𝐋h𝐞𝐬 𝐚𝐩𝐫𝐞𝐬𝐞𝐧𝐭𝐚 𝐚 𝐊𝐚𝐢𝐚𝐫 𝐒𝐞𝐫𝐢𝐚𝐥 𝐊𝐢𝐥𝐥𝐞𝐫 𝐝𝐞 𝐭𝐚𝐝𝐚𝐬 𝐚𝐬 𝐭𝐞𝐊𝐩𝐚𝐬: 𝐀𝐠𝐚𝐭𝐡𝐚 𝐂𝐡𝐫𝐢𝐬𝐭𝐢𝐞

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𝐏𝐑Ó𝐋𝐎𝐆O -Romane

"Se quiser um boxeador, entrarei no ringue por você

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"Se quiser um boxeador, entrarei no ringue por você.
E se quiser um médico, examinarei cada centímetro seu".

Levo outra vez a xícara aos lábios conforme troco olhares com a garçonete ruiva atrás do balcão. Sorrio com desdém e em seguida observo a marca do líquido amarronzado na barra da camisa escolhida essa manhã, praguejando baixinho. Espio mais uma vez a ruiva e resvalo o indicador sobre o lábio ao vê-la subir a saia vermelha alguns dedos acima da cintura. Pigarreio, voltando à atenção para o que encontra-se em meu colo.

O exemplar de O Assassinato no Campo de Golfe, de Agatha Christie, apoiado entre as coxas nas páginas 70 a 71.

"O que vê aqui? - perguntou?

Havia quase uma brutalidade no seu tom de voz. Senti uma quentura subir-me ao rosto. Mas Poirot não se perturbou. Deu de ombros e respondeu:

-Uma ponta de cigarro e um fósforo.

-E o que é que isso lhe revela?

Poirot espalmou as mãos vazias.

-Não me revela coisa alguma.

-Ah! - disse Giraud, satisfeito. -Não os examinou com cuidado. Não se trata de um fósforo comum. Pelo menos por aqui. Pode ser comum na América do Sul. Ainda bem que não chegou a ser riscado, pois, do contrário, talvez eu não o identificasse. É evidente que um dos assaltantes jogou fora o cigarro e, ao acender o outro, deixou cair um fósforo no chão."

Confesso ter lido o manuscrito centenas de vezes. Entretanto, sempre que o releio outra vez, descubro algo novo. Como uma pista, um detalhe esquecido ou teorias sobre o pensamento ardiloso de Agatha ao escrever suas histórias.

Em sua mente austera e um tanto assassina.
Se era verídico ou não, gosto de cogitar dessa forma. Sempre tive poucas certezas na vida. Mas, desde o momento no qual passei a ter as mãos sujas de sangue, levo para mim que o melhor jeito de sair livre de um crime, é escrevendo uma enorme mentira sobre ele. Tive essa gloriosa lição com um superior no FBI. E Agatha poderia muito bem ter sido uma Lady Killer bem-sucedida caso houvesse se arriscado algumas vezes.

Ninguém escreve sobre um crime sem antes ter pensado em cometer algum.

Retomo o olhar à frente, levantando a mão de maneira modesta chamando pela garçonete. Munida com seu bloquinho de notas e uma caneta esferográfica preta, a ruiva requebra o quadril em direção à mesa. Se apoia contra a quina, me observando de maneira minuciosa.

-Deseja mais alguma coisa? – Indaga entusiasmada.

Conforme sustento o olhar no decote do seu uniforme, analiso de forma meticulosa as linguagens corporais antes de responder. O jeito que derrama os cachos sobre os ombros, o olhar devasso pelo bloco de notas vermelho e amarelo e principalmente o caminho acurado entre o meu rosto e os músculos aparentes através da regata branca.
-Agradeço a hospitalidade. -Respondo de maneira cordial, sorrindo discretamente ao vê-la debruçar sobre a mesa. -Talvez eu tenha me interessado no menu de sobremesas. Poderia me informar que horas você sai?
Noto o sorriso faceiro diante da pergunta e mais uma vez a vejo girar sobre os calcanhares, me avisando que retornará daqui a alguns segundos. No entanto, já me encontro totalmente absorta na visão da jovem loira, que há poucos segundos, havia adentrado o estabelecimento.
Cabelos loiros dourados, olhos castanhos gigantes tal tortas de cerejas e tom de voz hesitante. Não por timidez, mas com o intuito de ser cuidadosa e cautelosa, imagino.

Perturbada como a doente que sou, rumino todos os seus passos até a mesa atrás de mim.

O andar sorridente, porém arisco.

O "bom dia"gentil, mas ao mesmo tempo disforme.

E a insensata escolha de sentar detrás da mulher que a avalia como uma desvairada desde o momento que chegou.

Fito novamente seu rosto, memorizando como a rolagem de um filme preto e branco, com alta resolução e um zoom apurado.

Os lábios carnudos em tom rosado, o decote um pouco tentador da regata vermelha e o olhar focado no Ipad acima do colo.
Admito que não costumo me perder tanto assim em alguém de imediato. Entretanto, seus olhos castanhos obcecados na leitura e o colar de estrela pendurado no pescoço quase oculto entre os seios fartos, me fazem questionar as próprias premissas nos segundos que se estendem até a garçonete ruiva retornar de volta à mesa.
Afundo o papel amarelado, com seu telefone, 
no bolso traseiro da calça de alfaiataria e me encaminho até a porta da frente, ouvindo outra vez o sino árido da cafeteria soar acima da cabeça.

Dispondo da oportunidade de estar do lado de fora, dirijo rente à vidraça da loja, esgueirando-me sobre o ombro a fim de esquadrinhá-la um pouco mais. Umedeço os lábios e espremo os olhos a fim de enxergar o texto visto no tablet:
Assassinato Misterioso ou Justiça planejada? Mostra a enorme manchete no site da CNN hoje.
Curvo os lábios em um sorriso e pesco o celular do bolso. Mais tarde, acendendo um dos charutos escondidos no estojo de couro e o telefone em mãos, digito o número de Hanna e espero minha irmã atender logo após a segunda chamada.
Estou disposta a recomeçar a vida de Romane Estivalet em grande estilo: Sendo a primeira na lista de mais procurados pela polícia da França ao mesmo tempo que fodo a loira gostosa obcecada por assassinatos da cafeteria.

Mal sabia eu que ela seria o motivo crucial do meu colapso.

E a salvação da minha alma.



Nota: O livro já está finalizado e estarei subindo aos poucos os capítulos com o intuito de editá-los antes de publicar. A revisão geral é feita por mim, então relevem os erros, contextos desconexos e coisas do tipo! Obrigada <3

𝐎 𝐒𝐄𝐆𝐑𝐄𝐃𝐎 𝐃𝐄 𝐌𝐎𝐍𝐓𝐌𝐀𝐑𝐓𝐑𝐄Onde histórias criam vida. Descubra agora