27 - Alma Despedaçada

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CONTÉM GATILHO TEMÁTICAS SENSÍVEIS 


O som da água corrente e a sensação de paz. Yuki se via numa imensidão azul de água. Ela olhou ao redor e não via nada e por algum motivo que ela não sabia, conseguia respirar normalmente, na verdade era como se não sentisse nada. Ela tentou gritar, mas sua voz não saía. De repente, ao longe ela viu uma imagem familiar.

Ela tentou sair do lugar e era como se seus pés estivessem tocando o chão, mesmo que não houvesse nada abaixo dela além de água e azul. Ao se aproximar da imagem que via, ela viu a casa onde cresceu. Sua mãe já bem mais velha montando uma sombrinha, seu pai também mais velho escovando sua égua castanha que ela tanto amava. O jardim estava florido repleto de peônias, e o gramado na frente da casa nunca esteve tão verde. As folhas das árvores balançando devagar com a suave brisa daquele verão. Tudo ali era perfeito. O cheiro, as cores, a sensação de paz.

Yuki sentiu a grama macia embaixo de seus pés, a roupa antes surrada agora era um lindo quimono verde claro com desenhos de galhos de bambu. Seu cabelo estava grande, tremulando com o vento. Sua mãe sentada na varanda sorriu gentilmente.

— Bom dia minha filha, dormiu bem? Você parecia tão cansada ontem.

Yuki sentiu a garganta queimar e seu coração parecia que ia se partir a qualquer momento. Ela sentia lá no fundo da sua alma a vontade de gritar: "Mamãe, que saudade de você!". Seu pai também sorridente parou de escovar a égua e bateu de leve no pelo do animal.

— A Cacau está quase parindo! Eu acho que vai ser macho, o que você acha? Seja qual for o Kaname vai amar.

Ela então viu depois a cena que mais doeu em seu coração, correndo na direção dela um menino de cabelos pretos parecido com Itachi. Devia ter uns cinco anos brincando com um cavalinho de madeira. Os olhos do menino brilhavam como duas estrelas com o brinquedo.

— Mamãe! — O menino correu na direção dela e a abraçou fortemente. As lágrimas escorriam quentes no seu rosto e ela queria gritar o mais alto que podia. — Não chora não mamãe. Papai falou que volta logo, ele vai me ensinar a lutar com espadas. Até fez uma pra mim de madeira.

— Está chorando por que, meu anjo? Está em casa. — A mãe disse se aproximando da filha. — Estamos todos aqui. Está em paz.

Yuki apertou ainda mais o abraço em Kanami e desejou que aquele momento nunca acabasse. Que ela pudesse ser feliz ali com sua família. Que todos os sentimentos ruins fossem embora e não houvesse mais sofrimento. Desejou de todo o seu coração.

YUKI

O som de alguém chamando de longe soava como um pensamento distante. Ela resolveu ignorar. Tudo que ela queria estava ali. Tudo que ela precisava.

YUKI!

O som parecia se aproximar. Uma voz masculina vindo de longe. Mas ela não queria ouvir, não iria responder.

YUKI! ACORDA!

Kaname soltou-se do abraço e olhou para a mãe que chorava sem parar. Seus pais se aproximaram dela e tocaram seu ombro e ela foi envolvida num abraço pelos três. Naquele momento ela finalmente conseguiu falar.

— Eu não quero. Vocês são minha família.

— E sempre vamos ser. — A mãe acariciou seu rosto delicadamente.

— Não tem mais nada pra mim lá fora. Meu filho está aqui!

— Tem uma vida inteira, minha filha. Ainda é cedo demais.

— Mamãe! Papai! Kaname!

— Nós sempre vamos te amar.

Yuki sentiu seu corpo sendo arrastado violentamente para trás e tudo ficou branco e no mais profundo silêncio. Seu nome continuou sendo chamado de longe e a jovem abriu os olhos devagar e viu as estrelas acima dela e o barulho ensurdecedor da cachoeira. Sentiu o frio percorrer seu corpo, ela então tossiu e a água que estava em seus pulmões saiu em jatos.

A Concubina mais amada do Príncipe ItachiOnde histórias criam vida. Descubra agora