33 - finally the last time

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⛧╾──╼⛧
BILLIE

— O que você está fazendo aqui?

Abri os olhos e vi um teto pouco familiar — sem a inclinação do sótão, sem a bandeira colorida. O rosto de Chloe Ravenscroft  pairava bem no meio.

A sensação em meu corpo era como se eu tivesse passado a noite toda imitando uma postura de velociraptor, e todos os meus músculos estavam duros de cãibra. Tentei esticar as pernas e bati em alguma coisa dura.

Ah. É. Eu tinha dormido no sofá no salão da Hunter.

Depois da briga, a última coisa que eu queria era voltar àquele quartinho idiota no quarto andar com Sam, mas era o que tinha feito, porque eu morava lá. Toda vez que a olhava, mais uma bolinha de uma raiva estranhamente trágica saía quicando dentro de mim, que nem uma máquina de pinball. Eu tinha tentado estudar. Tinha tentado ver um filme. Finalmente, tinha tentado dormir. No entanto, as bolinhas daquela raiva estranhamente trágica continuavam a me torturar. Porra, como Sam podia ainda estar tão investida no Victor Castel, em Nathan, em Harcote? Como ela podia escolher aquilo tudo em vez de mim — quando eu estava ali, quando eu a conhecia?

Eu tinha ficado deitada, completamente acordada, no escuro. Tinha bastante certeza que Sam também estava acordada. Queria que ela quebrasse aquele silêncio ridículo de sono fingido mais do que jamais quisera que ela fizesse qualquer outra coisa. Queria que ela se explicasse.

Se desculpasse.

Prometesse que ficaria do meu lado.

O momento em que eu pensara naquilo era o momento em que abrira mão de tudo.

Sam nunca ficaria do meu lado — não do jeito que eu desejava, em que ela me amasse como eu a amava.

O tempo todo em que Sam estivera em Harcote, eu me iludira de que ela era alguém que não era. Eu me convencera de que ela estava fazendo pose para se encaixar, mas que a verdadeira Samantha Clarke era a pessoa que eu via por trás daquilo. Porém, não existia ninguém por trás daquilo, não havia nenhuma diferença entre quem ela era e quem fingia ser. Sam me mostrara quem era, de novo, e de novo, e eu a ignorara. Eu estava agarrada a uma fantasia.

De repente, eu não estava conseguindo mais piscar, respirar, nem existir no quarto com ela. Certamente não conseguiria mais dormir.

Eu descera para a sala de estar, pegara uma das mantas esfarrapadas e adormecera no sofá.

O sofá em cujo encosto Chloe estava debruçada.

— Se não me responder em dez segundos, vou chamar Ebonhart.

Eu me sentei. Músculos e articulações gemeram em protesto.

— Estou dormindo, caralho, o que parece?

— Tem algum problema na sua cama?

O dia ainda estava amanhecendo, e o brilho azulado iluminava a pele de Chloe, pálida como gelo. Ela parecia um anjo — o tipo de anjo que ainda podia entrar no paraíso, e não o tipo forçado a governar o inferno. Devia ser tão cedo que mais ninguém estaria acordada, pois, se não fosse, Chloe nunca estaria tão perto de mim.

— Me beije que eu respondo — sussurrei.

Ela virou o olhar azul brilhante para a escada por um instante, e levou a boca à minha. Eu me aproximei mais. Meu nariz estava cutucando a bochecha dela, e o dela, a minha, mas eu queria apenas a proximidade — como se parte de mim imaginasse que Chloe pudesse ser quem me tiraria do fundo daquele poço, se soubesse que eu precisava ser salva.

SANGUE FRESCO, billie eilishOnde histórias criam vida. Descubra agora