18 - Crepúsculo

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BILLIE

Quando Sam acordou, tarde na manhã seguinte, eu já estava à escrivaninha há uma hora, de caneta na mão. Eu não era de escrever em diário, então era estranho, até emocionante, encher páginas de caderno.

Apontei para o copo na mesinha de cabeceira.

— Trouxe Hema para você.

Ela esfregou os olhos.

— Valeu. Eu provavelmente nunca mais vou pisar no refeitório.

Mordi a ponta da caneta.

As palavras de Darius estavam fervilhando na minha cabeça a manhã toda. Na noite anterior, eu duvidara dele. Duvidara de mim . Não sabia o que queria nem no que acreditava, e não achava que podia ser parte do que ele pedia.

Até que Sam chegara no quarto que nem uma princesa zumbi. Ela vira os amigos beberem sangue humano direto da fonte suculenta, e não pensara duas vezes. Não ficara parada, pensando no que acreditava, nem cogitando se estava pronta para se comprometer. Ela agira.

Eu a amava por isso.

Darius se arriscara para me mostrar que achava que eu podia defender uma causa. Eu sabia sem dúvida que, se ele tivesse feito o mesmo com Sam, ela teria aceitado na mesma hora. Mesmo se não se sentisse digna, nem entendesse exatamente como ajudar. Eu me arrependia de muitas coisas, mas não iria me arrepender de deixar aquela oportunidade passar.

Havia, no entanto, uma questão complicada: minha nova missão era tentar converter os Sangue-Frescos para o reunionismo. Eu não sabia se era mesmo possível. Sam era uma pessoa só. Nenhum dos outros vampiros na festa de Jude fizera nada além de rir da cara dela.

— Você acha que os Sangue-Frescos são uma causa perdida? — perguntei a Sam.

— Como assim?

— Lembra aquele debate na aula da Ebonhart, no dia que a Chloe me chamou de...

— Lembro.

— ... lésbica? A gente estava falando do que aconteceria se a DFaC fosse curada. O que você acha que fariam se isso acontecesse?

Ela soltou um suspiro exausto.

— Provavelmente fariam muito pior do que já fazem. Admito que você estava certa. Eles dizem ser os Melhores dos Melhores, mas são monstros absolutos.

— Mas talvez possam, tipo, evoluir? Mudar de ideia?

— Desde quando você se importa com fazer alguém mudar de ideia?

Ela se largou de novo no travesseiro e voltou a se cobrir.

Seria de se esperar que a prova de que meus colegas andavam chupando suco vital de veias humanas teria me convencido de que a missão de Darius tinha falhas irremediáveis. Sangue-Frescos estavam fazendo exatamente o que tínhamos esperança de que não fizessem. Estranhamente, porém, a confirmação de que não era apenas um boato me estimulava. Pelo menos sabíamos o que estávamos enfrentando. E era importante demais para desistir.

Arranquei a página do caderno, joguei-a na lixeira e comecei um segundo rascunho.

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Sam estava cumprindo a própria profecia de nunca mais pisar no refeitório — apesar de isso ser basicamente deixar o inimigo vencer —, então, quando chegou a hora do jantar, eu ainda estava responsável pela entrega de Hema.

Não me incomodava. Não que eu estivesse feliz de ver Sam triste, mas tinha passado o dia inteiro só com ela. Para alegrá-la, eu a fizera ver Crepúsculo , um filme tão heterossexual que até Kristen Stewart, um ícone lésbico, pagava de hétero. Mas fez Sam rir da pele cintilante dos vampiros e do estranho fetiche por beisebol em alta velocidade. Vê-la rir me atingiu com o choque de uma droga, mais forte do que a euforia de estar ao lado dela na minha cama, de ombros colados, joelhos encostados, o perfume de jasmim do xampu dela entrando pelo meu nariz.

SANGUE FRESCO, billie eilishOnde histórias criam vida. Descubra agora