𝐎 𝐥𝐚𝐛𝐚 𝐊𝐚𝐮 𝐧𝐚 𝐯𝐞𝐫𝐝𝐚𝐝𝐞 𝐞́ 𝐮𝐊𝐚 𝐊𝐚𝐫𝐞𝐧𝐚 𝐠𝐚𝐬𝐭𝐚𝐬𝐚 𝐝𝐞 𝟏,𝟖𝟎

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Adèle

-Minha filha, você está bem?! -Seu rosto sardento livre de corretivo e base da Mac me olha no exato instante que entro pela porta da frente

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-Minha filha, você está bem?! -Seu rosto sardento livre de corretivo e base da Mac me olha no exato instante que entro pela porta da frente. Agradeço internamente por estarmos sem a presença de Claude no cômodo, em especial após a situação da noite passada.

Aceno abalada, me dirigindo até a pequena geladeira. Busco por uma garrafa d'água ao mesmo tempo que ignoro o olhar questionador de Elisa.

-Parece exausta, querida. Está tudo bem?

Anuo sem levantar a cabeça. Sem coragem de encontrar seus olhos. Minha mãe conhece muito bem a sua própria filha e sabe quando estou mentindo.

-Adèle?

Continuo ignorando.

-Querida, fale...

-Soube de Elena? -Seu semblante se mantém indecifrável em consequência da pergunta repentina, mas prossigo: -Teve alguma notícia do seu paradeiro? A polícia daqui tem procurado por ela?

Elisa remexe a cabeça. Segura um pano de prato com uma mão e a xícara de porcelana com a outra, as unhas pintadas de um esmalte roxo brilhoso e acabo notando que nunca as vi pintadas sequer uma vez na vida. 

-A polícia parou de procurar, Adèle.

Aceno outra vez. Me sinto estranha. Umedeço os lábios e solto um suspiro pesado. Um dos cruciais motivos da minha mudança à Paris foi por Elena e eu tinha consciência disso, porém estaria mentindo se a indiferença das pessoas em relação ao crime que sofri não houvesse contribuído também. Os vizinhos passaram a me olhar com pena e nojo. Sobretudo, logo após a aparição das duas viaturas estacionadas na porta de casa na manhã seguinte. As dolorosas recordações das marcas roxas pelo pescoço e a dor no braço esquerdo, que precisou ser enfaixado por pelo menos 2 semanas, ainda vagam como um andarilho.

Eles não se importavam. Não se importam. Não se uma mulher for agredida. Decerto, uma consequência exclusiva por serem mulheres. É o que pensam e eu consigo imaginar isso. Consigo acreditar na forma que um homem, uma figura de autoridade, nos enxerga.

E em como somos invalidadas dia após dia.

-Querida, você quer...

-Vou subir. Se importa se eu voltar um pouco antes do combinado? Para Paris.

Elisa cruza os braços acima do peito. O semblante visivelmente magoado.

-Precisa trabalhar?

Balanço a cabeça em negação.

-Eu volto na segunda. Mas quero...

-Não está bem o suficiente para aceitar uma relação madura entre sua mãe solteira e um homem solteiro?

Estreito os olhos. Abro a boca porém nada sai.

-Do quê está falando? Não tem nada a ver com Claude.

𝐎 𝐒𝐄𝐆𝐑𝐄𝐃𝐎 𝐃𝐄 𝐌𝐎𝐍𝐓𝐌𝐀𝐑𝐓𝐑𝐄Onde histórias criam vida. Descubra agora