𝐌𝐚𝐭𝐚𝐫 𝐫𝐞𝐪𝐮𝐞𝐫 𝐮𝐊𝐚 𝐝𝐚𝐬𝐞 𝐞𝐱𝐭𝐫𝐚 𝐝𝐞 𝐚𝐝𝐫𝐞𝐧𝐚𝐥𝐢𝐧𝐚

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Camille

Faz exatamente três dias em que permaneço atada na cama de um hospital

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Faz exatamente três dias em que permaneço atada na cama de um hospital. Procurei fugir inúmeras vezes pela janela do terceiro andar, mas Adèle me liga todas às noites fazendo com que eu cumpra a promessa de recuperar o corpo totalmente. Um dos veterinários que Hanna e eu costumávamos chamar em situações drásticas como essas, me visita duas vezes ao dia.

Nicolas aplica doses de adrenalina injetáveis vez ou outra ao me inspecionar. Em uma das ocasiões, toca o nome da minha antiga melhor amiga.

Engulo em seco e curvo as sobrancelhas para baixo, observando a seringa perfurar a pele. Bato as costas contra a cama à medida que sinto o líquido agir nos nervos, cerrando as mãos em punhos e levando um segundo para respondê-lo.

-Volk se foi. Tem um tempo. A perdi em meio à uma missão mal planejada.

Nicolas anui com a cabeça. Coça a barba rala por fazer e pisca os olhos amendoados.

-Eu sinto muito, Estivalet. Volk foi uma boa soldada. -Bate duas vezes no meu ombro e se levanta. -Se cuide. Não morra também.

Sorrio em resposta e ao acompanhar sua saída, retiro os acessos postos nas veias. Fecho a jaqueta até o pescoço e substituo o roupão do hospital por calças baggy de couro. Recolho a arma abaixo do colchão, retirando os curativos próximos da clavícula em consequência dos estilhaços da granada, e arrasto a janela.

A distância é no máximo de dez metros até o chão, porém tenho como escalar pelo encanamento de água ao canto esquerdo e me apoiar sobre os suportes de concreto dos ar-condicionadores.

Suspiro fundo e escalo. A dor ainda é nítida, mas suportável. Solto alguns palavrões conforme o ferimento no abdômen se contrai ao esbarrar contra a tubulação. Pulo sobre um dos suportes e em seguida me agarro ao parapeito da janela do segundo andar, tomo força e um pouco de distância, me preparando psicologicamente para o que viria adiante.

E segundos depois, em um ato único e pouco calculado, salto sobre a grama à uma altura de muito mais do que três metros. Minhas costas batem contra o mato recém cortado e vejo outra vez o sangue gotejar contra a sutura feita no abdômen. Segundos depois, graças ao efeito da adrenalina, me recupero e caminho até o estacionamento. Retiro a chave do bolso e aciono o Jeep. Acendo a luz interna do carro e vasculho, com a pistola ativada, alguma granada, bombas, ou outro membro da máfia escondido.

Após de fato ter feito a verificação adequada, suspiro contra o banco e olho para cima, permanecendo com a sensação inquieta de algo errado.

Examino os orbes. O porta luvas, o banco de trás, o painel e por fim abaixo o retrovisor. Recebendo de imediato um ataque cardíaco no segundo que a fotografia é jogada contra o meu colo. A recolho imediatamente, a respiração entrecortada. O coração pula descompassado dentro do peito e procuro inspirar e expirar com mais calma.

Não posso perder a cabeça agora.

Enquanto ajusto a visão juntamente com a luz interior do veículo, pisco diversas vezes ao me concentrar nos rostos.

Reconheço de primeira Hanna, alguns centímetros a mais que eu, o cabelo loiro palha preso em um coque alto sem nenhum fio aparente. Os olhos azuis penetrantes e ainda frágeis.

Naquela época.

Em seguida, visualizo o meu próprio rosto ao lado do seu. Vestíamos o conjunto azul escuro da academia, dentro da sala de treinamento, sobre o tatame. Meus cachos escondiam metade do rosto e eu sorria com o dentes para a câmera. Noto também a mão de Ed ao redor do ombro, o sorriso grande e gentil, como sempre havia sido em vida.

E no lado direito, posto próximo à Hanna, estava ele.

Ömer

Não havia sorriso. Os olhos azuis e ao mesmo tempo opacos, ocupavam metade do seu rosto na fotografia. O semblante cruel na outra metade. Seus dedos mal tocavam em Hanna, e essa foi a razão do sorriso dela não ter sido fotografado.

Suspiro fundo e vejo o verso da imagem.

Em caneta vermelha permanente, lia-se:

Eu sou a sua única família agora, Camila.

𝐎 𝐒𝐄𝐆𝐑𝐄𝐃𝐎 𝐃𝐄 𝐌𝐎𝐍𝐓𝐌𝐀𝐑𝐓𝐑𝐄Onde histórias criam vida. Descubra agora