𝐋𝐞𝐊𝐛𝐫𝐚𝐧𝐜̧𝐚𝐬 𝐊𝐞𝐥𝐚𝐧𝐜𝐚́𝐥𝐢𝐜𝐚𝐬 𝐬𝐚̃𝐚 𝐜𝐚𝐊𝐚 𝐬𝐚𝐥 𝐞𝐊 𝐮𝐊𝐚 𝐟𝐞𝐫𝐢𝐝𝐚 𝐚𝐛𝐞𝐫𝐭𝐚

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Romane

Walkin'After Midnight, da Patsy Cline, solfeja na minha mente conforme a sequência de sócios avançam contra o meu rosto

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Walkin'After Midnight, da Patsy Cline, solfeja na minha mente conforme a sequência de sócios avançam contra o meu rosto. Segundo mais tarde, vejo o sangue e as lágrimas borrarem a visão diante do filho da puta.

-Você gosta disso?! -Grita de forma cruel. O sorriso duro enquanto golpeia outra vez a minha cara sobre o tatame azul do estádio. -Gosta disso, sapata?

Duas coisas das quais eu possuo plena consciência são: Sou nova aqui. Portanto, sei muito bem, que em uma organização onde, majoritariamente se vê formada por homens, sendo mulheres a sua minoria, simplesmente não posso me dar ao luxo de rebater comentários homofóbicos e xenófobicos contra mim.

Mas posso lutar.

E foi exatamente o que fiz ao ouvir o coro de risadas acompanharem o comentário lesbofóbico de Wallace Armand Hill. Percebo a fúria surgir outra dentro da alma. A raiva que não sinto há tanto tempo dentro do peito. A menininha chorona que perdeu os pais sendo chutada por ser mulher, latina e lésbica.

E eu tenho certeza de que passei por coisa pior. Muito pior do que um garoto de 17 anos.

Cuspo o sangue ainda fresco da boca e ergo o tronco com os cotovelos apoiados sobre o tatame. Nos próximos segundos, contemplo os olhos azuis esbugalhados de Wallace fixos em mim, conforme minhas pernas enrolam-se ao redor do seu pescoço.

A platéia, que há pouco berrava em euforia, agora grita em desespero. Sorrio com satisfação observando o rosto do garoto mudar de branco para vermelho, de vermelho para azul e de azul para roxo.

-Chega! -Byron, o treinador imbecil que tínhamos na academia, bate incontáveis vezes seguidas com as mãos no colchão azul ao nosso redor. Irônico, não é mesmo? Há cinco minutos atrás, ele me viu engasgar com o próprio sangue e agiu como se estivesse em um ringue de luta. No entanto, ao notar a perda de oxigênio de Wallace, prontamente se manifestou.

Hijo de puta.
-Ou você o larga, ou será expulsa!

A voz de Byron brada contra o meu ouvido e mediante de um resmungo, solto o pescoço preso entre as coxas. Admiro o corpo cair feito um tomate podre sobre o tatame, ao mesmo tempo que seus olhos azuis esbugalhados fitam o teto de luzes do estádio.

Como resultado, o silêncio rigoroso do público acompanhado de semblantes aterrados toma parte. Em contrapartida, suspendo o próprio braço em saudação de vitória e sorrio com os dentes ensanguentados. Hanna, posta entre as pessoas, me encara com orgulho da arquibancada. Os cabelos loiros curtos balançam ao redor do rosto retangular enquanto aplaude de pé. Ela é um pouco mais velha do que eu, talvez uns quatro ou cinco anos porém é a única capaz de me respeitar nesse lugar. Porque Hanna também é diferente.


Aceito a toalha úmida e morna que a loira oferece durante o percurso sombrio pelo corredor abarrotado de alunos. Fito os próprios pés à medida que ela relata, entusiasmada, acerca dos paramédicos e o cilindro de oxigênio que Armand precisou, após quase morrer por conta do mata leão que lhe dei. Seus olhos azuis brilham narrando o ocorrido como se descrevesse uma história de livros infantis.

𝐎 𝐒𝐄𝐆𝐑𝐄𝐃𝐎 𝐃𝐄 𝐌𝐎𝐍𝐓𝐌𝐀𝐑𝐓𝐑𝐄Onde histórias criam vida. Descubra agora