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BILLIEFui levada a um laboratório de física no segundo andar. Alguém me deu uma manta, porque eu estava tremendo — e nunca imaginei que a palavra "abalada" pudesse ser tão literal. A manta estava do meu lado, em um banquinho. Não sabia o que fazer com ela. De onde viera? Quem a levara?
Queria voltar ao quarto e me encolher na cama até acordar desse pesadelo.
Darius.
Com seu bigode ridículo e suas calças cáqui engomadas, suas canetas retráteis e suas sinceras boas intenções. Sua fé boba na Vampiria.
Como Darius poderia morrer se alimentando de uma humana? Ia inteiramente contra o reunionismo. O cerne de seu sonho era que vampiros podiam ser bons, podiam se controlar, podiam viver com humanos como iguais.
Ele quase me convencera. Porém, na noite anterior, eu tinha acertado: não dava para confiar em vampiros. Não dava para confiar em ninguém. Só em mim mesma.
Esfreguei o rosto com as mãos e as afastei bruscamente. Olhei minhas mãos, buscando sangue nas linhas das palmas e ao redor das unhas. Eu não tocara em nada, mas sentia que sim.
Atherton chegou com Ebonhart. Ebonhart parecia ainda mais ressequida do que de costume, exceto pelo nariz, que estava rosado e escorrendo. A pele ao redor dos olhos dela estava repuxada, como se os músculos finalmente tivessem tremido tanto que congelaram no lugar. Ela estava de cabelo solto, o que eu nunca vira, nem na Hunter. Vê-la assim me assustou um pouco: a situação havia sido suficiente para perturbar alguém tão fria quanto Ebonhart.
Por isso, olhei para Atherton, que parecia muito melhor. A notícia da morte de Darius interrompera seu treino na academia. A cara de aspirante a playboy estava mais vermelha do que de costume, e ele usava uma espécie de camiseta justíssima de ginástica. Através do tecido, eu enxergava seus mamilos, o que a princípio quis apagar do cérebro, e depois não consegui parar de olhar.
Ele pegou um banco na minha frente.
— Você sofreu um grande choque hoje, Billie — disse, em um tom que fazia o pior dia da minha vida parecer um tropeço infeliz. — Deve ter sido muito incômodo.
— Ele morreu.
Queria que fosse uma pergunta, mas não era. Sabia que ele estava morto.
Atherton confirmou com a cabeça.
— Achamos que ocorreu ontem, durante o baile.
— Durante o baile? — gaguejei. — Mas ele estava lá. Eu falei com ele...
E depois ele voltara ao escritório para guardar o HD.
O HD que eu devolvera.
— Sei que isso é difícil. Mas eu... nós todos... — disse Atherton, com um gesto para a sala, apesar de só Ebonhart estar lá. — Nós achamos que seria melhor se você guardasse os detalhes para si. Não queremos que outros Sangue-Frescos saibam dessa notícia perturbadora por fofoca.
Como se os Sangue-Frescos não fizessem exatamente a mesma coisa que matara Darius.
— Pode fazer isso por mim? — perguntou Atherton.
Fiz que sim com a cabeça.
— Sei que é difícil aceitar — continuou ele, parecendo achar que sabia muito do que eu sentia. — Mas o sr. Darius estava enfrentando problemas com esse tipo de comportamento há algum tempo.
— Que comportamento, matar humanos?
Algo em mim resistiu à informação, como óleo na água ao se misturar ao meu conhecimento de Darius. Como ele poderia me dizer que acreditava que a Vampiria podia ser melhor, se era ele sua pior parte?
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SANGUE FRESCO, billie eilish
ParanormalSam Clarke e sua mãe são duas vampiras vivendo entre os humanos que precisam se esforçar para pagar as contas e comprar Hema, o sangue sintético caríssimo de que todos os vampiros necessitam para sobreviver, desde que a humanidade foi quase inteiram...