23- kissing boys takes my breath away, literally.

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⛧╾──╼⛧
SAM

Deixei Nathan me conduzir pela escadaria do Salão Principal até o gramado, distante o bastante para ainda sermos vistos pelos professores responsáveis. O ar frio ardia, mas não serviu para relaxar o aperto no meu peito, nem a tensão na minha barriga.

Nathan tirou o paletó.

— Você deve estar com frio.

Ele cobriu meus ombros antes que eu tivesse a chance de dizer qualquer coisa, como se ele quisesse sair exatamente para fazer isso, e não porque eu estava ansiosa. Cheirava à loção amadeirada dele e, no fundo, ao seu suor.

Eu me obriguei a me concentrar nele. Eu costumava fantasiar com alguém com a aparência de Nathan— não exatamente, mas do mesmo tipo certo, como se ele tivesse saído de O morro dos ventos uivantes ou de uma propaganda de perfume masculino. Ele era bonito de um jeito impecável, requintado, e quase irreal. Pelo jeito que me olhava — que me olhara a noite toda —, eu sabia que, se eu permitisse, ele seria meu. Ao lado de Nathan, a vida em Harcote seria fácil. Eu teria um lugar na Vampiria. Nunca seria esquecida, nem deixada para trás.

No entanto, por mais que eu desejasse aquilo, não conseguia me convencer a desejar ele.

— Está se divertindo? — perguntou ele.

— Estou — falei, fraca.

— Fiquei muito feliz de termos vindo juntos. Todo mundo ficou chocado. Foi ótimo vê-los assim.

A reação de Billie no nosso quarto mais cedo, quando eu contara que iria com Nathan. A explosão brusca de decepção, de mágoa que ela tentara esconder.

Será que escapar com Chloe tinha sido uma espécie de vingança?

Não, que ridículo.

Os dedos de Nathan roçaram meu rosto, e ele levantou minha cabeça.

— Ei, tem certeza que está bem?

Procurei uma desculpa qualquer.

— Eu... eu estava pensando na minha cidade, na verdade. Acabei de notar que não vou poder ir ao baile de inverno nem de formatura com meus amigos esse ano.

Inesperadamente, vi tudo com clareza: Nathan no ginásio comigo, com Logan e Noah; Billie e eu dançando juntas, a mão dela na minha; Billie sorrindo, rindo, livre daquela carranca rígida que mantinha sempre em Harcote.

Nathan levantou a sobrancelha.

— Não me diga que você tem um namorado lá?

— Ah, não. Não quis dizer isso.

— Que bom.

A voz dele soou mais rouca do que um segundo antes. Notei que ele estava mais próximo do que estivera a noite toda, o rosto perto do meu. Eu sabia o que viria. Deixei ele prosseguir. Levantou meu queixo com os dedos, levou a boca à minha, e me beijou.

Fiquei de olhos abertos enquanto ele os fechou, e uma voz gritava na minha cabeça: aja normalmente, pense no que uma pessoa normal faria nessa situação, e faça isso.

Devagar, mexi a boca junto à dele.

Eu me forcei a fechar os olhos.

Nathan passou as mãos debaixo do paletó, os dedos gelados apertando a pele das minhas costas. Puxando-me para mais perto. A língua dele na minha boca. A minha, na dele.

Não senti nenhuma emoção, nenhum calor, nenhuma excitação. A única sensação que me tomava era uma espécie de entorpecimento desesperançoso. Parecia que eu estava fora de mim, vendo uma linda garota beijar um lindo garoto, como se fosse um filme e eu estivesse sentada nas poltronas de veludo vermelho, os tênis presos ao chão, vendo uma atriz que não era eu, que eu nem conhecia.

SANGUE FRESCO, billie eilishOnde histórias criam vida. Descubra agora