08 - you are so lesbian

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⛧╾──╼⛧
BILLIE

MORALIDADE VAMPÍRICA

Ebonhart arranhou as palavras no quadro-negro e as sublinhou, para o caso de alguém não ter entendido. O som seco de pó de giz entre os dedos dela arrepiou os cabelinhos da minha nuca.

— Qual é a questão fundamental da moralidade vampírica? — perguntou.

Todos os nerds e puxa-sacos levantaram a mão correndo. Eu me afundei ainda mais na cadeira. Era uma injustiça tremenda as salas de aula de Harcote serem montadas em "estilo seminário", com as carteiras formando um semicírculo. Sem fileira do fundão, não tinha lugar seguro para cochilar.

Previsível, Ebonhart apontou para Dorian, um imitador de Drácula pretensioso que usava sempre roupas incompreensivelmente horrorosas. Naquele dia, parecia ter sacrificado aos deuses da moda o estofado de um pobre banquinho inocente para fabricar o colete cinza e granada. Dorian adorava se gabar por seu nome vir daquele Darian, Dorian Gray, pois seu pai tinha sido "amigo íntimo" de Oscar Wilde.

Se me perguntassem, era bem gay, mas ninguém perguntava.

— Seres imortais são capazes de ter moral? — disse Dorian.

Ebonhart concordou com a cabeça.

— Princípios morais humanos tradicionalmente partem da premissa de que todos os seres morrem. Alguém sabe dar um exemplo?

Ebonhart apontou para Chloe.

— A religião cristã — respondeu ela. — É baseada na ideia de que, seguindo um conjunto de leis morais em vida, na morte encontraremos recompensa ou castigo. O sistema não funciona para vampiros, pois não morremos.

— Bem colocado, srta. Ravenscroft. A moralidade humana depende de um sistema de regras que eles devem ser treinados para obedecer.

— Que nem adestrar um cachorro! — acrescentou Dorian.

Em resposta, alguns alunos riram, e o olho de Ebonhart tremeu. Ela odiava que falassem sem permissão.

Do outro lado da sala, Sam tinha parado com as anotações normalmente frenéticas, e estava perfeitamente imóvel. A maioria dos Sangue-Frescos não passava muito tempo entre humanos. Parecia que nossos pais temiam que, com excesso de exposição, esqueceríamos que éramos monstros mortos-vivos. A mãe de Sam, contudo, a mandara para a escola pública humana, apesar de minha mãe — muito generosamente , dizia — ter se oferecido para deixar Sam estudar com o mesmo professor que dava aulas particulares para mim e meu irmão mais novo. Aquele deveria ser o primeiro gostinho que Sam tinha de filosofia vampírica na vida. Ela ia ver o que era bom para a tosse.

— Qual é a implicação disso para a moralidade vampírica ? — continuou Ebonhart.

Nathan indicou que desejava falar. O Príncipe do Cabelo Macio nunca levantava a mão que nem o resto de nós. Em vez disso, punha os cotovelos na mesa e erguia dois dedos, como se Ebonhart fosse uma garçonete e ele estivesse pedindo a conta.

— Moralidade vampírica existe em um plano superior, pois não se baseia na ameaça de morte. Sabemos que não há vida após a morte, pois não há morte. Não tememos castigo futuro. Podemos tomar decisões com base em uma lógica superior.

Aí estava meu ponto de entrada na discussão.

— Se isso for verdade, que lógica superior é essa?

— Nesta sala, levantamos a mão para falar, Billie — Ebonhart me cortou, o olho tremendo.

Levantei a mão bem alto para dar a Ebonhart o prazer de apontar para mim.

SANGUE FRESCO, billie eilishOnde histórias criam vida. Descubra agora