27 - it was all a setup

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⛧╾──╼⛧
BILLIE

Eu tinha passado horas pensando naquilo. Darius tinha mentido, e mentido, e mentido. Dissera querer um futuro diferente para a Vampiria, no qual pudéssemos ser livres, mas o que queria mesmo era um futuro em que podia voltar a se deleitar com sangue humano.

Vampiros eram todos iguais. Todos pensavam com as presas.

Só que isso não combinava com o Darius que eu conhecia. Eu queria que se encaixasse, mas não se encaixava, e aí eu me senti nojenta de novo.

Darius fizera eu me sentir menos sozinha ali. Fizera eu me sentir notada, de um jeito que mais ninguém me via. Aquilo não era mentira, mesmo que todo o resto fosse.

Se aquilo não era mentira, o que o resto queria dizer? Darius podia ainda ser uma boa pessoa se fizesse coisas terríveis em segredo? E podia ser má pessoa se fizesse coisas boas em segredo?

Eu queria o futuro que ele descrevera: um futuro em que a Vampiria não estrangulasse nossa vida, em que a DFaC não destruísse humanos, em que ninguém morresse como Darius e a coitada daquela moça.

Não chegaríamos lá se Ebonhart pusesse as mãos naquele HD. Eu não sabia o que estava nele, mas era importante o suficiente para Darius querer escondê-lo. Eu prometera que o protegeria. A expressão de completa decepção dele quando eu devolvera o HD ficaria para sempre marcada no meu cérebro como nossa última conversa. Eu não podia deixar por isso mesmo.

Foi assim que acabei subindo o campus. Estava frio, praticamente já anoitecendo, o inverno que sempre caía com tudo depois do Halloween.

Sam era uma presença quente ao meu lado.

Eu não deveria ter pedido para ela me acompanhar. Não deveria ter dito nada a ela. Era injusto que ela pudesse me magoar na noite de sábado e no domingo agir como se tivesse fortalecendo nossa amizade. Eu jurara que reconstruiria minhas barreiras com o dobro de força, mas, bem, minhas barreiras tinham apanhado muito naquele dia e, quando ela me olhara com o rosto ainda mais bonito pela preocupação e dissera nosso lema — sem segredos —, eu não tinha mais como resistir. Ela dissera que eu não precisava encarar isso sozinha, mesmo que precisasse, óbvio. Só que, de repente, eu não queria.

Queria encarar aquilo com ela.

O Prédio de Ciências, com seu projeto molecular horrendo, ainda não tinha sido trancado. Entramos de fininho e seguimos para a sala de Darius.

— Vamos ficar de olho nos serventes dessa vez — cochichei. — Ultimamente, parece que sempre tem algum à espreita.

Como se para provar o que eu disse, um servente apareceu no corredor, carregando uma vassoura, e me olhou de frente. Empurrei as costas de Sam e viramos a esquina para o corredor seguinte. Em poucos segundos, estávamos na sala de aula de Darius, e, antes de ter tempo de pensar, fechei e tranquei a porta.

— O que foi isso? 

— Tive um mau pressentimento — expliquei. Meu coração estava a mil.

Quando me voltei para a sala, perdi o fôlego. As luzes estavam apagadas, e o entardecer azul acinzentado jogava uma luz sinistra pelo ambiente. Não era justo. O que tornava mesmo o ambiente sinistro era o fato de eu ter encontrado dois cadáveres largados naquele mesmo pedaço de linóleo feito para esconder manchas. Os corpos não estavam mais lá, mas eu ainda conseguia sentir o volume, a forma, o cheiro, praticamente conseguia ver o pó cor de ferrugem do sangue seco nos rejuntes do piso. Queria sair correndo pela porta e fingir que nunca estivera ali. Em vez disso, dei a volta pelo local onde eles estiveram.

SANGUE FRESCO, billie eilishOnde histórias criam vida. Descubra agora