A 𝐑𝐞𝐚𝐥𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞 𝐞 a 𝐏𝐚𝐫𝐚𝐧𝐚𝐢𝐚 𝐯𝐢𝐯𝐞𝐊 𝐞𝐊 𝐮𝐊𝐚 𝐥𝐢𝐧𝐡𝐚 𝐭𝐞̂𝐧𝐮𝐞

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Adèle

No decorrer de uma breve caminhada no antigo bairro no sábado pela manhã, porque ignorei o pedido da minha mãe de acompanhá-la na mesa da cozinha e comer um dos madeleine's que havia feito no dia anterior, junto com o café preto recém passado

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No decorrer de uma breve caminhada no antigo bairro no sábado pela manhã, porque ignorei o pedido da minha mãe de acompanhá-la na mesa da cozinha e comer um dos madeleine's que havia feito no dia anterior, junto com o café preto recém passado. Meu estômago embrulhou assim que notei o aroma vindo da cozinha ao cumprimentar Elisa e Claude, cujo se mantém como uma sombra ao redor dela.

Por mais que o papo entre nós houvesse sido agradável na noite anterior, permaneço com a mesma sensação estranha sempre que o analiso. Claude nunca me olha nos olhos, se interrompe sempre que fala algo sobre si mesmo, mais como se  inventasse sobre a própria vida. Como se não fosse real.

Relembra um personagem retirado de uns dos suspenses de Hitchcock. Na verdade, Claude renderia um ótimo Bruno Antony. Elisa já devia ter notado há um tempo já que também é fã do mesmo gênero cinematográfico. Entretanto, regularmente, ao observar as pupilas dilatadas dela, juntamente ao riso exagerado em cada frase que o sujeito emite, me mantenho convicta sobre o sentimento que minha mãe se vê absorta em paixão. Cega, querendo ser mais precisa.

Romane surge no subconsciente diante da confirmação e me pego tentando lembrar, ou enganar, que não estou apaixonada por ela. Me sinto sim inebriada e voltada a aceitar, palavra por palavra, tudo o que emana e gira em torno de si.

Me curvo sobre os joelhos e arquejo. Me sinto sufocada. Retiro os fones, observando o suor escorrer do pescoço e passear para dentro do decote do moletom plush. Pensar em Romane me faz entrar em uma espécie de combustão física e mental. Entendo, que caso volte ao menos um segundo nos seus cabelos negros e olhos amendoados, meu corpo junto aos poros, resolvem suar 10x mais do que o necessário.

Abraço os joelhos com as mãos, observando a movimentação na calçada à frente. Um casal de idosos caminha lentamente e logo atrás enxergo uma figura feminina, um tanto peculiar, e ao mesmo tempo conhecida por mim.

Foi a resposta que meu corpo forneceu ao emanar um calafrio pela espinha dorsal e logo estou imóvel. O casal avança, assim como a mulher. Noto o casaco de material semelhante ao meu, porém acompanhado por um capuz que esconde metade do rosto. As mãos ocultas sob o bolso e ouço o cérebro gritar corra! Porém meu corpo não respeita o comando. Estou paralisada.

Os cabelos escuros de Elena escapam por baixo do capuz, a tatuagem de cobra é visível no pescoço mesmo estando parcialmente escondida e seus olhos verdes, ao me identificarem, tornam-se mortais.

Minha garganta fecha, a visão turva, fazendo com que eu não enxergue os próprios dedos ao olhar para baixo. Pressiono a testa contra a palma enquanto uma dor latejante toma conta do local.
Até a escuridão chegar.

-Querida?

Minhas pálpebras piscam e se abrem ao encontro de duas adoráveis íris azuis acima de mim. A senhora ruiva está levemente debruçada sobre o meu corpo repousado contra a grama no canteiro da calçada. O homem negro alto, suponho que seja seu marido, me olha com curiosidade assim como a esposa.

-O que aconteceu? -Ouço a voz soar fraca e ao falar, minha cabeça palpita.

-Você desmaiou, minha filha. -Ela permanece com os olhos arregalados. Sua voz trêmula a cada palavra dita. -Hugo conseguiu segura-lá antes que batesse com a cabeça no chão! Você comeu alguma coisa?

Esfrego a têmpora direita, fitando Hugo.

-Muito obrigada. -O homem anui gentilmente e volto a atenção para a mulher. -A senhora..A senhora por acaso viu uma jovem, mais ou menos da minha idade passar por aqui?

Ela nega.

-Não vi ninguém, querida.

-Ela estava logo atrás de vocês, usava um capuz preto, tinha olhos verdes...

-Não tinha ninguém atrás de nós, minha jovem.

Olho outra vez para o homem e retomo para a esposa. Decerto o casal se pergunta quem pode estar mais são naquele momento.

Abaixo a cabeça e espremo os olhos por um instante. Não havia ninguém. Elena não esteve ali assim como não apareceu no quarto noite passada. Claude me olhou de maneira parecida e acredito que posso estar louca.

-Eu sinto muito pela preocupação. Eu... -Começo a me erguer, apoiando o corpo sob a palma das mãos. Levanto a cabeça e observo os semblantes confusos e alarmados de Hugo e sua esposa. -Vocês foram imensamente gentis em me ajudar e agradeço muito, mas preciso ir!

Enquanto corro de volta para casa, deixando olhares arrevessados e gritos vagos atrás de mim, vejo as lágrimas quentes resvalarem pelas bochechas. Os assassinatos, Victor, Isabel, Elena. Tudo aquilo contribuindo em peso para a degradação da minha saúde mental. Eu não sou louca, e sim, toda aquela situação. Preciso voltar à Paris, necessito conversar com Henri, com a Polícia, esquecer toda essa história de assassinato e rezar para que meu chefe ordene dezenas de reportagens sobre pães com mofos ou ovnis sobrevoando a Torre Eiffel. Apenas o que se torna vital nesse momento, é uma pausa de toda essa maluquice.

𝐎 𝐒𝐄𝐆𝐑𝐄𝐃𝐎 𝐃𝐄 𝐌𝐎𝐍𝐓𝐌𝐀𝐑𝐓𝐑𝐄Onde histórias criam vida. Descubra agora