a mim mesma de dormir no sofá cama e ir embora pela manhã. Uma parte realmente se vê preocupada pela condição de Adèle na boate, porém, a outra...

A outra faz com que, o pensamento de observar seus olhos tremerem através das pálpebras e ouvir os gemidos noturnos escaparem da boca, se tornem irresistíveis. Como uma droga.

Caminho até um pouco mais da cabeceira. Adèle ronca baixinho com os lábios entreabertos. Seus cabelos estão perfeitamente desarrumados acima do travesseiro e alguns ilhós do corset abertos, dando a visão de uma parte bem generosa dos seios. Umedeço os lábios e me repreendo mentalmente ao toca-lá na bochecha. Um gesto suave e simples.

Após alguns segundos mais a admirando, volto a me esgueirar pelo quarto. Me direciono até a cômoda de madeira branca, recolho a agenda roxa da Gucci e enfio no bolso do paletó. Em seguida, limpo as abas de pesquisa, histórico de navegações e o bloco de notas de todos os aparelhos. O tablet, notebook e celular. Verifico mais uma vez o relógio de pulso e vejo que falta apenas alguns minutos para as 7 da manhã. Penso em voltar para casa, convencer Hanna que voltássemos à Alemanha ou Argentina. Fazer com que Ömer nos caçasse em outro continente bem longe daqui.

Longe dela. Jamais poderia colocar Adèle em perigo por um capricho meu, um sentimento enterrado no fundo do peito. Não sou mais Camille Santiesteban. A bondade deixou de habitar em mim há muito tempo. E o medo que me acomete em Ömer descobri-la, saber até onde eu chegaria apenas para protegê-la, é inabalável.

Ela é boa. Boa demais. Limpa. Não a mereço. Jamais a merecerei. Tenho as mãos sujas de sangue, a mente corroída e a alma arruinada. Arrasta-lá ao meu inferno seria destruí-la, o ápice de toda a maldade que já pratiquei.

E preciso esquecê-la.

𝐎 𝐒𝐄𝐆𝐑𝐄𝐃𝐎 𝐃𝐄 𝐌𝐎𝐍𝐓𝐌𝐀𝐑𝐓𝐑𝐄Onde histórias criam vida. Descubra agora