09 - reunionist

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⛧╾──╼⛧
SAM

A primeira reunião do Ação Climática Já! aconteceu no tempo de aula de sexta-feira que era dedicado aos clubes extracurriculares. Chloe não tinha exagerado: metade do corpo discente estava enfiado no auditório. Fazia sentido. Como seres imortais que não toleravam temperaturas altas, vampiros tinham muito a perder com o aquecimento global. Ainda assim, eu sabia com quem precisava me sentar.

Não era que eu me arrependesse do que dissera a Chloe. Ela não podia sair por aí chamando as pessoas de lésbica como se fosse uma ofensa, em vez de, tipo, uma característica a celebrar. Billie alegava estar bem, mas uma tentativa de humilhação era apenas um pouco menos humilhante do que uma humilhação bem-sucedida. Se os Sangue-Frescos de Harcote fossem que nem o pessoal de Sacramento, Chloe já teria sido excluída socialmente. No entanto, ali, se alguém fosse enfrentar consequências pelo ocorrido na aula da sra. Ebonhart, não parecia que seria Chloe. Era óbvio que ela seria importante em Harcote — e na Vampiria — ainda por muito tempo. Enquanto isso fosse verdade, eu precisava que ela gostasse de mim.

Para isso era necessário um pedido de desculpas sincero, e não apenas uma daquelas cartas da sra. Ebonhart.

Chloe e Jude estavam mexendo no celular quando me aproximei. Antes que elas pudessem levantar o olhar para me dar um gelo, eu me sentei e comecei a falar.

— Chloe, me desculpe pelo que falei na aula. Saiu tudo errado, e espero não ter te ofendido.

O olhar de gelo de Chloe me atingiu por cima do celular. Senti a mesma coisa do dia em que a conhecera, como se ela tivesse considerado me esmagar, mas decidido que seria mais divertido brincar comigo antes. De repente, ela sorriu e abaixou o celular.

— Ah, aquilo? Tranquilo. Não se preocupa.

— Sério? — insisti.

— Pra ser sincera, foi até meio engraçado — disse ela.

Eu não sabia se ela estava mentindo ou não.

Começou a reunião, e Chloe e Jude voltaram a mexer no celular. Na verdade, parecia que quase todo mundo no auditório estava fazendo lição de casa, batendo papo ou tirando selfies. Eu estava prestes a perguntar se o grupo organizava protestos nas greves pelo clima, mas, antes que conseguisse falar, os três líderes estudantis começaram a discutir quanta responsabilidade vampiros de fato tinham por mudanças climáticas antropogênicas, porque na verdade a culpa era dos humanos — afinal, não era mudança climática vampirogênica.

Chloe se aproximou de mim, apoiando o queixo na mão.

— Deu tudo certo com a mudança de quarto, né? Tudo tranquilo com a Billie?

— Com certeza — respondi rapidamente, pois não queria saber se ela estava perguntando se eu tinha surtado por minha colega de quarto ser queer. — Na verdade, a gente já se conhecia. Fomos amigas de infância.

— Que aleatório — disse Chloe, fascinada. — Vocês eram próximas?

Era uma pergunta simples, mas me deu um aperto no peito. Fazia tempo que eu tinha guardado as lembranças da minha amizade com Billie o mais fundo possível. Queria esquecer que ela me magoara, o que fizera — esquecê-la totalmente —, mas revê-la era como entrar em uma máquina do tempo. Eu não tinha esquecido nada: a forma como nossas barrigas doíam de tanto rir, sua tendência de me meter em encrenca, os olhares entre nós que eram um idioma inteiro, a sensação que brotou no meu peito quando prometemos: sem segredos .

Dei de ombros.

— Fazia séculos que a gente não se via.

— Tipo quanto tempo?

SANGUE FRESCO, billie eilishOnde histórias criam vida. Descubra agora