⛧╾──╼⛧
BILLIEFiquei sentada na cama com a cabeça entre as mãos, os dedos enfiados no cabelo, por mais tempo do que gostaria de admitir — muito depois do ruído dos saltos de Sam na escada acabar, do frenesi do térreo crescer e explodir pela porta, e da Hunter voltar ao silêncio. Eu estava me lamentando, e odiava me lamentar, e meu rosto estava manchado daquele maldito delineador que deixei ela passar em mim, mas não conseguia parar.
Que otária do caralho que eu era.
Todas as minhas barreiras deveriam me proteger dela, mas ela deu um jeito de atravessá-las, se esgueirando até meu coração. Eu me permiti acreditar que aquela sensação que eu tinha quando ela me olhava, como um balão de ar quente, era parcialmente porque ela não queria me aniquilar. Que ela não era que nem o resto dos alunos daquele colégio, provas vivas da teoria de que vampiros vendiam a alma ao diabo em troca da imortalidade. Então ali estava eu, de novo, como sempre: sozinha e me odiando por dar a mínima para a merda da Samantha Clarke.
Em minha — frágil, admito — defesa, fazia sentido achar que as coisas mudariam depois de Sam voltar da festa de Jude, destroçada e coberta de sangue seco. A Sam que eu conhecia, a Sam que eu não conseguia deixar de lado inteiramente, nunca teria se convencido a aceitar aquilo. Mas, agora, não só Sam ia ao baile com o maior cuzão de todos — com aquele topetinho idiota e aquela cara de desenho animado, ele parecia um jovem alcoólatra francês, o tipo de pessoa que passaria clamídia para metade da turma da faculdade e se recusaria a admitir —, como o faria para conquistar exatamente as pessoas que tinham montado aquela festa.
Passei as mãos pelo tecido azul esticado nas minhas coxas. Queria arrancar meus olhos só de pensar em como estive ridiculamente feliz meia hora antes. Como me convencera de que, se não fôssemos como um par, iríamos como amigas, e que isso bastaria. Que eu morava em um mundo no qual poderia entrar no Baile da Fundação, usando aquele terno, e não daria merda — que o que eu sentia era importante e que, pelo menos uma vez, eu me sentia bem. Que o filho da puta do universo me deixaria sentir aquilo por algumas poucas horas.
Se eu era alguém para Sam, era só outra pessoa que ela pretendia esmagar em seu caminho a passos firmes até o topo.
Vampiros eram assim — não podiam mudar, e sua natureza era egoísta. Eu sempre soube, mas, nas últimas semanas, ainda me permiti acreditar — esperar — que era possível ser diferente.
Passei os dedos pelo cabelo.
Eu iria ao baile. Não pela Sam — não por nenhum deles.
⛧╾──╼⛧
SAMO Salão Principal tinha sido transformado: os bancos foram removidos para abrir espaço para a pista de dança, os lustres refletiam luzes coloridas que formavam padrões estranhos no teto gótico e o baixo de uma música pop estava vibrando nas paredes esculpidas e elaboradas. Apesar de tudo, eu ainda senti aquela emoção cheia de expectativa ao entrar, como sentia nos bailes na minha cidade. Nosso grupo deu uma voltinha rápida no espaço para Jude, que fazia parte do comitê de organização do baile, mostrar as decorações que tinham escolhido com dificuldade. Desde que Nathan beijara minha bochecha, as meninas agiam como se as duas semanas anteriores nem tivessem acontecido.
Nós nos aglomeramos em uma das capelas escuras, e Cristen passou para o grupo um cantil de bebida que escondera no paletó. Ele não tinha falado comigo naquela noite — nem nunca, desde que eu o jogara comigo na mesa de vidro na festa de Jude. Quando aceitei o cantil de Chloe, Nathan me olhou interrogativo, mas eu virei a bebida na boca. O álcool estava quente do corpo de Cristen e me atingiu que nem ácido. Senti o estômago revirar, lembrando a última vez que sentira aquela ardência na língua, o som caótico do vidro estilhaçado, o fluxo quente de sangue pelas costas.
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SANGUE FRESCO, billie eilish
ParanormalSam Clarke e sua mãe são duas vampiras vivendo entre os humanos que precisam se esforçar para pagar as contas e comprar Hema, o sangue sintético caríssimo de que todos os vampiros necessitam para sobreviver, desde que a humanidade foi quase inteiram...