13 - Victor Castel

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⛧╾──╼⛧
SAM

No dia seguinte, depois das aulas, um helicóptero pousou no campo de lacrosse.

Um helicóptero.

Estava à minha espera. Bem, de mim e de Nathan. O piloto prendeu nosso cinto e nos entregou os fones de ouvido, e então subimos, subimos, e subimos. Fiquei com o rosto grudado na janela. Enquanto os prédios e as árvores do campus iam diminuindo lá embaixo, os outros alunos se viravam para o barulho, os cabelos esvoaçantes, acompanhando nossa subida.

— Dá pra acreditar? — perguntei a Nathan.

Pelo fone, eu soava um pouco ofegante. Ele me olhou de relance, com a compostura de sempre. Será que Nathan já ficara emocionado com qualquer coisa?

— É claro que sim — falei. — Você provavelmente vive voando de helicóptero.

— Pode-se dizer que já fui convocado, sim.

Ele voltou a olhar pela janela. Eu não sabia ao que se referia — não tínhamos sido convocados , Victor Castel queria uma reunião —, mas Nathan não elaborou. Pouco depois, descemos em um terreno residencial, o vento do helicóptero achatando o gramado verde e sacudindo os arbustos mais próximos.

Uma espécie de mordomo vampiro nos indicou o caminho, passando por uma quadra de tênis, o que parecia um labirinto de sebes, e uma piscina enorme alimentada por um chafariz chique, até uma casa tão gigantesca que nem era justo chamá-la de casa. Descemos por um corredor de mármore atrás do outro. Eu já tinha perdido a noção do trajeto e de quantos cômodos tinham passado quando pegamos um elevador para o segundo andar — que tipo de casa tinha elevador? — e fomos levados a uma biblioteca. Nathan, mais retraído do que nunca, não se sentou, então eu também não.

Estantes subiam até o teto, repletas de livros que pareciam legitimamente antigos. Uma parede exibia um quadro que parecia pertencer a um livro didático de história da arte. Olhei com mais atenção — talvez estivesse mesmo em algum livro de história da arte.

Claro que eu sabia que era pobre comparada aos outros alunos de Harcote. Era nítido em tudo que eles faziam, e não só na sala dos correios, sempre transbordando de compras que tinham feito na internet, ou no fato de trocarem de celular assim que a tela rachava um pouco. Era nítido na confiança que exalavam, na certeza com a qual nasciam e na qual nem precisavam pensar. Eu pensei que entendia de onde vinham, por causa dos anos passados com os O'connell, mas a riqueza de Victor Castel era tanta que fazia com que os O'connell parecessem humildes. Nathan ver aquilo tudo sem comoção, achar normal, deixava claro que havia todo um mundo de dinheiro do qual eu não sabia nada. Por algum motivo, isso tudo me parecia mais um teste no qual eu estava reprovando.

Até que a porta se abriu, e Victor Castel entrou.

Em uma primeira olhada, ele não era nada demais: apenas um homem mais velho com olhos fundos, vestindo um suéter de gola larga, alguém que eu poderia ter servido lá na lanchonete do clube. Ainda assim, ao mesmo tempo, a energia que emanava dele preenchia a pequena biblioteca até explodir. Era a energia suave e forte dos ternos discretamente caros, das viagens de helicóptero para fugir do trânsito, da autoridade de dizer está resolvido e ser verdade. Uma energia que poderia cortar os problemas da minha vida como uma faca afiada separando a gordura da carne.

Ele se aproximou de mim com passos largos e diretos. No caminho, sorriu, revelando presas compridas e estriadas.

— Você deve ser Sam Clarke — falou, estendendo a mão. — É um prazer conhecê-la.

Quando fui apertar a mão dele, me lembrei do que Jude dissera. Não podia demonstrar minha empolgação, nem que meu coração batia tão rápido que eu estava quase tremendo. Soltei minhas presas com a maior tranquilidade que consegui e entreabri a boca o suficiente para revelá-las.

SANGUE FRESCO, billie eilishOnde histórias criam vida. Descubra agora