36 - ever and forever

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⛧╾──╼⛧
SAM

Billie tinha ido embora.

De novo.

Ela estava sempre fugindo, abandonando antes de ser abandonada. Era impossível alguém de fato ficar a seu lado.

Eu não podia fazer nada além de esperar que ela voltasse. Eu estava olhando pela janela do sótão, vendo a chuva e mordendo com força a bochecha, quando a porta foi escancarada atrás de mim. Billie estava inteiramente encharcada, o cabelo grudado no rosto, e pálida de frio. Meu peito pulou quando fui atingida como nunca antes — ou talvez porque eu nunca tivesse permitido — pela beleza absoluta dela: os lábios cheios curvando-se em um sorriso quase secreto, o leve arco das sobrancelhas escuras e marcantes, o brilho intenso nos olhos azuis que capturavam cada detalhe. Um sopro de vento frio entrou com ela no quarto, mas meu corpo foi tomado por um calor que só a presença dela conseguia provocar.

— Billie, eu...

Ela me interrompeu.

— Eu tenho que...

— Não, eu primeiro — insisti. — Passei horas pensando no que quero dizer. Eu vim para Harcote para tentar ser uma pessoa diferente. Era o que eu queria, e achei que fizesse sentido. Só que acabei perdendo a noção de quem eu era de verdade. Eu fiz muitas coisas das quais me arrependo. Mas a única coisa da qual não me arrependo, da qual nunca me arrependeria, é você.

"Você é a única pessoa nesse lugar ridículo que faz eu me sentir normal. Como se eu fosse a pessoa que devo ser... quer dizer, quem sou de fato. Você sempre enxergou através do meu fingimento, das minhas mentiras.

"É por isso que decidi que, se você está sendo expulsa, eu também vou embora. Sei que não parece que resolveria nada, mas podemos dar um jeito. Talvez você possa ficar com a gente em Sacramento. Você gostaria muito do pessoal. E basicamente todo mundo lá é queer."

Quando eu falava assim soava muito bobo, sendo que eu imaginara um grande gesto: nós duas, juntas. Billie estava só parada ali, a boca um pouco aberta, a expressão de que eu a deixara à deriva no mar.

Eu me aproximei um passo. Era melhor estar mais perto.

— Não posso sobreviver aqui sem você. Não entendo, agora, como imaginei que poderia. Nem entendo como passei os últimos três anos acreditando que te odiava. Você me lembra quem eu sou de verdade. Eu não vou abandonar você de novo.

O corpo inteiro dela estava tenso, como se algo que eu dissera a magoasse e ela estivesse se esforçando para não demonstrar. Ela coçou a sobrancelha e cruzou os braços com força no peito.

— Quer dizer, como amiga, né? — perguntou, cautelosa. — Quer ficar comigo, como minha amiga.

— Billie!

Ela continuou falando por cima de mim:

— Preciso que você me diga se for só amizade, porque não aguento mais. Eu prometi a mim mesma que diria isso, e não sei como você vai reagir, e talvez você me odeie... mas eu vou embora de qualquer jeito, e não quero me arrepender de nunca ter falado.

Ela apertou os olhos com força por um segundo, suspirou e encontrou meu olhar.

— Eu estou, tipo, completamente apaixonada por você — falou. — Sempre estive.

— Eu...

— Não, não diga nada. Por um segundo, tá?

Os olhos dela brilhavam de lágrimas, mas aos poucos surgiu um toque de alívio, uma leveza nela, como se tivesse passado tempo demais carregando aquele peso e pudesse finalmente aliviá-lo.

SANGUE FRESCO, billie eilishOnde histórias criam vida. Descubra agora