22- Sonhos e Oclumência

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 "Os habitantes de Little Hangleton continuavam a chamá-la de "Casa dos Riddle", ainda que já fizesse muitos anos desde que a família Riddle morara ali. A casa ficava em um morro com vista para o povoado, algumas janelas pregadas, telhas faltando e a hera se espalhando livremente pela fachada. 

 Outrora uma bela casa senhorial, e, sem favor algum, a construção maior e mais imponente de toda a redondeza, a Casa dos Riddle agora estava úmida, em ruínas, e desocupada. 

 As pessoas do local concordavam que a velha casa dava arrepios. Meio século antes uma coisa estranha e terrível acontecera ali, uma coisa que os antigos habitantes do povoado ainda gostavam de discutir quando faltava assunto para fofocas. A história fora requentada tantas vezes e enfeitada em tantos pontos, que ninguém mais sabia onde estava a verdade. Todas as versões, porém, começavam no mesmo ponto: cinqüenta anos antes, ao amanhecer de uma bela manhã de verão, quando a casa dos Riddle ainda era bem cuidada e imponente, uma empregada entrou na sala de estar e encontrou os três Riddle mortos. 

 A empregada saiu correndo morro abaixo, aos berros, até o povoado, e acordou o maior numero possível de pessoas. 

— Caídos na sala com os olhos abertos! Gelados! Ainda com a roupa do jantar! 

 A polícia foi chamada e Little Hangleton inteiro fervilhou de espanto, curiosidade e mal disfarçada excitação. Ninguém gastou fôlego em fingir tristeza com o que acontecera aos Riddle, porque eles eram muito impopulares. Os velhos Sr. e Sra. Riddle tinham sido ricos, esnobes e grosseiros, e seu filho adulto, Tom, era tudo isso em grau maior. A preocupação de todos que moravam em Little Hangleton era a identidade do assassino — pois não havia dúvida de que três pessoas aparentemente saudáveis não poderiam ter morrido, na mesma noite, de causas naturais. 

 O Enforcado, o bar local, faturou sem parar aquela noite; os habitantes do povoado apareceram em peso para discutir a matança. Foram recompensados por terem deixado o conforto de sua lareira, quando a cozinheira dos Riddle apareceu teatralmente e anunciou para o bar, repentinamente silencioso, que um homem chamado Franco Bryce acabara de ser preso. 

 — Franco! — exclamaram várias pessoas. — Nunca! 

 Franco Bryce era o jardineiro dos Riddle. Morava sozinho em uma casa malcuidada na propriedade dos patrões. Voltara da guerra com uma perna dura e uma intensa aversão por ajuntamentos e barulhos, e, desde então, trabalhava para os Riddle. 

 Houve um corre-corre geral para pagar bebidas para a cozinheira e ouvir maiores detalhes.

 — Sempre achei que ele era esquisito — disse a mulher aos ouvintes ansiosos, depois do quarto xerez. — Assim, antipático. Tenho certeza de que não ofereci a ele só uma xícara de chá, ofereci bem umas cem. Nunca quis se misturar, nunca mesmo. 

 — Ah — disse uma mulher sentada ao balcão —, mas ele passou muito sofrimento na guerra, e gosta de uma vida tranqüila. Isso não é razão... 

 — Quem mais tinha a chave da porta dos fundos, então? — vociferou a cozinheira. — Desde que me entendo por gente, sempre teveuma chave de reserva pendurada na casa do jardineiro! Ninguém forçou a porta ontem à noite! Não tem janelas quebradas! Franco só precisou entrar escondido na casa grande enquanto a gente dormia... 

 As pessoas trocaram olhares tenebrosos. 

 — Eu sempre achei que ele tinha um jeito ruim, e não me enganei — resmungou um homem junto ao balcão. 

 — Foi a guerra que deixou ele esquisito, se querem saber a minha opinião — disse o dono do bar. 

 — Eu disse que não queria desagradar a Franco, não disse, Dot? — falou uma mulher agitada a um canto. 

Harry Potter e o Lord Slytherin / DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora